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Andriy, voluntário da Union Help of Kherson, na celebração da chegada das tropas ucranianas a Kherson em novembro de 2022
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Andriy, voluntário da Union Help of Kherson, na celebração da chegada das tropas ucranianas a Kherson em novembro de 2022

Andriy, voluntário da Union Help of Kherson, na celebração da chegada das tropas ucranianas a Kherson em novembro de 2022

Do voluntário detido por entregar comida em Kherson à russa que salvou uma mulher em Bakhmut. Seis histórias que contam dois anos de guerra

Andriy entregou comida à socapa em Kherson, Victoria ajudou idosa a fugir em Bakhmut, Marianna lembra combatentes de Azovstal e Ivan criou ONG em Kharkiv. 6 histórias de quem viveu a guerra de perto.

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A 24 de fevereiro de 2022, Andriy acordou a ouvir bombardeamentos. A viver no centro da cidade ucraniana de Kherson, o homem e a família decidiram abandonar o apartamento onde moravam e procurar um abrigo. Estavam todos lotados. “Não estavam prontos para tanta gente. Havia abrigos com três ou quatro mil pessoas. Não havia condições, nem internet, nem rede”, conta ao Observador. Ao recordar aqueles momentos, Andriy lembra-se de um provérbio ucraniano que usou durante esse período: “Se vais ser enforcado, não esperes ser afogado. Basicamente, o que for será”.

Mais a norte, a viver na cidade de Kharkiv, Ivan Vostroknutov aponta ao Observador o dia 27 de fevereiro de 2022 como aquele que mais o marcou. “Algumas tropas russas entraram na cidade”, conta, sabendo de cor os detalhes: “Foram quatro tanques, oito carros blindados e oito camiões. Discuti essa informações com o chefe das Forças Armadas locais”. “Acordei às 8h da manhã, vi um carro com a letra Z. Como tinha dormido pouco durante a noite, decidi que não queria pensar no que estava a acontecer. Queria dormir. E dormi mais horas.”

Em Izium, também no oblast de Kharkiv, a vida de Konstantin Grigorenko mudou radicalmente a partir da invasão russa. Diretor do jornal local Obriya Izyumshchyna, viu-se obrigado a fugir com a família para o oeste da Ucrânia, quando as tropas russas conquistaram Izium no início de março de 2022. Só regressou à localidade em dezembro daquele ano, três meses depois de as tropas russas a terem desocupado.

Ukrainian Forces Reclaim Territory Around Kharkiv

A destruição da cidade de Izium

Getty Images

Kiev, Mariupol, Kharkiv, Izium, Kherson e Bakhmut. A 24 de fevereiro de 2022, os habitantes daquelas cidades ucranianas foram surpreendidos pela invasão russa que mudou por completo as suas vidas. Uns criaram organizações humanitárias, outros quiseram entender o que se passava no terreno e alguns tentaram apenas sobreviver à guerra. O Observador recolheu alguns testemunhos daqueles que estavam em algumas das localidades que foram mais atingidas pela invasão, cuja data de início, há dois anos, se assinala este sábado.

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Kiev. O estado de choque em fevereiro de 2022, quando os soldados russos “roubavam televisões e frigoríficos”

A People In Need é uma organização não governamental (ONG) checa criada em 1992. Desde 2003 que está na Ucrânia a prestar assistência humanitária naquele país. Petr Drbohlav é o atual diretor da ONG na região da Europa de Leste e nos Balcãs, tendo chegado aquele cargo em 2020. Naquela altura, conta o responsável ao Observador desde Praga, a People In Need focava-se no oblast de Lugansk, principalmente nas zonas que estavam sob o controlo dos independentistas pró-russos. Em Donetsk, a situação era diferente; os separatistas pró-Moscovo expulsaram a associação e até chegaram a deter três trabalhadores.

Em fevereiro de 2022, “tudo muda”. Antes, a People In Need tinha cerca “de 210 a 220 pessoas a trabalhar” para a organização em território ucraniano; agora são 545 os membros da equipa. “Aumentámos o número de staff de forma significativa. Muitos deles, especialmente nos primeiros dias e semanas depois da invasão, quiseram juntar-se nós”, diz Petr Drbohlav, que recorda que muitas ONG tinha abandonado a Ucrânia por conta da guerra. “Conseguimos montar uma rede com organizações locais. Já trabalhámos com mais de 200 organizações desde o início da agressão russa.”

