Estudou nutrição no Porto, mas regressou à sua terra natal, Amarante, para iniciar o percurso profissional no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Aos 28 anos, Alexandra Bento candidatou-se à Associação Portuguesa dos Nutricionistas, que deu depois origem à Ordem dos Nutricionistas, criada em 2010. Foi eleita bastonária desde então, e está, desde outubro de 2019, no seu terceiro e último mandato.
Distinguir a profissão de dietista e nutricionista foi o seu primeiro desafio, seguiram-se outros, como provar a importância de um profissional especialista em alimentação numa escola, num lar ou num hospital. Taxar o consumo de açúcar, sal e gordura, contratar mais nutricionistas, apostar na literacia alimentar ou legislar as redes sociais são batalhas atuais, que não quer deixar pelo caminho.
Em época de pandemia, Alexandra Bento alerta para a dificuldade das famílias em aceder a alimentos saudáveis e equilibrados, devido à menor capacidade económica, e para o risco de desnutrição dos mais novos. Defende a urgência da retoma do funcionamento nos cuidados de saúde primários, o planeamento de uma estratégia alimentar para as escolas e a legislação e fiscalização do que se difunde nas redes sociais.
É a favor das máquinas de venda automática e rejeita retirar alimentos dos menus das cantinas, mesmo as carnes vermelhas. Esclarece mitos “milagrosos”, como o jejum intermitente ou a água com limão, e espera que todas pessoas “tenham a oportunidade de pelo menos uma vez na vida irem a uma consulta de nutrição”.
Está há 10 anos à frente da Ordem dos Nutricionistas. Que balanço faz?
É uma viagem encantadora e cheia de desafios. Estar à frente de uma associação pública profissional durante 10 anos, tendo sido a responsável pela sua criação, só pode querer dizer que confio neste modelo regulador. Entendo que é a melhor forma de salvaguardarmos aquilo que são os interesses dos nutricionistas e de todos os cidadãos. No meu primeiro mandato, o grande desafio foi unir a profissão de dietista e nutricionista, era algo necessário. Hoje é importante colocar os nutricionistas em lugares importantes para a sua realização profissional, mas sobretudo para a comunidade. Temos trabalhado para encontrar novas oportunidades, como o aumento destes profissionais nos cuidados de saúde primários ou em instituições que lidam com os mais idosos. A população está a envelhecer, não podemos negligenciar esse facto, se somos mais idosos quer dizer que chegamos mais à frente em termos de idade, mas chegamos carregados de doenças crónicas, isto exige a presença de nutricionistas nestas instituições.
Restam-lhe quatro anos de último mandato. Já pensou no que vai fazer a seguir?
Vejo-me dedicada a causas. A vida académica poderá ser uma das minhas preferências ou continuar no SNS, o meu lugar base. Também me imagino ligada a uma Organização Não Governamental, por exemplo.
Estamos a viver uma pandemia sem precedentes. Que papel pode ter a nutrição na doença e na cura?
Devemos pensar na nutrição para preparar e não para reparar, apesar de também o fazer. Em contexto de pandemia, a alimentação é ainda mais importante para nos dar a robustez necessária e gozarmos de um bom estado nutricional para termos a melhor saúde possível e lutarmos contra as adversidades, seja esta doença ou outras. Os grupos de risco para a Covid-19 são pessoas que, de maneira direta ou indireta, têm maus hábitos alimentares. É o caso de pessoas com obesidade, diabetes ou hipertensão, pois os idosos por si já podem ter doenças mais ou menos crónicas ou relacionadas com a alimentação. Isto leva-me a concluir que se tivermos bons hábitos, estaremos melhor preparados para ela.
A Unicef alertou que cerca de 7 milhões de crianças com menos de cinco anos em todo o mundo correm o risco de sofrer níveis perigosos de desnutrição devido à pandemia. Pode ser uma das consequências da Covid-19?
Esta é uma consequência indireta de uma doença com vicissitudes em termos económicos e sociais. É necessário refletir e transpor essa preocupação para os países desenvolvidos, como é o caso do nosso. O risco de desnutrição nos mais novos pode causar mais vítimas do que a própria doença, uma vez que eles não são considerados um grupo de risco. Com a pandemia, a taxa de pobreza nas famílias e a insegurança alimentar aumentaram e existiram cortes nos serviços de saúde, que agora exigimos que retomem.
