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O número 17 da Rua João Amaral onde tudo aconteceu
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O número 17 da Rua João Amaral onde tudo aconteceu

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

O número 17 da Rua João Amaral onde tudo aconteceu

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

"Como é que alguém dá assim uma facada a outro?" A rixa na Ameixoeira na noite em que Rodas morreu esfaqueado

Muitos moradores só souberam do crime de manhã. Na origem estará o momento em que a mãe do filho de Bruno, acompanhada de um homem, foi buscar a criança de três anos, que ficou ferida numa mão.

O ambiente era calmo na manhã desta sexta-feira junto ao número 17 da Rua João Amaral. O silêncio, apenas cortado pelos carros que passam pontualmente, contrasta com os “gritos” que vários moradores do bairro da freguesia da Ameixoeira ouviram na noite anterior, quando Bruno, um jovem de 24 anos, esfaqueou e matou um homem de 30. A vítima, relataram ao Observador, acompanhava a ex-companheira de Bruno no momento em que ia buscar o filho a casa do pai. A criança, de três anos, acabou por ficar ferida, mas sem gravidade, numa mão.

A maior parte dos moradores só soube do que se passou esta manhã. Rui, que mora no primeiro andar, onde a discussão começou, ainda ouviu os tumultos, mas “não passou cartão”. “Isto é hábito aqui nos prédios, muita algazarra à noite”, justifica. Luís, pelo contrário, estava a dormir e não se apercebeu de nada — “sou um chumbo” —, mas ao sair de casa pelas 6h ainda viu os rastos de sangue no corredor do prédio, que entretanto já foram limpos.

Os dois homens, que ao Observador dizem conhecer bem Bruno, descrevem o choque no momento em que souberam das notícias. “Este que cá veio com a ex-namorada do Bruno é que deve ter arranjado complicações”, acredita Rui. “Quem nos diz que não foi o outro que tinha a faca e que o Bruno lha tirou”, acrescenta. Outros moradores, porém, duvidam disso, descrevendo o vizinho como alguém problemático e que já tem estado no centro de outras confusões. “Aqui, ninguém gosta dele, nem as crianças”, comenta mais acima na rua uma mulher, que pede para não ser identificada. “Só quer fazer mal”, sublinha.

O homem acabou por ser detido pelas autoridades ainda na noite de quinta-feira. Já esta sexta-feira, Bruno foi presente a primeiro interrogatório judicial. Segundo avançou o Correio da Manhã, o tribunal determinou que ficasse em prisão preventiva.

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“Isto aqui tanto está tudo bem como de repente rebenta como pólvora”

A televisão está ligada quase no máximo quando Luís abre a porta ao Observador. À entrada chega o som da notícia que tem passado em repetição durante toda a manhã: um homem de 24 anos matou outro, de 30 anos, na Ameixoeira; a vítima foi esfaqueada em várias partes do corpo e o óbito foi declarado no local. Luís facilmente reconhece a porta vermelha do prédio onde vive em algumas das imagens transmitidas. Outras mostram o sangue que ainda se vê no chão do exterior, de quando a vítima terá tentado fugir. “Como é que alguém dá assim uma facada a outro?”, questiona-se.

O crime aconteceu na Rua João Amaral, na freguesia da Ameixoeira

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

O morador, que vive no prédio há cerca de 20 anos, revela que conhece Bruno há muito tempo. “Foi criado aqui pela avó, que morreu há coisa de dois ou três anos”, refere. Rui corrobora: “Vive aqui desde que nasceu. Toda a gente o conhece.” Explica que o jovem estava em prisão domiciliária com pulseira eletrónica depois de a ex-namorada o ter acusado de violência doméstica. Atualmente, partilhavam a guarda do filho, de três anos.

O momento da entrega do menor à ex-companheira terá estado no centro da “altercação” descrita por uma fonte do Comando Metropolitano de Lisboa à Rádio Observador, ainda na noite de quinta-feira. “Do que percebi, ela trouxe aqui o atual namorado para virem buscar a criança dele e depois houve ali problemas. Realmente ouvi barulho, que eu moro no primeiro patamar também. Só que isto é hábito, a algazarra e não passei cartão”, relata Rui, que só procurou inteirar-se sobre o que se tinha passado depois de um jornalista lhe ter batido à porta para o questionar sobre o assunto.