"Aumentámos o número de staff de forma significativa. Muitos deles, especialmente nos primeiros dias e semanas depois da invasão, quiseram juntar-se nós"
Petr Drbohlav, atual diretor na região da Europa de Leste e nos Balcãs na People In Need

Enquanto supervisor das operações da ONG na Ucrânia, Petr Drbohlav acompanhou de perto o que se passou durante estes dois anos de guerra. E chegou a deslocar-se ao norte do país — a Kiev e a Cherniv — e ao sul, a Kherson. “Era tocante quando as pessoas me mostravam o que se tinha passado. Pessoas a mostrarem-me as casas que foram danificadas pelos bombardeamentos e as fotografias de como eram antes. Lembro-me de uma família que me contou que tinha poupado anos para fazer uma nova cozinha. Quando a tinham acabado, um ataque aéreo destruiu tudo. Eles mostram tudo e há pessoas a chorar. É muito emocionante.” 

Petr Drbohlav ainda se recorda das histórias da ocupação russa no norte de Kiev. Como, por exemplo, quando lhe revelaram que os soldados russos “roubavam televisões e frigoríficos” de apartamentos, ou então quando uma idosa de 80 anos foi “espancada por tropas russas”. “Vi toda aquela destruição e percebi que não havia qualquer objetivo militar por trás”, denuncia.

Mesmo estando a viver em Praga e indo ocasionalmente à Ucrânia, Petr Drbohlav nunca está descansado, por conta do que pode acontecer à equipa da People in Need em território ucraniano. Na passada quarta-feira, dia em que a Rússia bombardeou Kramatorsk e em que o Observador o entrevistou, o responsável revelou estar preocupado. “Temos muitos colegas e membros da ONG que têm casas e familiares lá. Essas pessoas estão sempre sob o stress emocional de que algo pode acontecer.”

epa10112752 A communal worker mows the grass in front of a damaged residential building in the city of Irpin, near Kyiv, Ukraine, 09 August 2022 as life goes on amid Russia's military invasion of the country. Irpin as well as other towns and villages in the northern part of the Kyiv region became battlefields and were heavily shelled when Russian troops tried to reach the Ukrainian capital Kyiv in February and March 2022. Russian troops on 24 February entered Ukrainian territory, starting a conflict that has provoked destruction and a humanitarian crisis.  EPA/SERGEY DOLZHENKO

A destruição no norte de Kiev

SERGEY DOLZHENKO/EPA

“A minha experiência com os ucranianos é que eles são pessoas muito resilientes e muito determinadas, mas a guerra já é muito longa”, lamenta Petr Drbohlav, que sublinha que — para muitos — o conflito “não começou em fevereiro de 2022”, mas antes em 2014, ano em que a Rússia anexou a Crimeia e se iniciou uma guerra no leste da Ucrânia com movimentos separatistas apoiados por Moscovo.

No início da invasão total, Petr Drbohlav recorda que muitos ucranianos “estavam em estado de choque” e ninguém “acreditava nem estava convencido” de que a Ucrânia iria conseguir suster a ofensiva russa. “Mas a situação mudou radicalmente quando a Rússia saiu do norte de Kiev. Houve a libertação de Kharkiv, [e depois] Kherson [no outono de 2022]. Nessa altura, já não se dizia se a Ucrânia ganhar; dizia-se quando ganhar”, afirma, confessando que acompanhou os “diferentes estados de espírito ao longo da duração do conflito”.

“As coisas mudaram drasticamente durante o ano passado. As grandes expectativas da contraofensiva saíram goradas. O número de mortes e feridos no Exército ucraniano e a possibilidade da mobilização de mais pessoas está a criar muita pressão. As pessoas não estão entusiasmadas como estavam na segunda metade de 2022”, afirma Petr Drbohlav, acrescentando que sente que as pessoas “não sabem” mais o “que esperar da guerra”.

"As coisas mudaram drasticamente no ano passado. As grandes expectativas da contraofensiva saíram goradas. O número de mortes e feridos no exército ucraniano e a possibilidade da mobilização de mais pessoas está a criar muita pressão. As pessoas não estão entusiasmadas como estavam na segunda metade de 2022"
Petr Drbohlav, atual diretor na região da Europa de Leste e nos Balcãs na People In Need

E, mesmo que a guerra acabe, vinca o responsável da People in Need, serão precisos anos para recuperar do impacto. Podendo apenas trabalhar em territórios controlados pela Ucrânia, a organização foca-se em garantir “água, meios de subsistência e abrigo” às pessoas. E a parte da reconstrução de casas é aquela que Petr Drbohlav considera mais importante — e aquela que mais contribui para a recuperação dos territórios nos quais houve guerra.

