A morte de um homem de 37 anos, negro, atingido esta terça-feira a tiro — e à queima-roupa — pela polícia dos EUA, está a reacender a discussão sobre a violência policial sobre a minoria negra. As autoridades federais — FBI e secção de direitos humanos do Departamento de Justiça — já anunciaram que vão investigar o caso.

O governador do Louisiana, John Bel Edwards, garantiu que o caso “vai ser completamente investigado, de forma imparcial e profissional. O vídeo é perturbador, no mínimo”.

Aton Sterling estava a vender discos, sem licença, à porta de uma loja em Baton Rouge, a capital do estado do Louisiana, quando foi baleado várias vezes pela polícia. Um vídeo, divulgado na Internet por uma testemunha, mostra o homem a ser imobilizado no chão e, já no chão, depois de um dos agentes exclamar “arma!”, Sterling é atingido por vários tiros à queima-roupa.

As autoridades receberam uma chamada anónima, via 911 (o número de emergência dos EUA), dizendo que havia um homem a vender discos ilegalmente em frente a uma loja de conveniência. De acordo com o dono da loja, Abdul Muflahi, os agentes dispararam primeiro um taser (arma de choques elétricos), e o homem ficou confuso. “Ele estava a perguntar o que tinha feito de mal”, disse Muflahi.

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O proprietário do estabelecimento esclareceu que Sterling nunca mostrou a arma aos polícias. “A arma nunca esteve na mão dele, nem a mão dele esteve perto do bolso”, explicou.

Na noite desta quarta-feira, centenas de pessoas concentraram-se no local em que Alton Sterling morreu, para uma manifestação contra a violência policial. A manifestação surgiu na sequência da reação de Hillary Clinton ao sucedido.

BATON ROUGE, LA -JULY 06: Protesters march to the convenience store where Alton Sterling was shot and killed, July 6, 2016 in Baton Rouge, Louisiana. Sterling was shot by a police officer in front of the Triple S Food Mart in Baton Rouge on Tuesday, July 5, leading the Department of Justice to open a civil rights investigation. (Photo by Mark Wallheiser/Getty Images)

Centenas de manifestantes mostraram solidariedade com a família de Alton Sterling, e recordaram o “homem dos CDs” (Mark Wallheiser/Getty Images)

“De Staten Island a Baltimore, Ferguson a Baton Rouge, muitas famílias afro-americanas choram a perda de um ente querido devido a um incidente envolvendo a polícia”, disse Clinton, citada pelo The Telegraph. “Algo está profundamente errado quando tantos americanos têm razões para acreditar que o nosso país não os considera tão preciosos como os outros por causa da cor da sua pele”, acrescentou. A virtual candidata democrata à presidência disse ainda que existem no país “polícias que demonstram como proteger o público sem recorrer à força desnecessariamente. Temos de aprender com esses exemplos”.

O “homem dos CDs”

Edmond Jordan, advogado da família de Sterling, explica que a vítima “era um homem respeitado, era querido na comunidade”. Alton Sterling era conhecido como o “homem dos CDs”. Vendia discos de música e DVDs à porta da loja, “com a permissão do dono” explicou o advogado à CNN.

“Não merecia o tratamento e a força excessiva exercida pela polícia”, considera Jordan, lamentando que a família de Sterling esteja “de luto pela perda desnecessária de uma vida”.

Abdul Muflahi disse que já conhecia Sterling há seis anos e garantiu que o homem nunca tinha estado envolvido em nenhum incidente. Apesar disso, Sterling já tinha cumprido pena por ter sido apanhado sob o efeito de marijuana na posse de uma arma. Estava em liberdade condicional. “Cinco minutos antes ele tinha entrado na minha loja para ir buscar alguma coisa para beber, e a brincar”, lembrou o dono do estabelecimento.

A autópsia revelou que Sterling morreu devido a “múltiplos tiros no peito e nas costas”, mas as autoridades recusaram revelar à CNN quantos tiros foram dados.

Os polícias que estiveram envolvidos no caso, Blane Salamoni e Howie Lake II, foram colocados em lugares de secretaria e terão sido interrogados ainda na terça-feira à noite.