Índice

    Índice

Desde a primeira edição, em 1999, o Festival Músicas do Mundo, entre Porto Covo e Sines, tornou-se um dos mais conceituados festivais de world music do mundo inteiro. Este ano, na 23.ª edição (seriam 25 não fossem os dois anos de interregno da pandemia), são 43 concertos de músicos de 27 países, da Arménia à Venezuela.

Carlos Seixas, o diretor do festival, diz ao Observador que o objetivo é continuar a “celebrar a diversidade” e a “combater o racismo, a discriminação, a xenofobia e a intolerância”. Nesta edição, o festival homenageia os “nossos países irmãos africanos”, com concertos dos seus “mais icónicos representantes”: Ghorwane, de Moçambique, África Negra, de São Tomé e Príncipe, Os Tubarões, de Cabo Verde, e os Super Mama Djombo, da Guiné-Bissau.

O festival arranca este sábado, 22 de julho, em Porto Covo, com concertos gratuitos até segunda-feira. A partir de terça-feira, instala-se no Castelo de Sines (com entrada paga) e no palco da praia (onde os concertos são gratuitos) até sábado. “Temos um público fiel, curioso e extremamente ativo”, continua o diretor do festival. Nesta semana de festival, são esperadas, tal como nos anos anteriores, perto de 100 mil pessoas no total.

Expresso Transatlântico, sábado, 22 de julho, 21h30

Portugal

Os Expresso Transatlântico são os primeiros a tocar no arranque do festival em Porto Covo, onde há concertos gratuitos de sábado a segunda-feira. Gaspar Varela, na guitarra portuguesa, subiu ao palco pela primeira vez aos 7 anos com a avó, Celeste Rodrigues, irmã de Amália Rodrigues. Agora com 19 anos, é ao lado do irmão, Sebastião Varela, na guitarra elétrica, e de um amigo, Rafael Matos, na bateria, que se apresenta no Festival Músicas do Mundo com os Expresso Transatlântico, “uma banda sonora de Lisboa com vista para o mundo”, como se descrevem. A banda, com um EP homónimo lançado recentemente, no final de 2021, foi criada entre Lisboa e os Estados Unidos. Na altura, Gaspar estava em digressão com Madonna e Sebastião e Rafael enviavam-lhe as primeiras malhas da banda do outro lado do Atlântico. Ter bandas portuguesas no festival sempre foi uma prioridade desde o início, afirma o diretor, Carlos Seixas. Além dos Expresso Transatlântico, o festival conta com artistas nacionais como Garota Não (quarta, 26, às 18.00), Carminho (quarta, 26, às 21.00), Rita Braga (quinta, 27, às 16.30), Rita Vian (quinta, 27, às 18.00), Tó Trips (sexta, 28, às 18.00), com o quarteto de Maria João e Carlos Bica (sexta, 28, às 21.00) e, no último dia, com B Fachada (sábado, 29, às 18.00).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Chico César, segunda-feira, 24, às 22.45

Brasil

Chico César, um dos destaques da programação do festival deste ano, toca em Porto Covo, num concerto gratuito na segunda-feira, um dia improvável para um dos grandes nomes da música brasileira. O músico, que começou por estudar jornalismo, esteve no festival há pouco tempo, em 2019, antes do interregno de dois anos durante a pandemia. Regressa agora com uma nova desculpa, o álbum Vestido de Amor, o seu décimo, lançado em 2022 e gravado em Paris, uma reflexão sobre o mundo atual, os seus “perigos e promessas”. A música brasileira continua em grande na edição deste ano. Na terça-feira (19h30), há um concerto especial da Orquestra Maré do Amanhã, projeto que envolve 4200 crianças do Complexo de Favelas da Maré, do Rio de Janeiro. Na quinta-feira (21h00), é a vez dos Gilsons, trio formado em 2018 por três familiares de Gilberto Gil (José Gil, o filho, e Francisco e João, os netos). No último dia do festival (29, sábado, às 21.00), a cantora Céu dá um ar da sua graça, 13 anos depois de ter estado no festival pela última vez.

La Chica, domingo, dia 23, 22h45

França/Venezuela

No segundo dia de festival, um domingo, La Chica, projeto de Sophie Fustec, filha de mãe venezuelana e pai francês, promete conquistar Porto Covo com o seu teclado e o seu caldeirão de influências (por exemplo, The Roots, Debussy, Radiohead, Beatles ou Juana Molina). Em 2019, lançou o primeiro álbum Cambio, um disco de contrastes inspirado no mundo real, como a crise na Venezuela. O sucessor, La Loba, de 2021, num tom mais melancólico, foi marcado pela morte do irmão (que aparece na capa do disco). Segundo o jornal britânico The Guardian, La Chica será a “próxima estrela pop de outro mundo, pronta a levantar voo, com vassoura e tudo”.

Lila Downs, quarta-feira, 26 de julho, 22h30

México

Chavela Vargas nomeou Lila Downs a sua sucessora artística, com todas as responsabilidades que isso implica. A cantora mexicana de 54 anos é multifacetada. Além de cantora, produtora e compositora, também é atriz e antropóloga e canta em vários idiomas, incluindo línguas indígenas como o zapoteco, idioma da sua mãe. A mistura também se arrasta aos estilos musicais, com uma combinação de géneros como a cumbia, o jazz, a música ranchera ou o hip-hop. Obama convidou-a para a um concerto de homenagem à música latina quando era presidente. Antes disso, a cantora de Oaxaca já tinha dado nas vistas internacionalmente quando fez parte da banda sonora do filme “Frida”, sobre Frida Kahlo. A canção “Burn It Blue”, com Caetano Veloso, esteve nomeada para um Óscar e foi apresentada ao vivo na cerimónia. Em Portugal esteve pela primeira vez em 2003. Vinte anos depois, regressa com seis Grammys latinos e um Grammy americano no bolso. Do México, também Silvana Estrada, Artista Revelação dos Grammys latinos” com Marchita, de 2022, atua no sábado, às 22.45.