Na elaboração de medidas contra o novo coronavírus em Portugal, sente que a Ordem dos Nutricionistas foi ouvida pela Direção Geral de Saúde?
Não só tivemos voz, como fomos um contributo importante, sendo muitas vezes os impulsionadores e a alavanca. A Ordem, em conjunto com outras, reuniu-se semanalmente, inicialmente com a ministra da Saúde e depois com secretário de Estado da Saúde. Encontros onde íamos motorizando a situação, dando as nossas sugestões daquilo que poderia e deveria ser feito.
Pode dar alguns exemplos concretos?
Como deveriam ser organizados o fornecimento de refeições hospitalares, por exemplo. A alimentação dos doentes nos hospitais só existiu porque houve nutricionistas que desde a primeira hora reorganizaram todo o serviço. Medidas como esta são negociadas com o ministério de Saúde e articuladas com a mensagem passada pela DGS. Estivemos também muito atentos a todo o circuito de distribuição de alimentos. Nos primeiros dias, com a corrida aos supermercados, onde muitas pessoas levaram mais do que o necessário, a Ordem demonstrou a sua voz ativa na comunicação social, tranquilizando e garantindo que tudo estava assegurado. Noutras alturas, propomos várias medidas que vão de encontrar aquilo que é a situação alimentar do país.
“Os senhores deputados não perceberam e chumbaram a taxação do sal”
Medidas como a taxação do açúcar produziram efeitos práticos?
Sim, tiveram consequências reais e estudos que provaram isso mesmo. Durante o primeiro ano de aplicação do imposto especial de consumo sobre as bebidas adicionadas de açúcar e outros edulcorantes, 2017, verificou-se uma redução de 11% no teor calórico médio destes produtos e uma diminuição de mais de seis toneladas de açúcar ingerido pelos portugueses, só por via do consumo destas bebidas, face ao ano anterior. A ação política tem que ser sempre baseada na melhor evidência científica e, de facto, as pessoas passaram a consumir menos açúcar. A medida foi avaliada e alterada, existindo atualmente vários pontos de corte, levando a própria indústria alimentar a reformular os seus produtos. Claro que a medida ainda não parou, tem que continuar a ser avaliada e alterada, caso seja necessário.
No caso da taxação do sal, o cenário foi diferente.
Sim, no caso do sal os senhores deputados da Assembleia da República não perceberam a importância da medida, chumbaram-na em 2017 porque, das duas uma, ou não estudaram devidamente o dossier ou não têm literacia suficiente para poder estudar o assunto. O dossier estava feito e bem feito, com uma base sólida, produzido por entidades que estudaram, investigaram e propuseram uma medida política. Ainda admitia que os deputados quisessem alterar ou adaptar, agora chumbarem porque sim e não perceberem que se perdeu uma oportunidade… No nosso país, quase 40% da população é hipertensa e está em risco para a maior causa de mortalidade que é a doença cardiovascular. É isto que os senhores deputados não perceberam, que a causa maior da hipertensão arterial é claramente sal. Espero que o ministério da Saúde dê folgo às medidas na área da alimentação e nutrição, pois neste momento tudo o que é política nesta área está hibernada por causa da pandemia. Percebemos isso, mas atualmente já não há justificação. É preciso avaliar o impacto que esta pandemia teve nos hábitos e nos comportamentos alimentares dos portugueses.
A dificuldade no acesso a uma alimentação equilibrada é um exemplo disso?
A DGS fez um estudo relativo à insegurança alimentar onde foi revelado que o acesso a uma alimentação saudável piorou durante o período em que estivemos em isolamento social. Se já tínhamos cerca de 10% das famílias a dizerem que tinham dificuldades de acesso a uma alimentação saudável e segura, nesta altura isso ainda piorou. Não é algo que nos espante, pois as condições económicas influenciam este tipo de escolhas. O estudo é apenas sobre os adultos, mas podemos inferir que as crianças deverão sofrer disso também e no caso delas a escola é um bom palco para a ação. Outro palco fundamental são os cuidados de saúde primários, temos que retomar o funcionamento deste serviço, é muito importante fazer a vigilância daqueles que são grupos de risco para Covid e não Covid.
Uma das suas bandeiras é precisamente a contratação de mais nutricionistas no SNS. O que tem sido feito para que isso aconteça?