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Segundo o morador, esta foi a primeira vez que algo assim aconteceu entre as duas famílias no prédio: “Se houve outras divergências, aqui não foi, só se foi na casa dela”. Reconhece, no entanto, que já tinha havido problemas anteriores em que Bruno esteve envolvido. O episódio, que também foi confirmado ao Observador por outros moradores, passou-se “há cerca de um ano” e também envolveu alguns residentes do bairro de etnia “cigana”.

A maior parte dos moradores relatam que mal conheciam Bruno. "Só o via de passagem", diz uma mulher. "A mim nunca me faltou ao respeito. Entrava saía e ele era educado a falar. Agora as companhias que ele metia aí dentro ...", comenta outro.

Na altura, incendiaram uma moto em frente ao primeiro andar. “Foi uma vingança qualquer. Até os estores ficaram queimados”, acrescenta Luís. Esses foram reparados, mas ainda perdura uma mancha escura nas caixas do correio à entrada.

“Isto aqui tanto está tudo bem como de repente rebenta como pólvora”, descreve ainda Rui. Quanto aos acontecimentos da noite de quinta-feira, que estão a ser investigados pela PJ, diz apenas que acredita que Bruno terá sido provocado e questiona mesmo se não terá sido a vítima a trazer a arma usada no crime e que Bruno lha terá tirado. “Numa altura, tirou a caçadeira a um. Foi o pai que depois lhe disse para a entregar à polícia”, recorda.

Moradores dividem-se: uns falam de um homem “educado”, outros da “muita confusão” em que se envolvia

A maior parte dos moradores do prédio de seis andares ouvidos pelo Observador relatam que mal conheciam Bruno. “Só o via de passagem”, diz uma mulher do quinto piso cujos netos ouviram a confusão durante a noite. “Foi mesmo aqui?”, questiona incrédula uma vizinha do sexto andar, que não se apercebeu de nada na noite anterior. “A mim, nunca me faltou ao respeito. Entrava, saía, e ele era educado a falar. Agora, as companhias que ele metia aí dentro …”, comenta outro, cuja mulher ainda viu Bruno sair algemado pela polícia.

Esta sexta-feira ainda eram visíveis vários rastos de sangue na rua

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Mais acima na Rua João Amaral, uma mulher que vive no bairro há mais de 20 anos recorda que soube do sucedido quando o neto, de 12 anos, lhe foi bater à porta a dizer que a polícia estava a impedir toda a gente de entrar no prédio. “Depois começamos a ouvir dizer que estava uma pessoa morta. Mas não sabíamos quem é que o tinha matado. Só mais tarde viemos a saber”, diz outra vizinha a seu lado. “Nós somos ciganos, mas sabemos ver que não é com violência que se resolvem as coisas. É o saber falar e resolver de outra maneira. Que fossem para a polícia, que fossem para o tribunal, mas agora à violência não”, lamenta.

A mulher, que pediu para não ser identificada, diz que era frequente os desacatos provocados por Bruno com pessoas da etnia cigana. “Quando ele tem um problema aqui com um rapaz qualquer, sabe o que é que ele faz? Vai por trás chamar o pai, o pai vai chamar os amiguinhos e fazem confusão no bairro. Mas ele nem se engana que ninguém tem medo dele”, atira. Ambas dizem que o jovem era conhecido por “traficar drogas” e que estava envolvido em alguns casos em tribunal por conflitos com outras pessoas do bairro.

"Quando ele tem um problema aqui com um rapaz qualquer, sabe o que é que ele faz? Vai por trás chamar o pai, o pai vai chamar os amiguinhos e fazem confusão no bairro."
Moradora da Rua João Amaral

As mulheres ainda pensaram que os acontecimentos da noite passada tivessem resultado de um “ajuste de contas”. As notícias iniciais apenas davam conta de que teria havido uma altercação entre famílias. O Correio da Manhã avançou que a vítima, R.M., era conhecida pela alcunha “Rodas” e residia no Estoril, em Cascais.

Ao Observador, fonte do Comando Metropolitano de Lisboa confirmou já esta sexta-feira que o suspeito tinha sido detido, mas não adiantou mais pormenores. O Observador questionou a PSP e a PJ sobre o caso, mas até à publicação deste artigo não recebeu qualquer resposta.

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