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Da paixão por OVNIs ao desvio de um avião da TAP com apenas 16 anos. A história do “Piratinha do Ar”

O mais recente podcast do Observador conta a história de Rui Rodrigues, o jovem de 16 anos que em 1980 conseguiu desviar um avião da TAP. Esta é a história da série para ouvir em seis episódios.

3 de Maio de 1980. É esta a data que Renato Ventosa lembra como o dia em que não acreditou no plano que um dos melhores amigos lhe contou. Tinham apenas 16 anos e faziam parte de um grupo de jovens que estudava o avistamento de OVNIs. Foi num sábado à tarde, estavam em casa de Rui Rodrigues, quando Renato ouviu Rui revelar o que tinha preparado. Era a “Operação TAP” e tinha um objetivo muito simples: desviar um avião para Madrid.

Renato Ventosa não foi o único confidente do plano, mas nenhum dos amigos reunidos naquele sábado à tarde na casa de Rui no Feijó acreditou que fosse a sério. Ele não era criminoso. Nem sequer se metia em sarilhos. Aliás, nunca tinha dormido fora de casa. Nenhum deles tinha entrado num avião. Rui Rodrigues era apenas um jovem comum dos anos 80, que, como a grande maioria na altura, tinha curiosidade por fenómenos insólitos. Além disso, só tinha 16 anos. Todos os que ouviram a história acharam que estava só a falar por falar.

Rui até lhes mostrou a arma que pretendia usar para conseguir realizar o sequestro. Estava escondida numa gaveta e tinha sido encontrada pelo pai no banco de trás do táxi que conduzia. Mostrou-lhes também o bilhete de avião que já tinha comprado, um lugar para o voo 131 da TAP rumo a Faro. Mas nada os convenceu que aquilo era de facto a sério.

[Ouça aqui o primeiro episódio da nova série dos Podcast Plus do Observador “Piratinha do Ar”]

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Episódio 1: “O Sequestro do Voo 131”

Renato Ventosa disse ao Observador que todos acharam sempre que se tratava de uma brincadeira. Nesse mesmo sábado em que ouviram o plano, o grupo de amigos aproveitou a tarde para ir passear a Lisboa. Na travessia de cacilheiro fizeram aviões de papel e até troçaram com o que tinham acabado de ouvir. No barco ouviram-se piadas como: “Olha, eu também consigo desviar um avião”. A conversa caiu mesmo no esquecimento. Afinal quem poderia suspeitar que um jovem pacato do Feijó, com apenas 16 anos, tinha mesmo a intenção de desviar um avião cheio de passageiros para outro país? E que o tinha planeado ao detalhe.

O plano traçado ao pormenor

Mas o plano era real. Rui Rodrigues preparou ao pormenor a “Operação TAP” durante quase 4 meses. Nada poderia falhar. Por isso o jovem do Feijó começou por enumerar tudo o que precisava para colocar em prática o desvio de um avião da companhia aérea portuguesa.

Num caderno de linhas escreveu uma lista com uma série de objetos. Incluíam uma máquina fotográfica, flash e dois rolos. Mas também bússola, lupa, calculadora, pilhas, fio de nylon, fio de gravação, auscultador, caneta Parker, lápis, borracha, cassetes, chaves de parafusos, chaves de casa e um gravador de cassetes. E este seria o mais importante, porque seria lá dentro que a pistola iria escondida. Todas estas coisas tinham um objetivo específico. E todas elas seriam transportadas dentro de uma mala de viagem.

Rui Rodrigues também ia levar com ele uma série de documentos. Na mala havia ainda espaço para o passaporte, o bilhete de avião, o boletim de vacinas, revistas, dicionários de francês e inglês, um mapa mundo, fotografias dos amigos e da família, uma carteira com dinheiro e ainda alguns livros e folhetos da TAP.

No mesmo caderno de linhas, o jovem de 16 anos fez ainda uma lista de toda a roupa e todos os produtos de higiene que ia transportar — neste caso, dentro de uma mochila.

O bilhete de avião era para 6 de Maio de 1980. Apenas três dias depois de Rui Rodrigues ter partilhado a “Operação TAP” com os amigos. O voo era noturno, partia de Lisboa com destino a Faro, e ele sabia que ia cheio. Certificou-se disso mesmo antes de comprar a passagem, ao ligar para vários departamentos da TAP para saber qual o dia e a hora em que aquela ligação transportava mais passageiros. Afinal, quantas mais pessoas estivessem a bordo, mais reféns e maior a probabilidade de conseguir ver cumpridas as exigências que tinha para fazer.

