“O mundo atual não é um mundo idílico, é um mundo multipolar de nacionalismos identitários. E a única parte do mundo onde as pessoas não têm orgulho da sua identidade é o Oeste da Europa. Só o Oeste da Europa é que continua a sonhar com o mundialismo, com o mito perigoso da globalização feliz… A globalização é um campo de batalha económica que só serviu para enriquecer os banqueiros”. As palavras são de Alexandre del Valle, intelectual francês (de ascendência italiana e espanhola) que há mais de 20 anos escreve sobre a ameaça islâmica e sobre os perigos da radicalização nas sociedades ocidentais.
Habituado à controvérsia, diz, numa entrevista exclusiva ao Observador, que se o “politicamente correto” vencer, “o futuro da Europa será este tipo de balcanização, todos a lutar contra todos, o caos – a consequência prática das ideologias multi-culturalistas que é preciso de travar”. Mas o autor, que outrora trabalhou para os serviços de informação franceses e ainda recentemente falou no Senado francês sobre o “perigo islâmico”, acredita que o politicamente correto não irá vencer “porque as pessoas estão fartas que as obriguem a odiar-se a si próprias“.
De resto, Alexandre del Valle, politicamente ligado ao partido de Sarkozy, lamenta que uma boa parte da esquerda esteja a “fazer o jogo” do islamismo radical. E recorda o que se passou no Irão para deixar um aviso à esquerda radical, sobre o “imperialismo muçulmano”: “Depois não esperem que eles vos agradeçam“.
O livro “O Complexo Ocidental – Pequeno Tratado de Desculpabilização“, editado em Portugal pela Casa das Letras, já está nas livrarias.
O que é este “complexo ocidental” que faz título do seu livro?
Ao longo da minha pesquisa sobre estes temas da islamização, o perigo islâmico, um dia, em conversa com um amigo, concluímos que o problema principal não é o Islão, ou a islamização. O verdadeiro problema, a fonte do problema, é um problema interno – é que o homem branco sente uma culpabilização pela colonização, pelas cruzadas e também pela Segunda Guerra Mundial e os totalitarismos de direita. Isso é normal, sentir culpa pelas coisas más que aconteceram no passado. Mas julgar o passado com os olhos do presente é estúpido.
Como assim?
A identidade do homem europeu não é, necessariamente, má. Existe uma generalização que diz que todos os homens brancos, todos os povos europeus, ocidentais, são os piores povos do mundo. E o homem europeu não é melhor nem pior do que os outros. Também os aztecas e os incas foram colonizadores, imperialistas, fizeram guerras. Também o mundo árabe quis colonizar todo o sul da Europa mas, estranhamente, nunca o povo árabe ou um governo de um país árabe pediu desculpa por ter colonizado Portugal, a Sicília (terra do meu pai). Nunca o império Otomano, turco, pediu desculpa por ter colonizado os balcãs, recorrendo ao esclavagismo tanto quanto o homem branco.
O Alexandre del Valle colecionou muitos críticos, ao longo dos anos, que consideram algumas das suas posições racistas. Como é que se defende dessa opinião?
O racismo, nessa perspetiva analítica, é universal. Qualquer homem ou mulher que tenha viajado, que tenha conhecido outras partes do mundo, sabe que é assim. Vá ao Japão, lá todos os estrangeiros são mal vistos. É um país muito racista. Também na China existe a visão de que o povo chinês é o melhor do mundo. Na Turquia, Erdogan comemora todos os anos a destruição de Constantinopla, que marcou o fim do império romano. Também os povos negros historicamente têm muito racismo em relação aos árabes e até entre diferentes povos negros.
Há racismo em todo o lado, mas é uma forma correta de estar no mundo?