Mariupol. O ponto de interrogação das famílias dos que resistiram em Azovstal

As tropas russas abandonaram o norte da Ucrânia no final de março de 2022, algo que Moscovo definiu como um “gesto de boa vontade”. No entanto, os intensos combates continuaram no leste e no sul. Mais concretamente, um dos pontos mais quentes da guerra foi Mariupol. A cidade foi arrasada por bombardeamentos, sendo que a resistência ucraniana (com alguns civis pelo meio) se manteve escondida no último reduto da cidade — a fábrica siderúrgica Azovstal.

O batalhão Azov teve um grande impacto na defesa de Mariupol, uma cidade simbólica para a Ucrânia. Os esforços ucranianos não se revelaram suficientes, contudo. Em maio de 2022, a Rússia conseguiu expulsar os últimos resistentes que permaneciam na fábrica siderúrgica, e foram quase todos levados para solo russo enquanto prisioneiros de guerra.

Mariupol's last stronghold Azovstal plant still resists against Russian forces

As condições da fábrica de Azovstal

Anadolu Agency via Getty Images

Quase dois anos depois, muitos daqueles que resistiram em Mariupol ainda estão na Rússia ou em territórios ocupados por Moscovo — e as famílias não sabem nada deles. Foi neste contexto que surgiu a Associação de Famílias dos Defensores de Azovstal. Em declarações ao Observador, a secretária para área da imprensa, Marianna Khomeriki, revelou que atualmente “existem mais de 1.600 de combatentes de Azovstal em cativeiro, incluindo quase mil combatentes do batalhão Azov”.

Neste momento, segundo Marianna Khomeriki, o principal problema da associação é o facto de não haver “trocas de prisioneiros”, principalmente daqueles que estiveram em Azovstal. A última aconteceu a 11 de junho de 2023. Desde aí, a responsável denuncia que Moscovo “está a abrandar deliberadamente o processo de troca de prisioneiros, fazendo tudo ao seu alcance para manter os defensores ucranianos” sob a sua alçada.

Por agora, a responsável da associação adianta que os serviços de informação ucranianos estão a fazer tudo para que os defensores de Azovstal regressem a casa. “Esperemos que o seu trabalho dê frutos e que sejam libertados do cativeiro”, reforça Marianna Khomeriki, lamentando que não se saiba de nada do que aconteceu nos últimos tempos às famílias.

Um cartaz a pedir a libertação dos defensores de Azovstal em Kiev

Anadolu Agency via Getty Images

“As informações vêm de fontes muito limitadas. Principalmente quando é possível trocar alguns militares ucranianos, que informam em quais prisões estão alguns dos combatentes Azov”, detalha Marianna Khomerik, que realça que nem sequer tem a certeza se algumas cartas escritas pelos familiares chegaram aos destinatários.

A responsável queixa-se igualmente que as instituições internacionais não “ajudam a organização de forma alguma”: “No início, a Organização das Nações Unidas e a Cruz Vermelha recolheram dados sobre os prisioneiros de guerra junto dos familiares e informaram as famílias de que alguns estariam em cativeiro. Não houve mais informações desde aí”.

“Nem sequer sabemos se essas organizações conseguiram entregar agasalhos e remédios para o inverno àqueles que defenderam Mariupol”, prossegue Marianna Khomeriki, que recorda o “heroísmo” daqueles que resistiram em Azovstal. “Se não fosse o seu heroísmo, o curso da guerra poderia ter sido completamente diferente — e não a favor da Ucrânia.”

epa10198543 A handout photo made available by the Press Service of the Security Service of Ukraine (SBU) on 22 September 2022 shows a group of Ukrainian prisoners of war (POW) after their exchange, in the Chernihiv region, Ukraine. Ukraine has returned 215 prisoners from Russian captivity, including Mariupol's Azovstal steel plant fighters, who spent months defending the steel plant and surrendered in May during the Russian siege, according to Ukraine's Presidential Administration.  EPA/SECURITY SERVICE OF UKRAINE HANDOUT -- MANDATORY CREDIT: SECURITY SERVICE OF UKRAINE -- HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES

A chegada de alguns defensores de Azovstal à Ucrânia em setembro de 2022, numa troca de prisioneiros