[Ouça aqui o segundo episódio da nova série dos Podcast Plus do Observador “Piratinha do Ar”]

Episódio 2: “Emergência 7500”

A entrada no avião com uma pistola

É assim que manhã de 6 de maio Rui fica sozinho em casa. Tem um plano para colocar em marcha e sabe o que tem a fazer durante as próximas horas. É preciso arrumar todos os objetos dentro da mala de viagem e avançar com a “Operação TAP”. Não vai de boleia, para Lisboa, no táxi do pai com amigo Renato para a escola nesse dia. Aliás, já lá não põe os pés há algum tempo, mas ninguém sabe disso. Também se despede da mãe, mas ela nem se apercebe do beijo especial que recebe.

A meio da tarde, sai de casa e dirige-se para o Aeroporto de Lisboa. Tem consigo o bilhete e o passaporte e segue direto até à porta de embarque do voo 131 da TAP. “Bissau” é o nome do avião que nessa noite vai fazer a ligação Lisboa-Faro e a bordo vão estar 83 passageiros. Um voo cheio, ao final do dia.

Em 1980 a segurança dos aeroportos funcionava de maneira diferente. Em Portugal os detetores de metais só eram usados de vez em quando — e apenas para voos internacionais. Naquele dia Rui percebe que não está a ser feita qualquer revista aos passageiros. Por norma, apenas um ou outro, ao acaso, era escolhido para ser revistado. Mas nesse dia, nem isso.

Reportagem para o novo Podcast da rádio Observador “Piratinha do Ar”. Conta a história do desvio de um avião da TAP em 1980, feito por um miúdo de 16 anos que, com uma arma na mão, fez 82 reféns. José Correia Guedes, co-piloto desse mesmo voo, narra a história ao Observador e dá vida ao podcast. 23 de Maio de 2023 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Correia Guedes, o então co-piloto do avião desviado

TOMAS SILVA/OBSERVADOR

Ao perceber que isso pode facilitar uma parte do seu plano, Rui entra numa casa de banho do aeroporto, abre a mala de viagem e tira o gravador portátil.  Abre-o com a chave de parafusos. No interior está escondida a arma. Com apenas 16 anos, entra no avião já com a arma no bolso do casaco, sem levantar qualquer suspeita.

O lugar do jovem do Feijó é na parte de trás do aparelho, do lado esquerdo, junto ao corredor. Ao seu lado estão Vítor Azevedo, funcionário da TAP, e Pedro Ferin, controlador aéreo em Faro. Ambos viviam na cidade algarvia e tinham estado em Lisboa numa reunião para criar o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA).

Os dois reparam que Rui Rodrigues está nervoso, percebem que é a primeira vez que está dentro de um avião e perguntam-lhe se quer ligar o ar condicionado. O jovem responde que sim, mas continua a tremer e pergunta onde fica a casa de banho. Os dois apontam para os dois WC, um à frente e outro atrás, mas explicam que não é permitido ir antes do fim da descolagem. Só quando se apagar o sinal luminoso com a imagem do cinto de segurança.

Rui aguarda. Neste voo, para além dos 83 passageiros, estão também 7 tripulantes. No cockpit seguem o comandante Armando Coutinho Ramos, o co-piloto José Correia Guedes e o técnico de voo Carlos Silva Rodrigues. Junto aos passageiros estão Isabel Valadas, chefe de cabine, José Gomes, comissário de bordo, e as assistentes Helena Carvalho e Dores Pinto. Para todos eles este é um voo normal, dos que mais gostam de fazer, até porque a ida e volta ao Algarve dá para vir dormir em casa. Não podiam desconfiar que desta vez iria ser bem diferente.

Minutos depois da descolagem, chega finalmente o sinal que Rui Rodrigues esperava. O rapaz de 16 anos levanta-se e dirige-se de imediato para a casa de banho. Só que em vez de ir para a que está mais próxima, nas traseiras do avião, Rui percorre todo o corredor e entra na casa de banho junto ao cockpit. Este devia ter sido o primeiro sinal de alerta, mas na verdade ninguém nota. Vítor Azevedo e Pedro Ferin continuam a discutir a criação do SITAVA e mal dão pela sua saída.

O nervosismo continua, mas Rui sabe o que tem a fazer: sair rápido da casa de banho, entrar logo no cockpit e ordenar uma mudança de rota. Em 1980 as portas da cabine dos pilotos eram leves e ofereciam muito pouca segurança. Serviam apenas para efeitos de privacidade da tripulação. O jovem sabe disso e avança com o plano: em poucos passos entra no cockpit, fecha a porta e com a arma na mão esquerda, apontada aos pilotos, faz a primeira exigência: “Vamos para Madrid”.

