A intervenção era sobre políticas de Habitação, mas, como acontece ultimamente no universo do PS, o Orçamento do Estado para 2025 também acabou por se tornar assunto. Foi em resposta a uma pergunta de um dos alunos da Academia Socialista, que decorre em Tomar, que a convidada Ana Drago deixou clara a sua opinião sobre coligações autárquicas à esquerda: gosta muito da ideia, mas se o PS decidir viabilizar o próximo Orçamento poderá acabar com as hipóteses de a esquerda se entender.
Na rentrée do PS, a ex-deputada do Bloco de Esquerda, que faz parte da Associação Causa Pública (defensora de plataformas de entendimento à esquerda), começou por explicar que é “muito favorável” à ideia que Bloco de Esquerda e Livre têm defendido ativamente e que também ganha tração no PS: a esquerda deve entender-se previamente em autarquias que possa conquistar à direita, Lisboa à cabeça. “Acho que é fundamental”, confirmou Ana Drago.
O problema é que antes das autárquicas ainda virá aí um possível obstáculo para esses entendimentos: a votação do próximo Orçamento do Estado. “O que o PS decidir fazer na votação do Orçamento do Estado tem um enorme efeito naquilo que vão ser as negociações sobre as autárquicas”, avisou Ana Drago, perante a plateia de jovens socialistas (e de alguns dirigentes, como Duarte Cordeiro ou António Mendonça Mendes).
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Num momento que é de indecisão sobre o rumo que o PS deve tomar quanto a este documento, Drago prosseguiu: “Se o PS entender que o seu papel é viabilizar a governação de um Governo da AD, vejo com grande dificuldade que à esquerda haja uma tentativa de diálogo para a construção de coligações autárquicas. Porque a esquerda à esquerda do PS tentará fazer oposição e haverá dentro dos partidos enormes resistências a que haja frentes comuns com um partido que, na verdade, viabilizou o governo da direita que quer pôr o privado a tomar conta da Saúde, aliviar os impostos das empresas, aumentar a precariedade”.
Por isso mesmo, a antiga deputada bloquista disse “compreender que essa esquerda”, da qual já fez parte a nível partidário (saiu do Parlamento em 2013, tendo sido substituída por Mariana Mortágua, e voltou a ser candidata pelo Livre/Tempo de Avançar), “olhe para a questão do Orçamento para perceber qual é o seu espaço de diálogo com o PS”.
Os partidos concordarão: embora tanto BE como Livre tenham assumido claramente que gostariam de construir estas plataformas, tendo marcado reuniões com os outros partidos da esquerda, os bloquistas marcaram uma conferência nacional para o último trimestre do ano, precisamente para aguardarem pela decisão do PS a propósito do Orçamento — assim, poderão ter esse fator em conta nos próximos passos que decidirem dar, ao lado do resto da esquerda ou sozinhos.