SECURITY SERVICE OF UKRAINE HANDOUT/EPA

Kharkiv. Como Ivan ajudou civis com um Ford Focus, 500 euros e um torneio de boxe

As tropas russas nunca chegaram a conquistar a cidade de Kharkiv, mas tomaram partes consideráveis do oblast. Ivan Vostroknutov revela que se sentiu “um pouco assustado no início” e que até “pensou sair” da cidade e ir para um “sítio mais seguro”, uma vez que uma ofensiva russa poderia levar à conquista de toda a província, que era constantemente bombardeada no início da guerra: “Cerca de 20, 30 vezes por dia”.

“No final, decidi ficar e decidi fazer algum trabalho útil em favor da sociedade”, conta Ivan Vostroknutov ao Observador. O antigo estudante de Medicina praticou boxe e até ganhou “algumas competições” e ficou “em terceiro lugar em campeonatos nacionais”. Em Kharkiv, havia um clube de boxe em que estava inscrito. E foi aí, nessa “comunidade simpática”, que foi criada, em março de 2022, a fundação de caridade Boxing Club da cidade de Kharkiv. Outras organizações já propuseram a Ivan para que mudasse o nome da associação, só que este rejeitou sempre. “A nossa organização será sempre lembrada”, graceja.

Começando com apenas 500 euros e um Ford Focus, Ivan Vostroknutov foi montando uma rede para ajudar os civis na cidade de Kharkiv na sequência dos bombardeamentos constantes de que a cidade era alvo. Inicialmente, comprava simplesmente “alimentos e kits de higiene”, entregando-os em abrigos. “Era onde as pessoas viviam 24 horas por dia, sete dias por semana. Os bombardeamentos eram muitos intensos”, recorda.

epaselect epa09810163 A man walks past destroyed residential building after shelling in Eastern Ukrainian city of Kharkiv, Ukraine, 08 March 2022. According to the United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR), Russia's military invasion of Ukraine, which started on 24 February, has caused destruction of civilian infrastructure as well as civilian casualties, with tens of thousands internally displaced and over two million refugees fleeing Ukraine.  EPA/VASYL ZHLOBSKY

A destruição na cidade de Kharkiv em março de 2022

VASYL ZHLOBSKY/EPA

Após uma fase inicial em que a organização permaneceu apenas na cidade, Ivan Vostroknutov assinala que as operações se foram expandido para a totalidade do oblast. “Havia diferentes necessidades”, recorda, enumerando que algumas regiões precisam de comida, outras de cobertores para o frio ou de medicamentos. No meio disto tudo, o voluntário lembra-se de um episódio que o marcou. Perto da fronteira com a Rússia, havia seis idosos que tinham contraído Covid-19. “Não tive medo. Ajudei esses idosos a chegar ao hospital. E era muito necessário, porque alguns estavam em condições de saúde muito más.”

Em outubro de 2022, o panorama altera-se. As tropas ucranianas conquistam totalmente o oblast de Kharkiv. Desde então, os bombardeamentos diminuíram de intensidade, ainda que aconteçam “três ou cinco vezes por semana”. E, perto da capital da província, ainda subsiste uma linha da frente, em Kupiansk. Na quinta-feira, Ivan Vostroknutov esteve lá em missão a entregar kits de higiene, ainda que refira que agora perde mais tempo a gerir a organização do que a entregar ajuda humanitária. “A situação é terrível lá”, retrata.

Em comparação com os primeiros tempos, marcados pelos bombardeamentos, Ivan Vostroknutov reconhece que era tudo “mais difícil” devido ao estado de “perigo permanente”. Porém, nessa altura, era mais “fácil encontrar parceiros, doadores e ajuda humanitária”. “Agora, o mundo inteiro está cansado da situação”, vinca, concedendo que até “entende” que alguns países se foquem mais nos seus interesses nacionais do que nos ucranianos.

epa09809265 Ukrainians take shelter in a metro station during shelling in Eastern Ukrainian city of Kharkiv, Ukraine, 07 March 2022 (made available on 08 March 2022). Russian troops entered Ukraine on 24 February prompting the country's president to declare martial law and triggering a series of announcements by Western countries to impose severe economic sanctions on Russia.  EPA/STANISLAV KOZLIUK

O bunker do metro de Kharkiv em março de 2022

STANISLAV KOZLIUK/EPA

A organização, neste momento, ainda tem capacidade para ajudar, mas os meios são limitados. “É nova, não é grande o suficiente para ser 100% estável. Se pararmos de realizar projetos, a nossa organização entrará em colapso”, diz Ivan Vostroknutov, que recorda com orgulho o maior evento organizado pela fundação: um torneio de boxe no metro de Kharkiv.