Claro que não, mas só estava a apontar como não existe apenas racismo por parte dos povos brancos — aliás, foram o primeiro povo da Humanidade que tentou acabar com o racismo e com o nacionalismo radical, além de acabar com a escravatura. Mesmo assim, o povo branco continua a olhar para a parte negativa da sua história. Continua a existir escravatura em vários povos árabes, isso é permitido pela lei islâmica. O homem ocidental devia ser muito mais orgulhoso do seu passado.
Em que é que se manifesta, na sua opinião, no dia a dia, esse “complexo de culpa” – na política, na sociedade…?
Vou dar-lhe um exemplo. Esta semana fui ao Parlamento Europeu falar aos eurodeputados e vi na televisão uma peça jornalística muito negativa sobre a Hungria – só porque o governo da Hungria decidiu aumentar os apoios à natalidade, para incentivar as famílias a terem mais filhos. E muitos altos funcionários da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu comentavam que aquelas medidas lançadas na Hungria eram uma política muito perigosa porque poderiam acentuar o nacionalismo. Isto é incrível… só porque a Hungria decidiu privilegiar as famílias húngaras, em detrimento de aumentar a população importando mais imigrantes? As políticas de natalidade são políticas racistas? É totalmente estúpido. Somos o único povo do mundo que pensa que para ser anti-racista tem de fazer menos filhos e importar mais estrangeiros. É suicida.
Na sua opinião, essas medidas justificam-se?
A nova moda do politicamente correto é equiparar controlo da imigração com racismo. Os povos têm o direito de controlar os fluxos migratórios. E deixar que este complexo torne esta discussão quase “proibida” faz com que apenas os partidos de extrema-direita fiquem com a missão de defender as fronteiras. Passa a ser um exclusivo deles. Isso é muito perigoso, porque é um tema que contribui para a banalização da extrema-direita. Os partidos do centro também deviam defender a identidade e controlar os fluxos migratórios, caso contrário só os extremistas é que vão ficar com essa incumbência. Hoje é comum dizer-se que querer fronteiras é nazismo – o que é uma ignorância histórica inacreditável: Hitler não queria fronteiras, queria um império total. Quem lutou contra o nazismo foram os patriotas, mas o politicamente correto ‘manda’ as pessoas pensarem que patriotismo é racismo.
Mas qual é que é a sua visão do mundo, nos dias de hoje? Povos diferentes a viver em cantos diferentes do globo, sem misturas?
A minha visão do mundo é a visão multi-polar. Tivemos o fim do domínio do homem ocidental. Depois da Guerra Fria, a América foi o líder incontestável do mundo, fez tudo o que queria, guerras no Iraque, etc… Agora, isso acabou. Na Síria, a Rússia não quer aceitar o imperialismo ocidental. Agora, na Turquia, vemos um renascimento no nacionalismo otomano. Na América, Trump diz “America First” (América em primeiro lugar). Na China, Xi Jinping diz o mesmo. O mundo atual não é um mundo idílico, é um mundo de nacionalismos identitários. E a única parte do mundo onde as pessoas não têm orgulho da sua identidade é o Oeste da Europa. Só o Oeste da Europa é que continua a sonhar com o mundialismo, com o mito da globalização feliz…
O mito?
Sim, é um mito perigoso. Porque um trabalhador que perde o seu trabalho porque a China produz com menos taxas ou utilizando escravos não vai sentir-se bem. A globalização não é justa nem é feliz. O mundo novo é isto: um renascimento de diversos pólos, China, Turquia, Egito, Arábia Saudita, América, China… Todo o mundo entendeu que a globalização só foi boa para os banqueiros e para aqueles que não querem saber do povo para nada. A globalização não quer dizer fraternidade mundialista ou paz mundial – pelo contrário, é um campo de batalha económica terrível entre potências concorrentes.
