Parabéns a você. Mas a data, afinal, não foi querida. Era dia de 31.º aniversário e, talvez querendo jogar ao arrisca com a motivação, Julen Lopetegui cedeu. E deu um presente a Ricardo Quaresma: neste dia, e pelo menos antes de a bola começar a rolar, o extremo ia ser feliz. Ficou a saber que, mais de um mês depois, voltaria a ser titular no campeonato. E logo em Alvalade, frente às cores que o lapidaram para jogar à bola. Mas felicidades foi coisa que não teve.

E percebo-o logo ao fim de um minuto e 20 segundos de clássico. Umas quantas bolas pelo ar, chutões e ressaltos depois, o primeiro ataque do jogo com bola na relva e cabeça a pensar deu em golo. O bem redondo foi parar a Nani, o extremo tentou fintar, ganhou um ressalto e atirou um passe para dentro da área, na esperança de que Carrillo ligasse a corrida e lá chegasse. Resultou. O peruano sprintou, cruzou e cabeça de Jonathan Silva marcou.

Um a zero e golo. E logo um “tempranero [madrugador]”, como lamentou Lopetegui, no seu castelhano, após o jogo. Foi o primeiro de um argentino, o de 20 anos, ao segundo jogo a titular na esquerda da defesa do Sporting e na estreia em Alvalade — já marcara em Alcochete, no primeiro encontro que lá fizera na casa da equipa B dos leões. Festa, aplausos e um bom prenúncio, tudo nas barbas de Quaresma, um de 11 portistas que, na primeira parte, não souberam reagir. Fosse com destino a Brahimi, a Jackson, no trio de médios ou até a Quaresma, a bola, quando tinha viagens azuis e brancas por fazer, não chegava lá.

A posse de bola, a saída da defesa com ela e a troca constante de passes, trilogia do reinado de Lopetegui nos dragões, não funcionavam. O FC Porto não atinava, sim, mas, sobretudo, era o Sporting que não o deixava. Adrien e João Mário eram sombras de Rúben Neves e Hector Herrera, enquanto André Carrillo ia experimentando fintas em Alex Sandro e Danilo, de um lado ou outro.

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Aos 39’ praticou-as em Casemiro e Bruno Martins Indi, deixou-os deitados na relva e cruzou para Nani, que rematou para Fabiano defender. Antes, aos 15’, foi João Mário a também sentar Danilo, à entrada da área, e obrigar Fabiano a deitar-se para defender o remate que a seguir disparou. No último quarto de hora, como se esperava, o motor da pressão do Sporting começou a emperrar e o Porto já teve mais bola. E pronto, pois com ela nada de perigoso fez.

Na segunda parte, o filme foi outro. A película mudou. Primeiro, Quaresma ficou no balneário e o presente ficava por ali. Depois, porque para o relvado entraram Óliver Torres, o pequeno mago espanhol, e Cristian Tello, o extremo perito em arrancadas. Viu-se a diferença. Logo aos 46’ o homem emprestado pelo Barça lembrou a Cédric que teria de ter mais cuidado: deixou-o para trás e cruzou para a área. Três minutos depois, os centrais do Sporting erravam e deixaram Jackson fugir no meio deles. Brahimi atirou-lhe um passe, o colombiano correu com a bola e só o ombro de Patrício bloqueou um remate que ia para a baliza.

O Sporting abrandava. Agora havia Óliver a mexer, irrequieto a procurar a bola, e, com Tello numa das alas, era preciso que Adrien ou João Mário dessem uma ajudinha ao lateral que o tivesse que enfrentar. A pressão amainou. Os dragões, agora sim, tinham mais bola. E usavam-na.

Como o fizeram aos 56’, quando Jonathan Silva, na esquerda, deixou Tello à vontade, tanto que teve tempo para libertar Danilo, que cruzou a bola e expôs Naby Sarr ao erro — mais um, após a trapalhada de Maribor. Desta vez, o central francês meteu o pé à bola para cortar o cruzamento, mas só o conseguiu desviar para a própria baliza. Bola no ângulo e 1-1, graças a mais um espalhafato de um defesa central. Aos 61’, até parecia combinado: desta vez era Tello a cruzar para Sarr, praticamente da mesma maneira, desviar a bola em direção à baliza de Patrício. Vá lá que passou por cima da barra.

Nesta altura, o Sporting já só de vez em quando chegava à baliza de Fabiano. Aos 75’ era Adrien a cortar a bola e a rematá-la à entrada da área, fazendo-a passar por cima da baliza. Depois, Nani rematou. E só depois, aos 79’, veio o balázio de Diego Capel, que usou o pé canhoto (qual havia de ser?), à entrada da área, e pontapeou de primeira a bola rumo à trave de Fabiano. O jogo já fechava a pestana, mas não terminou sem que Herrera, aos 82’, concluísse um contra ataque ao pegar na bola, tirar dois da frente e o seu remate enviar a bola, com efeito, para a baliza, onde só não entrou porque Patrício fez a parada do clássico.

Ainda houve um remate de Jackson e, aos 92’, um egoísmo de Tello, que tinha Brahimi na área com espaço, mas preferiu desafiar Jonathan Silva para uma última finta antes de rematar ao lado. E pronto, acabou. O 1-1 foi teimoso até ao fim — foi a quarta vez que este resultado fechou um Sporting-FC Porto no século XXI — e ambas as equipas continuam assim com uma relação séria com os empates: para os dragões este foi o terceiro consecutivo na liga, e os leões somaram o quarto em seis partidas. Ao todo, e quando este clássico foi em Alvalade, este foi o oitavo empate desde 2001.

Para Sporting e FC Porto fica tudo na mesma. E arriscam-se a que, no sábado, vejam o Benfica colher os dois pontos que os rivais deixaram em campo aberto e caçar uma nova vantagem no topo do campeonato. E continuamos na mesma: não há um grande que vença outro nesta liga. Por enquanto.