Luís Montenegro exigiu esta quinta-feira um “cessar-fogo imediato e permanente” em Gaza e condenou “o uso excessivo da força” por Israel, assim como a “posição injustificada” do Governo Telavive ao considerar ‘persona non grata’ o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Esta posição do Governo português foi manifestada esta manhã, durante o debate preparatório do Conselho Europeu que decorre em Bruxelas entre quinta e sexta-feira. “É urgente inverter a escalada de tensões e a banalização da violência em Gaza”, defendeu Montenegro, considerando ainda “inaceitáveis os incidentes que têm provocado o ferimento de capacetes azuis nas missões das Nações Unidas no Líbano”.

O conflito israelo-palestiniano acabou por marcar grande parte do debate, com as bancadas mais à esquerda a exigirem uma posição mais firme do Governo português na condenação de Israel e com as bancadas mais à direita a defenderem o direito de Telavive em se defender das ameaças.

À esquerda, os socialistas pressionaram o Governo a comprometer-se com um prazo para concretizar o reconhecimento do Estado da Palestina — “ninguém compreende que se preconize a solução dos dois Estados mas apenas reconhecemos um”, chegou a criticar João Paulo Rebelo.

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Bloco de Esquerda, PCP, Livre e PAN exigiram que o Estado português defendesse ativamente o fim do acordo de associação entre a União Europeia e Israel, tal como o embargo total do envio de armas para Israel, referindo-se ao que está a acontecer na Palestina como um “genocídio” e um “massacre“.

À direita, o Chega, pela voz de Ricardo Dias Pinto, argumentou que “Israel trava uma batalha de viva ou morte contra as forças do obscurantismo religioso” e lamentou que a Europa esteja a “trair” Telavive quando combate os “inimigos do Ocidente”. Neste aspeto, Ricardo Dias Pinto tentou colar ainda Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiro, à agenda da extrema-esquerda, com declarações sobre Israel que “em nada são tranquilizadoras”.

Não criticando, naturalmente, a posição do Governo, João Almeida, do CDS, não deixou de sublinhar que Israel tem “direito a defender-se de ameaças terroristas” e uma solução de dois Estados pressupõe sempre a existência de “dois Estados livres”. “Um Estado capturado por terroristas não é um Estado livre. O que queremos é que esse caminho seja feito”, rematou João Almeida.

No final, em resposta às críticas que foi recebendo, Montenegro defendeu as posições assumidas pelo seu Executivo. “Quando nós somos aqui atacados de forma tão veemente pela extrema-direita e ao mesmo tempo pela extrema-esquerda sobre a nossa posição, isso significa uma coisa: estamos no centro, estamos na moderação, nem estamos num extremo nem estamos no outro. É o primeiro grande sinal do equilíbrio da posição portuguesa”, disse o primeiro-ministro.

O chefe de Governo não resistiu, ainda assim, a provocar a oposição. “Até fico um bocadinho estupefacto quanto, por exemplo, o PS, mas também o PCP e o BE – que foram cúmplices da governação entre 2015 e 2022 – nunca os vimos com esta veemência durante esses anos e já havia conflito no Médio Oriente e já havia tensão e já havia tentativa de reconhecimento do Estado palestiniano.”

Montenegro não se comprometeu, no entanto, com um reconhecimento unilateral do Estado da Palestina, recordando, apesar de tudo, que o Estado português votou a favor do reconhecimento da Palestina como membro de pleno direito das Nações Unidas. “Não é uma passo de somenos”, argumentou.

Quanto ao mais, o primeiro-ministro prometeu condenar ativamente todos os “atropelos aos direitos humanos” que aconteçam naquela região, sejam eles provocados por Israel, pelo Hamas, pelo Hezbollah e pelo Irão. A esse propósito, e apontando diretamente o dedo a uma parte da esquerda, Montenegro lamentou o facto de não ter assistido a uma condenação “tão firme” em relação aos “ataques terroristas” do Irão.