Não referiu a Europa, quando enumerou os vários pólos…
A Europa é o bloco mais débil porque é aberta a todos. O único continente aberto a todos é o continente europeu. Veja o caso da proposta de fusão entre a [francesa] Alstom e a [alemã] Siemens, para criar um gigante mundial capaz de concorrer com os gigantes chineses e americanos. A fusão foi bloqueada pelas autoridades europeias, por receio de que poderia criar um monopólio! O único continente do mundo que impede a sua própria força, que faz leis contra si mesma, é a Europa. Na China, os monopólios são apoiados de forma protecionista! A América, com a Boeing, por exemplo, tem monopólios. Isto é um reflexo do que está mal na Europa.
“Temos de fazer a sociedade multiétnica funcionar. Não há alternativa”, defende Yascha Mounk
O seu livro “Islamização da Europa” foi um dos vários que geraram muita controvérsia. Qual era a tese central deste livro, para quem não leu, e porque é que foi criticado?
Foi criticado porque… Não quero parecer pretensioso ou orgulhoso, mas… Foi criticado porque há 20 anos que falo sobre o perigo islâmico e sobre o totalitarismo islâmico, fui o primeiro intelectual a fazer livros sobre isso, dizendo que a islamização radical não era um simples integracionismo, era um totalitarismo muito perigoso e que utilizava a culpabilização e o complexo ocidental como forma de penetração.
É contra a imigração de muçulmanos, frontalmente?
Não. Um imigrante muçulmano pode ser um bom português, pode ser um bom francês, desde que não seja instrumentalizado por forças radicais estrangeiras. Os governos europeus deixaram a Turquia, o Qatar e a Arábia Saudita instrumentalizarem cidadãos na Europa – pessoas que estão na Europa mas não têm um coração europeu. Querem fazer o que o Presidente francês Macron já chamou de “segregação islâmica”. Vá lá… 20 anos depois de eu escrever coisas pelas quais fui chamado de racista, hoje o presidente Macron, um moderado, diz o mesmo. Num discurso recente, Macron criticou esse separatismo islâmico. Mas agora vai ter um grande problema: milhões de muçulmanos na Europa estão a ser instrumentalizados por forças estrangeiras como as já referidas e, também, pela organização internacional que é a Irmandade Muçulmana, uma organização muito poderosa que conseguiu penetrar nas democracias do Ocidente com o apoio da esquerda.
A esquerda?
Sim. Os políticos de esquerda têm de compreender uma coisa: quando a esquerda se presta a fazer o serviço do islamismo radical, contribuindo para o auto-ódio do Ocidente, é bom que saiba que nunca o Islão radical vai agradecer-lhe isso.
Como assim?
Uma grande parte da esquerda está a fazer o jogo do Islão. Veja o caso de Khomeini, no Irão, que fez uma aliança com os comunistas para fazer a revolução islâmica no Irão. Quando a revolução foi feita, Khomeini mandou matar todos os líderes esquerdistas que tinham ajudado o islamismo radical. A esquerda europeia está a ser totalmente estúpida em ajudar a imigração islâmica e as forças de islamização radical. O islamismo é totalmente contrário ao progresso, totalmente homofóbico, totalmente racista contra os judeus e contra o Ocidente. É pior do que a extrema-direita – é imperialista, intolerante, e por isso falo de “nazismo islâmico”.
Fale-me um pouco sobre o seu percurso, como começou a interessar-se por estes temas?
Quando era jovem, trabalhei para os serviços de informação franceses, pouco tempo, fazendo relatórios sobre o perigo islâmico que já começava a infiltrar as democracias europeias e, em particular, França. Lembro-me de falar com um grande general das forças armadas francesas e ele dizia-me: “Agora, a culpabilização dos nossos povos europeus é a melhor arma para ajudar o islamismo imperialista”. O politicamente correto leva as pessoas a pensar: eu sou mau, a minha cultura é má, o outro é que é bom e a religião e a cultura do outro é que tem de ser preservada. É um sistema etno-masoquista.
Quando vê ataques como os de Nice, do Bataclan, de Barcelona, London Bridge, Borough Market, como é que os interpreta à luz da sua visão?