Mantemos o mesmo número, com pequenas oscilações que em termos percentuais não fazem grande diferença. Em 2018, conseguimos que o ministério da Saúde abrisse 40 vagas para os cuidados de saúde primários, mas o concurso continua até hoje. Porquê? Porque durante anos e anos não foi aberto nenhum. É evidente que o número de candidatos é imenso e o júri, composto por três pessoas, tem de fazer entrevistas a mais de mil pessoas, o que torna o processo longo e demorado.
40 vagas são suficientes?
Nos cuidados de saúde primários, um nutricionista tem a seu cargo 86 mil utentes, a Ordem defende que, no mínimo, esse rácio deveria ser um nutricionista por cada 12 mil utentes. Nos cuidados de saúde hospitalares, um profissional é responsável 97 camas, o ideal seria um nutricionista por cada 50 a 75 camas, consoante a tipologia do hospital. Atualmente há cerca de 100 nutricionistas nos cuidados de saúde primários e 300 nos cuidados de saúde hospitalares, o que é manifestamente insuficiente. Já se passaram quatro anos desde a última projeção de recursos humanos em saúde e nada aconteceu.
Porquê?
Não é, com certeza, por falta de nutricionistas para aqueles lugares. É sobretudo por falta de vontade política, alguma inércia e alguma dificuldade na legislação atual. Quando um governante nos diz que os nutricionistas são importantes e têm que aumentar, mas depois estas afirmações não têm consequências, duvidamos de algum rigor naquilo que é dito. Quando se abre um concurso em 2018 com 40 vagas em que todos os admitidos têm que ser entrevistados, é preciso mudar a legislação para que os concursos sejam mais ágeis. Há também uma inércia entre aquilo que é a vontade política e aquilo que é a ação para a contratação de mais profissionais. A necessidade está identificada, lido com estas questões desde 1998 e já vai longe o tempo em que tínhamos que justificar a necessidade de existirem nutricionistas e a importância da nutrição para a saúde. Esse trabalho está feito. Hoje podemos dizer que a alimentação está na agenda das necessidades, temos é que acelerar os procedimentos, não só para bem os nutricionistas, mas para um interesse nacional.
Com a pandemia, essa necessidade tornou-se ainda mais evidente?
Sem dúvida. As doenças crónicas, como a obesidade, a diabetes ou a hipertensão, são uma das grandes ações dos nutricionistas. Com uma doença aguda como a Covid-19, a relação está mais do que provada entre a doença crónica e a doença aguda, por isso, continua a ser preponderante o papel do nutricionista enquanto agente de saúde pública.
A contratação de mais nutricionistas nas escolas é também uma das suas lutas. Em que fase está esse processo?
Acho que essa era a pergunta certa para fazer ao ministro da Educação. Ao longo dos últimos anos temos feito conjunto de trabalhos, quer de pesquisa, quer de trabalho científico e publicações, daquilo que achamos que deve ser a estratégia para a alimentação escolar. Temos vindo a apresentá-la a quem pode operacionalizá-la, não só na Assembleia da República, mas também no Governo. Resultados? O Orçamento do Estado para este ano prevê a contratação de 15 nutricionistas nas escolas. É caso para dizer “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.
É um número razoável?
É um número aceitável, mas insuficiente. Sete meses depois, entendo que não é o surgimento desta pandemia que pode impedir a contratação destes 15 nutricionistas, antes pelo contrário, tal ainda demonstra ainda mais necessidade.
De que forma?
As escolas estiveram fechadas e com grande dificuldade em encontrar uma solução para a alimentação das crianças. Não podemos esquecer que os alunos estiveram em casa a assistir às aulas de forma virtual, parados, diminuindo, assim, a sua atividade física, que só por si já é um problema. Existiram dificuldades na organização da alimentação por parte dos pais, alguns deles com carências económicas e com um sistema assimétrico de distribuição de refeições no nosso país. Entendo que possam haver respostas diferentes para problemas diferentes, mas o que tem de existir é uma estratégia nacional para a alimentação nas escolas, estejam elas fechadas ou abertas. Não sei o que irá ser feito em setembro sobre a alimentação escolar, talvez ninguém saiba. Estamos muitos preocupados, por isso mesmo andamos a tentar que o ministro da Educação nos receba, temos enviado missivas nesse sentido. Não se trata de uma tentativa de apontar o dedo, mas, por um lado, perguntar como está a situação da contratação destes 15 profissionais, por outro lado, disponibilizarmo-nos para auxiliar a estabelecer uma estratégia nacional. Apesar de não nos receberem, não estamos parados, criámos um grupo de trabalho na Ordem para delinear as supostas orientações da alimentação escolar, até para as darmos aos nossos colegas nutricionistas que possam estar a trabalhar em setores privados.