Foi a primeira frase que José Correia Guedes ouviu Rui Rodrigues dizer. Ao Observador, o co-piloto confessa que nunca tinha pensado na possibilidade de ter o seu voo desviado, e lembra que a tripulação levou algum tempo a interiorizar aquilo que realmente estava a acontecer.

“Os senhores desculpem o trabalho que vos estou a dar”
Rui Rodrigues, o Piratinha do Ar

A primeira reação dos três homens no cockpit é tentar enganar o sequestrador. Enquanto o pirata lhes continuava a apontar a arma e repetia “vamos para Madrid”, o comandante Armando Coutinho Ramos reage primeiro: “Não temos combustível para ir para Madrid”. Mas Rui Rodrigues já esperava esta reação e responde: “Têm sim, que eu sei quanto é que têm nos tanques, quanto é que costumam abastecer”.

O avião inicia a mudança de rota para Madrid. O comandante está ocupado a operar o Boeing 727, o engenheiro de voo está atento ao percurso e às comunicações e é nesta altura que o Rui Rodrigues atira uma frase que ninguém esperava: “Os senhores desculpem o trabalho que vos estou a dar”. José Correia Guedes percebe então que este não é um pirata do ar comum.

O sequestro e o piratinha especial

Fora do cockpit, ninguém suspeita do que está a passar. O voo era curto, durava cerca de 50 minutos, e por isso pela janela já se começa a ver Faro. O avião começa a mudar de rota e o comandante tem que comunicar com os passageiros: “Por razões de ordem meteorológica não será possível aterrar em Faro”.

Hoje em dia os sequestros de aviões são raros, mas em 1980 existiam ainda com alguma frequência. Alguns anos antes, entre 1968 e 1972 eram muito comuns. Chegaram a ser registados mais de 300 desvios de aviões nos Estados Unidos da América. Ou seja, em média, era desviado um avião a cada cinco dias. O fenómeno chegou a ser descrito como uma epidemia e ficou provado que era contagioso. Por cada desvio bem sucedido que aparecia nas notícias, novos surgiam nas semanas seguintes.

Nalguns casos, os sequestradores exigiam dinheiro. Noutros tinham motivações políticas e o problema existia tanto nos EUA como na Europa — onde operavam alguns grupos extremistas, como o Baader Meinhof na Alemanha Ocidental e as Brigadas Vermelhas em Itália. Nos anos 80 pensar num sequestro não era de todo descabido.

Com o advogado que o defendeu

Lobo Pimentel Jr/Arquivo DN

Isabel Valadas, chefe de cabine, desconfia do que foi comunicado pelo comandante. Tentou entrar no cockpit, mas não conseguiu. Rui Rodrigues estava a bloquear a porta. Isabel pergunta que se estava a passar, mas não obtém resposta. Chega a suspeitar que algum membro da tripulação tivesse morrido, mas por não ter certezas e por continuar do lado de fora do cockpit, tenta perceber se faltava algum passageiro. É nesse momento que Vítor Azevedo e Pedro Ferin, de forma discreta, alertam para a ausência prolongada do jovem que estava sentado ao lado deles.

Por esta altura já o comandante do voo acionou o código 7500 — que serve para sinalizar um voo sob sequestro. Rui não se apercebe que o comandante deu o alerta e portanto não sabe que naquele momento, em Madrid, já as autoridades se tinha preparado para a chegada de um avião sequestrado e colocado as forças especiais a postos.

Em Portugal, Conceição Monteiro, secretária do primeiro-ministro, recebe um telefonema de Francisco Sá Carneiro com uma ordem: “Vá já para S. Bento. Foi desviado um avião da TAP para Madrid”. Há suspeitas de terrorismo e por isso o chefe do Governo reúne um gabinete de crise com o ministro dos Transportes, Viana Baptista e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral. Em Espanha também tocam os telefones na embaixada portuguesa em Madrid. João de Sá Coutinho, o embaixador, é convocado com urgência para a torre de controlo do aeroporto de Barajas.

“10 milhões de dólares? Mas a quem vais pedir esse dinheiro? A TAP está falida, ninguém te vai dar esse dinheiro”
José Correia Guedes, co-piloto do voo 131 da TAP

No cockpit, José Correia Guedes tenta manter um diálogo com Rui Rodrigues e lança a pergunta: “Então o que é que tu queres?”. Rui Rodrigues avança com as exigências: “10 milhões de dólares e um salvo conduto para a Suíça”. José Correia Guedes fica incrédulo: “10 milhões de dólares? Mas a quem vais pedir esse dinheiro?”. Rui não tem uma resposta imediata e solta uma primeira sugestão, “à TAP”. O co-piloto ri-se: “À TAP? A TAP está falida, ninguém te vai dar esse dinheiro”. O jovem de 16 anos fica atrapalhado e por isso questiona-o: “A quem devo então pedir esse dinheiro?”.