Antes de mais, sabemos que entre os terroristas que fizeram ataques em França, Alemanha, Suíça, Bélgica, Inglaterra e Espanha nestes últimos 15 anos… quase todos, 80%, podiam muito bem ter sido expulsos do país porque eram estrangeiros. Quase todos eram conhecidos dos sistemas de informação secreta. Quase todos. Estrangeiros com passado criminal que deviam ter sido expulsos…
Quer destacar algum exemplo concreto, de que queira falar?
Veja o atentado de Barcelona, em 2017. A polícia de Madrid queria há mais de 12 anos fazer expulsar o imã [que orquestrou o ataque] mas a polícia local, de Barcelona, não queria aplicar a medida de expulsão e os políticos de esquerda não quiseram expulsar um imã radical que já tinha cumprido pena. Em Nice, foi um estrangeiro, em Lyon, a mesma coisa… Quando os terroristas têm nacionalidade, francesa por exemplo, é mais difícil expulsar mas, pelo menos, as autoridades deviam ter mais meios para colocar essas pessoas na cadeia por muito tempo, afastando-as da sociedade. Eles são conhecidos por terem sido radicalizados, normalmente…
Mas o que se deveria fazer, concretamente?
Existe um laxismo judicial que permite que estas pessoas sejam libertadas, em dois ou três anos, gente muito perigosa, predadores. E os que não têm nacionalidade devem ser expulsos, sumariamente. Por exemplo, no país do meu pai – Itália – porque é que não há atentados terroristas? Porque a cada ano são expulsos mais de 100 imãs radicais. Imediatamente, a polícia italiana, que tem uma grande experiência com terrorismo, sabe que a melhor solução para não ter atentados é prender os cidadãos radicalizados e expulsar os estrangeiros. É facílimo expulsar estas pessoas perigosas, mas o Reino Unido, a França, a Alemanha, não fazem isso. Há muita gente perigosa a circular livremente nas ruas desses países, que pode cometer outros atentados.
Alguém dizia, depois de um dos atentados dos últimos anos, que a Europa, seguindo este caminho, vai ter de se habituar a ter um atentado, de tempos a tempos… Concorda?
Sim, porque só em França, no último ano, libertaram da prisão mais de 200 pessoas radicalizadas muito perigosas que estão muito próximas de grupos jihadistas. Imagine. Na Bélgica, a maioria das pessoas que foram treinadas na Síria e voltaram para a Bélgica não só estão livres como até estão a receber subsídios do Estado para viver. Passa-se o mesmo em França. Os países europeus sentem-se tão culpados que se pensa que alguém que foi radicalizado tem sempre uma desculpa: coitado, é pobre, foi discriminado, foi vítima de racismo, vive numa zona pobre, temos de o ajudar. E, do outro lado, temos pessoas que são treinadas para mentir, cuja religião diz que mentir a alguém de outra religião é uma coisa boa. É uma ameaça assimétrica, por pessoas que são capazes de ser muito perigosas e capazes de mentir e manipular. Um jihadista é capaz de jurar com a mão no Corão e dizer que já não é um radical.
Quem é Alexandre del Valle?
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Alexandre del Valle é um intelectual francês – escritor, académico, comentador político e ex-jornalista. Desde o final dos anos 90 que publica textos e livros sobre extremismo islâmico. No início da carreira, trabalhou nos serviços secretos franceses, onde se especializou nesse tema. A sua obra mais conhecida é “A Islamização da Europa”, em 2009, que fala sobre a evolução da Europa e da União Europeia no contexto dos desafios demográficos e migratórios. É convidado frequente não só nas televisões francesas mas, também, nos órgãos de poder: recentemente prestou mais um testemunho no Senado francês sobre os desafios do islamismo radical.
Em junho de 2017, após o ataque de Borough Market, visitei as comunidades muçulmanas de Londres e vi que a maioria daquelas pessoas estava com um profundo sentimento de tristeza, por todo o trabalho que fazem, a tentar manter os jovens a estudar… Depois há dois ou três que fazem uma coisa daquelas e… É impossível ter sociedades multiculturalistas em que estas pessoas são ajudadas a integrarem-se e a viver vidas melhores, ou é uma utopia?