É em iniciativas como o torneio de boxe, que Ivan Vostroknutov adjetivou como um “sucesso”, que a organização quer apostar. Não necessariamente pelo desporto, mas em tudo o que permita fazer “crescer” a ONG, para que “continue a sua missão”. “Queremos ajudar os ucranianos. Mais: queremos ajudar todos aqueles que precisam de ajuda durante um conflito. Queremos reconstruir a nossa querida cidade, o nosso querido país. E, depois da vitória. queremos tornar-nos numa ONG internacional. Para ajudar outros países.”

Sobre o conflito, Ivan não entende os motivos da invasão russa. “Visitei Moscovo sete vezes durante a minha infância. Tinha muitos contactos lá. E agora dizem-me que gosto do Hitler?”, questionou Ivan Vostroknutov, aludindo às acusações do regime russo de que a Ucrânia é governada por neonazis e que é necessário levar a cabo uma “desnazificação”.

"Visitei Moscovo sete vezes durante a minha infância. Tinha muitos contactos lá. E agora dizem-me que eu gosto do Hitler?"
Ivan Vostroknutov, criador da fundação de caridade Boxing Club da cidade de Kharkiv

“Queremos vencer esta guerra. E a nossa parte consiste em ajudar os civis. Os militares devolvem as terras. E nós trazemos vida a estas terras”, resume o voluntário, que espera que sejam cumpridos dois objetivos: “Que todos os territórios ucranianos voltem a ser da Ucrânia. E, posteriormente, que se viva num país pacífico e bem sucedido”.

Izium. O jornal local que foi obrigado a parar a circulação

Izium é uma pequena cidade com cerca de 45 mil habitantes no leste do oblast de Kharkiv. O jornal local Obriya Izyumshchyna, com uma tiragem de dois mil exemplares, fazia a cobertura do que se passava na localidade. A partir de 24 de fevereiro de 2022, deixou de o fazer. “Não foi possível imprimi-lo”, conta o diretor Konstantin Grigorenko, realçando que a estrada entre a cidade de Kharkiv e Izium “foi bloqueada por soldados russos”.

A cidade ficou sob ocupação de Moscovo de 6 de março até 10 de setembro de 2022 — e o jornal, durante esse tempo, nunca foi para as bancas. Konstantin Grigorenko foi viver para o oeste da Ucrânia, de onde continuou a publicar no site do jornal. “Ouvia testemunhos do território ocupado”, afirma, frisando que esta era o “único meio de comunicação social que informava sobre o que se passava na cidade que ficara isolada”.

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A destruição de Izium

LightRocket via Getty Images

Na equipa de jornalistas que gere, o diretor relembra que três “foram forçados a ficar em Izium”. O vice-diretor do jornal foi mesmo “convidado três vezes pelos ocupantes a trabalhar num jornal de propaganda russo”, a que se deu o nome de “Izium Telegraph” — e que chegou a ser publicado entre maio e setembro de 2022. “Ele recusou-se a colaborar”, garante.

Em setembro, os russos saem de Izium. Na semana a seguir, desde Lviv, Konstantin Grigorenko escreveu notícias e artigos a partir de informações que obteve por telefone e compilou “o primeiro número do jornal desde a retirada dos russos”. Impresso na localidade, os jornais foram distribuídos por “voluntários”, uma vez que “os correios não estavam a trabalhar” e o transporte era difícil. O jornal, que era habitualmente um semanário, apenas teve uma edição em setembro e outubro; em novembro, já teve duas edições, que foram “distribuídas gratuitamente”.

Konstantin Grigorenko regressou a Izium em dezembro de 2022 e a situação voltou à normalidade: “O jornal era publicado semanalmente e vendido nas papelarias”. Enquanto jornalista, quis saber mais sobre como foi a vida durante a ocupação russa. No entanto, deparou-se com algumas dificuldades: “Os residentes estavam muitos relutantes em dar entrevistas. Estavam muito assustados. Ficaram isolados e sem acesso à informação durante muito tempo”.