Nesta altura, o co-piloto acaba apenas por dizer que Portugal é um país pobre e que à noite os bancos estão fechados. É aí que o jovem toma uma decisão: “Vamos então pedir ao Governo” e insiste no “salvo-conduto” para a Suíça (um documento que na cabeça de Rui permitia que não fosse detido após sair do avião). A viagem continua até Madrid e minutos depois desta conversa, Rui Rodrigues lança uma nova pergunta inesperada ao co-piloto: “Acha que estou a pedir muito?”.

As negociações, cercados pelas forças especiais na pista de Barajas

O voo aproxima-se da capital espanhola, mas os passageiros ainda não sabem o que se está a passar no cockpit. A aterragem é feita em segurança e de imediato o avião é encaminhado para uma zona remota do aeroporto de Madrid. Pela janela, entre o escuro da noite, os passageiros começam a ver carros militares e homens fardados. As forças espanholas já aguardavam. Sabem que se trata de um sequestro e estão prontos para agir.

Estamos no início da década de 80 e Espanha convivia de perto com atentados terroristas. A ETA era uma ameaça permanente. A organização separatista exigia a independência do País Basco e não hesitava em recorrer à violência. 1980 foi mesmo o ano mais sangrento. 92 pessoas morreram na sequência de ataques atribuídos ao grupo separatista. Perante um avião que chega com aviso de sequestro, o objetivo é resolver rapidamente o problema.

Os passageiros aguardam por informações sobre o que está a passar e é o próprio Rui quem lhes conta: “Boa noite. Eu sou o Rui Rodrigues, peço que mantenham a calma. Estamos em Madrid e este avião está sob sequestro. Isto é um assunto entre mim e o Governo português”. A frase é recordada ao Observador por Correia Guedes e pelo passageiro Pedro Ferin.

Em Portugal a RTP interrompe a emissão para dar a notícia de última hora: “Um avião da TAP com 83 passageiros foi desviado para Madrid”. Na televisão e na rádio as atenções estão centradas neste caso. No Feijó, Renato Ventosa fica incrédulo: a história que ouviu alguns dias antes está a agora a ser contada na TV, só pode ser o amigo.

As negociações começam. Armando Coutinho Ramos, estabelece contacto com a torre de controlo onde está uma representação da embaixada portuguesa em Madrid, entre eles o embaixador João de Sá Coutinho e o secretário Luís Filipe Castro Mendes. O comandante do avião faz um ponto de situação e transmite as exigências do sequestrador. Nesta conversa, de forma discreta, refere que se trata de um jovem e pede que se evite uma intervenção armada. As autoridades espanholas aceitam. Temporariamente.

O julgamento

Lobo Pimentel Jr/Arquivo DN

O embaixador João de Sá Coutinho entra em contacto com Lisboa e transmite as exigências do sequestrador ao governo de Francisco Sá Carneiro.

Rui vai precisar de um plano B para o caso de as exigências não serem aceites. De repente, não sabe o que fazer. Está num avião cheio de passageiros e cercado por forças especiais. Não tem como fugir.

Vive-se um momento de impasse e José Correia Guedes procura a primeira cedência: libertar alguns passageiros. Rui tem dúvidas, mas está encurralado. Mas a situação descontrola-se. No entanto, todos o defendem, explicam que se trata de um jovem nervoso e que não será necessário uma intervenção militar.

O tempo continua a passar e o avião mantém-se estacionado no aeroporto de Barajas com dezenas de reféns. Nesta altura, há um passageiro que exige falar com o sequestrador. Apresenta-se como Thomas Hallberg, vice-cônsul da Suécia em Portimão, e quer saber se pode ajudar na resposta às exigências feitas. Os dois conversam durante alguns minutos e, no fim, Thomas Hallberg manda chamar para a torre de controlo o embaixador da Suécia em Madrid.

No cockpit, José Correia Guedes continua a conversar com o Piratinha, nome que já ganhou na televisão, que está cada vez mais nervoso. O co-piloto pergunta-lhe qual a razão para que um jovem de apenas 16 anos esteja de arma em punho, a sequestrar um avião, com dezenas de passageiros. Rui Rodrigues aponta problemas familiares.