É uma utopia. Repare no meu caso particular. Eu sou filho de migrantes: não tenho qualquer sangue francês. A minha mãe era espanhola e o meu pai cresceu na Sicília, Itália. Nenhum dos meus antepassados era francês, mas eu sinto-me muito francês. Adoro flamengo e adoro a Sicília, mas quando estou na esfera pública eu sou francês, sou leal a França, adaptei-me à legislação francesa. E também tenho de aceitar a história francesa, não peço a França que altere os seus livros de História, os manuais escolares, para agradar a minorias.
Não vê problema só no jihadismo?
O problema não é termos migrantes, o problema é que a esquerda está a ir na cantiga de aceitar que alguém, para não ser considerado racista, tem de aceitar a sociedade multicultural em que a consequência é termos zonas segregadas com as suas próprias leis, com as suas próprias escolas. Pode ser-se anti-racista mas patriota ao mesmo tempo: os imigrantes têm de se adaptar, não podem impor as leis nos países onde chegam. O governo britânico já tolera que existam alguns tribunais islâmicos no Reino Unido, que em temas relacionados com o casamento permite que se apliquem regras que são totalmente contrárias à igualdade entre os sexos consagrada na lei britânica.
Então como é que se podem integrar os muçulmanos nas sociedades ocidentais?
Cometeu-se um grande erro. Os nossos políticos, ao longo do tempo, erraram porque em vez de contribuir para que se criasse o Islão francês, o Islão inglês, o Islão espanhol, deixaram toda a responsabilidade de representação muçulmana a organizações ligadas a estados radicais, como é exemplo a Irmandade Muçulmana. Portanto, se queremos integrar os nossos irmãos, os nossos amigos, os nossos compatriotas muçulmanos temos de os libertar da influência daqueles que querem usá-los como ferramenta imperialista. Eu dou provas disso no meu livro, de como organizações como a Irmandade Muçulmana usam estratégias para tornar os imigrantes muçulmanos paranoicos, fazem as pessoas sentirem-se vítimas perseguidas pela sociedade que as acolhe. Macron disse isso mesmo: ‘Temos de libertar os nossos amigos muçulmanos’.
É uma posição que vai contra o que chama “politicamente correto”?
O “politicamente correto” tem o grande problema, nesta matéria, de querer fazer crer que a Europa é como a Argentina. Não somos como a Argentina ou o Brasil. Não somos um país onde todos os habitantes foram mortos. Não somos uma região vazia. Portugal existe há centenas de anos, não é um país que esteja aberto a ser colonizado por outra sociedade. Temos uma história, uma cultura, uma matriz religiosa – temos de aceitar os outros, mas os outros têm de perceber que não estão a vir para uma “terra de ninguém”.
Tem amigos muçulmanos?
Tenho ótimos amigos muçulmanos, não generalizo. Sou amigo do mais importante líder islâmico em França, Dalil Boubakeur. Ele, que tem raízes argelinas, disse-me numa entrevista que lhe fiz que “a situação é dramática”. Disse-me que os muçulmanos moderados estão a perder a batalha, estão a perder os jovens que vivem nos subúrbios. Não foi a Marine Le Pen que disse isto, foi Dalil Boubakeur, o líder da mesquita de Paris, um homem respeitadíssimo. O Ocidente, para combater a Rússia, fez acordos com os países radicais e hoje vendemos-lhes armas e eles vendem-nos petróleo – deu-se-lhes poder para hoje estarem a lavar o cérebro dos jovens para que estes não se integrem e que combatam as sociedades onde vivem.
O Alexandre já foi acusado de ter um discurso de ódio, designadamente pela extrema-esquerda?