África Negra, quinta-feira, 27, 02h15

São Tomé e Príncipe

A edição do festival deste ano homenageia a música “dos nossos países irmãos africanos”, sublinha o diretor do festival. De São Tomé e Príncipe, os África Negra regressam ao Castelo de Sines, depois de uma passagem pelo festival em 2014, na altura com o vocalista João Seria, o “General”, como se autointitulava, que morreu em maio deste ano, com 73 anos. A banda de culto começou a tocar ao vivo em 1972 em fundões, bailes ao ar livre que juntavam as diferentes comunidades locais e em 1974 formaram-se oficialmente como Conjunto África Negra, o nome original. De acordo com a programação do festival, o concerto de quinta-feira, no Palco da Praia, e gratuito, será também uma homenagem a João Seria, com “músicos da nova geração, que tanto influenciou”.

Bab L’Bluz, quinta, 27, às 22h15

Marrocos

Uma banda de rock psicadélico marroquino é tudo o que é preciso para uma quinta-feira de felicidade em Sines, num dos dias mais promissores do festival (pouco depois tocarão os Tinariwen, também com o seu blues do deserto e as suas guitarras hipnóticas). Os Bab L’Bluz formaram-se em 2018 em Marraquexe, numa combinação entre o rock, a música popular marroquina e a música tradicional gnawa e hassani. O primeiro (e único) álbum da banda, Nayda!, foi lançado em 2020 e esteve entre os melhores álbuns do ano para “Songlines” e na categoria “World” da revista Mojo. Um ano depois ganhavam o prémio de música de fusão dos Songlines Music Awards. O nome da banda significa “portal para o blues”.

Tinariwen, quinta-feira, 27 de Julho, 23h30

Mali

Os Tinariwen dão um dos concertos mais aguardados desta edição do festival. A banda tuaregue é repetente no Castelo de Sines (apresentaram-se pela primeira vez em 2010), mas voltarem não é um problema. Pelo contrário. Carlos Seixas, diretor do festival, afirma que o objetivo principal é trazer “artistas que venham pela primeira vez”. No entanto, “há sempre um trabalho de progressão que tentamos mostrar uma segunda ou terceira vez sem problema nenhum”. É o caso da banda nascida em 1979 na fronteira entre o Mali e a Argélia, que popularizou a música do deserto e desbravou caminho para outras que se seguiram, como os Tamikrest ou os Imarhan. Em 2012, ganharam o Grammy na categoria de “World Music” com o álbum Tassili. Desta vez, levam a Sines o álbum Amatssou, lançado este ano e o nono da banda. A pandemia alterou-lhe os planos. O álbum deveria ter sido gravado nos Estados Unidos, no estúdio de Jack White, fã declarado da banda. Em vez disso, foi gravado num estúdio improvisado numa tenda no deserto do Sul da Argélia.

Ghorwane, sábado, 29, 23h30

Moçambique

A celebrar 40 anos desde a sua fundação, em 1983, os moçambicanos Ghorwane, conhecidos no seu país como “os bons rapazes”, são outra das bandas históricas africanas no cartaz desta edição. A banda foi convidada por Peter Gabriel para tocar no WOMAD de 1990 e, depois disso, surgiu a oportunidade de gravar um álbum Majurugenta, em 1993, com a Real World Records. Pouco antes de começarem a digressão do disco, o saxofonista da banda, Zeca Alage, foi assassinado. Anos depois, em 2001, o seu irmão, Pedro Lage, também fundador da banda, teve o mesmo destino. A banda juntou-se novamente em 2023 para uma edição comemorativa dos 40 anos de fundação, com Sines no roteiro.

Os Tubarões, sábado, 29 de Julho, 00h45

Cabo Verde

No último dia de festival, com fogo-de-artifício como manda a tradição, os Tubarões foram os escolhidos para encerrar os concertos no Castelo de Sines. A histórica banda cabo-verdiana fundada em 1969 na cidade da Praia, na ilha de Santiago, tornou-se um dos ícones da música do país, com as suas mornas, coladeiras e funanás. Em 1995, “obrigações profissionais da maioria dos elementos da banda”, de acordo com a versão oficial, ditaram um fim. Ildo Lobo, o vocalista original, continuou a sua carreira a solo até morrer, em 2004. A banda voltou a reunir-se sem ele em 2015, por sugestão da câmara de Lisboa, para um concerto especial. Desde então, ressuscitaram. Tocaram em vários festivais (em Cabo Verde, em Macau, em Portugal e até nos Estados Unidos) e anunciaram novas músicas para este ano.

Super Mama Djombo, sábado, 29, às 02h15

Guiné-Bissau

Já no palco da praia de Sines, às 02.15, os Super Mama Djombo, que inicialmente se chamavam apenas Mama Djombo, são dos últimos a tocar — a seguir a eles os Bamba Wassoulou Groove, do Mali, encerram o festival num concerto imperdível para quem conseguir aguentar-se até às três da manhã. A banda da Guiné-Bissau formou-se nas vésperas e durante os primeiros anos de independência do país. Em 1975, tocaram pela primeira vez fora da Guiné, na Gâmbia, com a equipa de futebol Sporting Clube de Bissau. Anos depois, em 1979, vieram a Portugal gravar nos estúdios da Valentim de Carvalho, 75 canções de uma assentada, editadas em vários álbuns. Mais de meio século depois da sua formação continuam ativos e recomendam-se.