Correia Guedes está a preparar um plano para resolver o problema e chama Rui para um conversa privada e apresenta o plano com quatro partes — nenhuma pode falhar para ser bem sucedido. A conversa leva alguns minutos. O Piratinha está hesitante, mas José Correia Guedes insiste em deixar sair todos os passageiros. Só com esse gesto de boa vontade é possível convencer os espanhóis que o Rui é um adolescente confuso e não um terrorista perigoso, disposto a matar.

“A garantia é que será tratado de acordo com as condições, com a sua idade, com as circunstâncias e com toda a humanidade. Mas também com a atuação necessária à prevenção de casos idênticos”
Francisco Sá Carneiro, primeiro-ministro de Portugal em 1980

O fim do sequestro e o regresso a Lisboa (enganando o espanhóis)

A “Operação TAP” chega ao fim com a vitória da tripulação. José Correia Guedes prometeu que tudo se vai resolver, mas sabe que, se o entregar agora aos espanhóis, vai quebrar essa promessa. Só há uma coisa a fazer, é arriscada, mas é a única hipótese de ajudar o Piratinha. O co-piloto e o comandante Coutinho Ramos assumem que é preciso enganar os espanhóis.

José Correia Guedes não esquece a grande mentira que pregaram às autoridades de Espanha. “Pedimos para nos meterem combustível, como eu disse isto era um voo doméstico, tínhamos pouco combustível. Eles acederam. O que eles queriam era verem-nos pelas costas o mais depressa possível. Lá fizemos as nossas contas, dissemos: metam não sei quantas toneladas, 3 toneladas, 4 toneladas. Eles ligaram os carros, abasteceram o combustível, tiraram a polícia dali e nós dissemos que íamos partir com um destino desconhecido”, conta.

Neste momento Francisco Sá Carneiro é entrevistado por uma equipa de reportagem da RTP e tranquiliza o país. Nessa intervenção, Francisco Sá Carneiro lança também o que pode acontecer a Rui Rodrigues: “A garantia é que será tratado de acordo com as condições, com a sua idade, com as circunstâncias e com toda a humanidade. Mas também com a atuação necessária à prevenção de casos idênticos”, assegura.

"Era um miúdo que ia sempre para casa a horas, nunca saia nem aos domingos nem aos sábados. Um miúdo muito aproveitado, nem calcula o que ele fazia lá em casa de serviços, trabalhos que uma pessoa até ficava admirada."
Idalina Rodrigues, mãe do Piratinha do Ar

Nesta mesma madrugada, a RTP entrevista Idalina Rodrigues, mãe de Rui, que não consegue perceber o que levou o filho a sequestrar um avião: “Tem 16 anos, eu não sei se ele foi mandado por alguém, se não foi, eu não posso dizer o que é. Era um miúdo que ia sempre para casa a horas, nunca saía nem aos domingos nem aos sábados. Um miúdo muito aproveitado, nem calcula o que ele fazia lá em casa de serviços, trabalhos que uma pessoa até ficava admirada. E não sei porque foi isto, não sei, não posso saber porque é que foi.”

A prisão ao lado dos piores criminosos do país e o julgamento

Rui Rodrigues acabaria detido. Nunca tinha estado preso, nem nunca tinha sido julgado, mas fica em preventiva e é transferido para o Estabelecimento Penitenciário de Lisboa, onde estão alguns dos criminosos mais temidos do país.

Quando é libertado, não regressa à escola e começa a trabalhar como jornalista, profissão com que sempre sonhou. Pelo meio recusou vários convites, para filmes e canções.

Nesta altura já a Justiça era lenta em Portugal e por isso só em dezembro de 1985, cinco anos e meio depois do desvio do avião, é que tem início o seu julgamento.  É acusado de pirataria aérea, roubo tentado e posse ilegal de arma. Arrisca uma pena máxima de 20 anos de prisão. As sessões do julgamento decorreram no tribunal da Boa-Hora e perante um país dividido entre os que pediam mão pesada e os que defendiam a liberdade de Rui Rodrigues. A sentença foi comunicada já em Janeiro de 1986.

Desde então Rui Rodrigues nunca mais deu entrevistas, não quis voltar a falar sobre o caso. 43 anos depois do desvio do avião da TAP, chega o novo podcast do Observador, que conta a história do “Piratinha do Ar”.

“Piratinha do Ar” é uma série com seis episódios para ouvir no site do Observador, na Rádio Observador e também nas habituais plataformas de podcast e no Youtube. Todas as terças-feiras é disponibilizado um novo episódio. O guião e as entrevistas são de Miguel Cordeiro. A sonorização e pós-produção áudio são de Beatriz Martel Garcia e a edição de João Santos Duarte.

Os Podcast Plus do Observador têm o apoio da Honda Automóveis.

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