Sim. A prova de que a esquerda radical está aliada ao islamismo radical é que todas as pessoas em França que atacam o islamismo radical são diabolizadas e insultadas. Não apenas eu, que venho do partido de Sarkozy, da direita. Até pessoas que vêm da esquerda e que hoje criticam o islamismo radical são insultadas e coladas à extrema-direita.
Em Portugal, estes temas têm sido muito falados sobretudo com a ida para o parlamento de um deputado que foi criticado por sugerir que também uma outra deputada, uma mulher negra, fosse devolvida ao “seu país” depois de ela sugerir que os museus nacionais deviam devolver os artefactos culturais às ex-colónias…
Não conheço bem o caso mas o que sei é que quando falo com intelectuais em Portugal – e até me recordo bem de uma reunião que tive com o ex-primeiro-ministro espanhol Aznar e ele disse-me: “Quando eu vou a França ou quando vou a Portugal, fico chocado porque as pessoas que se identificam com o centro-direita só querem agradar à esquerda. Os nossos países – Portugal e França – têm esse ponto em comum, tal como na Bélgica: ser de direita é pior do que uma vergonha, é algo insuportável. A direita não tem por que se sentir envergonhada. É preciso haver uma luta cultural por parte da direita, porque, caso contrário, mesmo que a direita chegue ao poder não terá capacidade para fazer frente ao politicamente correto.
Em Portugal, também?
O caso que contou, não estou totalmente familiarizado com ele, mas o que eu sei é que em muitos países ocidentais o politicamente correto está a fracassar. As pessoas estão fartas de serem obrigadas a sentir vergonha. As pessoas estão fartas de terem de criticar o seu próprio país, as pessoas estão incomodadas com aquilo que alguns fazem que é obrigá-las a pensar apenas no lado negativo da sua História. As pessoas não são masoquistas. As nossas elites esquerdistas, politicamente corretas, para elas é fácil ser assim: têm dinheiro, voam em primeira classe, vivem em condomínios em zonas seguras, essas elites não convivem com os problemas com que o cidadão comum se defronta todos os dias. As pessoas estão fartas do radical chic, para essas pessoas é fácil criticar os populistas mas eu desafio-os a ir viver em locais onde serão insultados só por serem brancos. Eu conheço muitos casos desses em França, mas também acontece na Bélgica e na Suécia.
É por isso que há alguns partidos mais extremistas a subir a lugares relevantes, no poder, na Europa?
Quem vota num partido como o Vox, por exemplo, não é necessariamente um extremista. Só está cansado de ser traído pelas lideranças políticas que temos tido. A ascensão destes partidos extremistas na Europa não teria acontecido se os moderados tivessem enfrentado os problemas de outra maneira, se não tivessem abandonado as pessoas. Os nossos políticos estão a permitir este discurso de que só porque fomos colonizadores temos uma dívida enormíssima a pagar. Aliás, nem todos os países europeus foram colonizadores. Portugal foi, Espanha foi, França foi…mas a Suécia não foi. E a Suécia tem um problema de imigração ainda maior do que nós, um país que é tão anti-racista que dá tanta ajuda aos estrangeiros.
Como é que a Suécia estará, daqui a uns anos, seguindo a mesma política?
Eu estive recentemente com um antigo colega, sueco, que conheci nos tempos em que trabalhei nos serviços de informação e que tem estado a estudar a Suécia. Disse-me que a Suécia está 10 mil vezes pior do que o pior subúrbio em Londres ou em Paris. No futuro, um país como a Suécia mas, também, parte da Bélgica, parte da Holanda, serão como os Balcãs. Haverá como que uma Bósnia, uma Albânia, a viver perto da Sérvia. Algumas pessoas serão ocidentais e ao lado outras pessoas serão completamente anti-Ocidente, a viver pelas regras da Sharia. Continuando assim, o futuro da Europa será este tipo de balcanização, todos a lutar contra todos, o caos – a consequência prática das ideologias multi-culturalistas que é preciso de travar.