“A decisão de retirar a carne vermelha da Universidade de Coimbra foi radical e precipitada”
Os portugueses têm bons hábitos alimentares?
O que os dados nos dizem, é que há claramente um excesso de consumo de sal, açúcar e gordura na população portuguesa, por outro lado, há insuficiência de hortofrutícolas e leguminosas. Podemos dizer que os grandes vilões no nosso prato são o sal, o açúcar e a gordura, depois temos um grande erro que é a insuficiência de produtos de origem vegetal, como frutas, legumes e leguminosas, a par de um consumo superior àquilo que são as indicações das autoridades de saúde de carnes vermelhas. Não é que tenhamos um consumo excessivo das carnes no seu todo, mas temos um consumo excessivo de carne vermelha.
No ano passado, a Universidade de Coimbra aboliu a carne de vaca nas suas cantinas. É uma decisão correta? Que se devia multiplicar?
Essa questão foi um exemplo de quando queremos tomar uma decisão, mas a decisão não é boa. Não coloco em causa a bondade da medida e da intenção, mas quando o senhor reitor toma esta decisão não a toma consultando um conjunto de indivíduos que o poderiam auxiliar, mas com base num relatório da Organização Mundial de Saúde que apontava os malefícios do consumo excessivo, que também indicava a quantidade recomendada. A retirada de carne não tem nenhuma eficácia em termos de saúde, por isso foi uma decisão radical e precipitada. O senhor reitor deveria era colocar carne vermelha em determinados dias no mês, era necessário avaliar a ementa e perceber se a universidade dava realmente carne vermelha a mais ou não. Não podemos apontar baterias num ingrediente, porque num dia o problema é a carne vermelha, no outro é o glúten, depois são os ovos ou o leite. É necessário tomar decisões globais e não medidas isoladas.
Não é adepta de excluir ingredientes à partida?
De maneira nenhuma. Todos os alimentos podem e devem estar presentes na nossa alimentação, outra questão é saber qual é a conta, peso e medida. Não lhe posso dizer que o consumo excessivo de carne vermelha não é um problema, claro que é, e até há uma tendência para poder aumentar.
Como assim?
Se analisarmos os comportamentos e atitudes dos jovens, conseguimos identificar um conjunto de momentos em que comem com apreço produtos alimentares com carne vermelha, por aí podemos perceber que é um alimento considerado banal e bastante presente.
A preocupação com o impacto ambiental na produção alimentar pode reverter essa tendência?
O impacto ambiental dos produtos alimentares é trazido fundamentalmente pelos quilómetros que estes percorrem. Se analisarmos o impacto ambiental da carne barrosã com o da carne argentina, duas carnes vermelhas, é fácil perceber que uma tem um maior impacto do que a outra. Porque não casamos a saúde com o ambiente? Podemos fazê-lo recorrendo a produtores de proximidade. Tenho participado em discussões com a ministra da Agricultura e existe uma grande preocupação nesta matéria e inclusive uma estratégia do ministério com o setor produtivo, tanto agrícola como pecuário. Acredito que tenham que existir incentivos, tanto no aumento do conhecimento sobre quais são as práticas mais amigas do ambiente, como incentivos económicos para ajudar neste tipo de produção.
Há uma ideia instalada de que comer melhor e mais saudável é mais caro do que comer mal. É verdade?
Não é mais barato, pode é não ser mais caro. Muitas das pessoas que comem não saudável comem caro, mas também há muitas pessoas a comer com menos dinheiro e saudável. Comer bem não é barato, não posso comer bem com um euro por dia, posso fazê-lo com cinco, mas é difícil. O dinheiro para a alimentação é uma questão muito frágil, porque uns têm e dão-lhe prioridade e outros não. Alguns estudos dizem-nos que a maior parte dos agregados familiares deslocam para a alimentação cerca de 30% do seu rendimento familiar. Quem ganhar, por exemplo, 500 euros de ordenado fica com cinco euros por dia para a sua alimentação. Ora, para comer saudável com este valor é preciso ter muito conhecimento, muita literacia alimentar, muita capacidade de decisão e muita ginástica para o poder fazer. É possível, mas é difícil.
As máquinas de venda automática devem ou não existir?
Não vejo porque não. Tudo o que sejam opções para aumentarmos a acessibilidade de alimentos é positivo, desde que a oferta seja saudável e apelativa, e que isso não signifique vender coisas desinteressantes ou mais caras. Nos estabelecimentos do SNS, por exemplo, este tipo de máquinas com oferta mais saudável foi considerada um começo para que depois se pudesse progredir para outros locais. É necessário perguntar porque é que dois anos depois dessa medida ser implementada não se avançou nesse sentido? Ou será que os as pessoas que trabalham noutros sítios não têm o mesmo direito? Não se pretende retirar o direito de escolha, não podemos e devemos fazer.
Como avalia as dietas vegetariana e vegana? São completas o suficiente?
Gostava de ver uma tendência da população para o aumento de consumo de alimentos de origem vegetal e aumentar o consumo não é torná-lo exclusivo, pois quando isso acontece há um risco associado. Uma alimentação que seja de base vegetal é uma alimentação saudável, uma alimentação exclusivamente vegetal tem alguma deficiência.
Que riscos são esses?
Essencialmente riscos de carência nutricional, o défice de vitaminas complexo B, por exemplo. Além de que, em alguns casos, comer mais alimentos de origem vegetal significa colocar mais sal e mais gordura no prato, que não deixam de ser produtos de origem vegetal.
A suplementação alimentar é recomendável ou também apresenta riscos?
Uma alimentação saudável providencia todos os nutrientes que necessitávamos, claro que em determinados momentos da nossa vida em condições adversidade, pode ser necessária a prescrição de um suplemento. Essa prescrição só pode ser feita por profissionais de saúde, sejam eles médicos, farmacêuticos ou nutricionistas. No geral, o indivíduo deve ter muita reserva quando recorre a um suplemento alimentar.
Nos primeiros tempos da pandemia em Portugal, houve uma corrida às farmácias em busca de vitamina C, por exemplo, para um reforço do sistema imunitário. Isso é compreensível?
Neste momento de pandemia é preciso que as pessoas repensem a sua alimentação, façam uma análise do que comem e procurem informação em fontes credíveis, tendo nos nutricionistas essa ajuda. A alimentação tem, na sua base, tudo o que precisamos para termos uma vida saudável e equilibrada.
A nutrição tem sido alvo de várias modas, muitas delas partilhadas e alimentadas por influencers. A última talvez seja o jejum intermitente.
Há, de facto, um conjunto de estudos científicos que dizem que o jejum intermitente pode ter potenciais benefícios para um determinado perfil em determinada circunstância. É muito diferente de dizer que é um método fantástico, uma boa prática e que resulta para quem quer perder peso. Temos que saber ler a ciência e é difícil quando se vê um determinado programa de televisão ou de rádio com pessoas que têm responsabilidade porque são figuras públicas a afirmá-lo. Não sei se o fazem por dolo ou negligência.
Como se combate essa desinformação?
Com informação. É necessário aumentar os conhecimentos de todos os portugueses, para que possam desconfiar e questionar na hora de tomar decisões. O Estado não se pode demitir da responsabilidade de aumentar a literacia de todos os cidadãos, tem que fazer mais nesse sentido. Depois é preciso legislar e fiscalizar, os influencers são uma praga atual e temos que lidar com ela, não a podemos contrariar. Se há legislação para outras áreas da comunicação, porque não haver também para esta? As próprias plataformas também não querem difundir informação falsa e ainda que já estejam a ficar despertas para esse efeito, é necessário fazer muito mais.
Quais os maiores mitos da nutrição?
São mesmo muitos. O mito de que a água engorda é um falso conceito, porque a água não tem calorias. Diz-se que a bolacha é mais saudável que o pão, mas tudo depende dos ingredientes da bolacha e do pão. A água com limão logo pela manhã é interessante para nos hidratarmos, mas não faz disso uma solução milagrosa. Um nutricionista não recomenda essas coisas.