A edição especial do Obriya Izyumshchyna

Ainda assim, a equipa do Obriya Izyumshchyna conseguiu fazer uma edição especial sobre a ocupação russa, que contém “factos sobre os acontecimentos de fevereiro a setembro de 2022”. “A vida continua, acreditamos na vitória e estamos a fazer de tudo para chegar a esse estado o mais rapidamente possível”, conclui Konstantin Grigorenko.

Kherson. Uma rede clandestina, o referendo que foi “uma piada” e a tão esperada libertação

Quando começou a guerra, Andriy pensava que ia durar “duas a três semanas”. “Era difundida nos meios de comunicação sociais a ideia de que a guerra terminaria rapidamente. Por isso, eu e a minha família não saímos de Kherson e ficámos”, conta este habitante. Por sua vez, Kate Zhuzha estava longe da Ucrânia. Natural da cidade de Nova Kahkova, local em que explodiu uma grande barragem, mora atualmente em Dublin, na Irlanda.

Foi lá que Kate Zhuzha criou a organização Union of Help to Kherson, juntamente com o irmão. Por pouco escapou à guerra; tinha previsto viajar para Kiev no dia 24 de fevereiro. Com o início do conflito, ficou em Dublin e publicou histórias nas redes sociais a denunciar o que se passava na sua terra natal. De forma orgânica, começou a receber donativos e enviou inicialmente dinheiro para Maria, uma “senhora que fazia sopa”. “Conseguimos angariar alguns milhares de dólares rapidamente. Enviei-lho e ela usou esse dinheiro para continuar a cozinhar e a fornecer sopa às pessoas nas zonas bombardeadas.”

O impacto da destruição da barragem de Nova Kakhovka, em Kherson

via REUTERS

À terceira semana de guerra, caiu-lhe a ficha de que o conflito seria longo. Por isso, em meados de março, Kate e o irmão — que era um “empreendedor que dispunha de uma larga rede de contactos em Kherson” — criaram a organização. Na rede de contactos, estava Andriy. E foi nessas circunstâncias que os dois se conheceram. A partir da Irlanda, Kate assumiu funções mais viradas para a gestão; Andriy estava no terreno a distribuir mantimentos.

Desde março de 2022, a Union of Help to Kherson já ajudou “cerca de 10 mil pessoas”. “O espectro do nosso trabalho varia consoante as necessidades da região”, salienta Kate, destacando as diferentes fases do conflito. A certa altura, principalmente no início, faltavam comida e cuidados médicos; depois, na sequência dos ataques russos contra o setor elétrico ucraniano, passaram a faltar “geradores de eletricidade”.

Inicialmente, a Union of Help to Kherson trabalhou integralmente nos territórios sob controlo das tropas de Moscovo. Atualmente, a organização ainda presta ajuda humanitária aos habitantes que vivem nos territórios que permanecem na margem esquerda do rio Dniepre, ainda ocupados pela Rússia. É a três quilómetros daquele rio — uma barreira geográfica que serve como espécie de linha da frente — que Andriy mora.

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Rio Dnipre em Kherson

Anadolu Agency via Getty Images

Andriy testemunhou as diferentes fases da ocupação da Rússia, que durou oito meses. Contrariamente ao que aconteceu nos arredores de Kiev, os primeiros dois a três meses foram “calmos”. “Os russos estavam a tentar passar a imagem de peacekeepers, mesmo que houvesse pessoas em Kherson a protestar contra a ocupação russa e a esperar que a Ucrânia regressasse”. Na altura, os principais problemas estavam relacionados com a falta de comida. O homem comprava produtos de agricultores locais e distribuía-os por quem mais precisasse, dado que “os supermercados ficavam vazios rapidamente e não havia forma de encher as prateleiras”. “Não havia abastecimento do lado ucraniano, nem do russo. A missão era encontrar comida.”

A partir de junho, a malha aperta-se e os habitantes de Kherson apercebem-se de que “a Rússia queria estabelecer-se” na região: “Não deixavam as pessoas reunirem-se no centro da cidade, começavam a disparar contra os manifestantes e a tornar bem claro que não iam tolerar posições pró-ucranianas”, recorda Andriy. Nesta altura, acrescenta Kate Zhuzha, “tornou-se perigoso ser-se voluntário de um organização ucraniana”. Por isso, a Union of Help to Kherson elaborou um esquema em que ninguém sabia quem ajudava quem — nem quem fazia parte da associação.

Em agosto, com a entrada de ajuda humanitária russa, a “opressão ainda se tornou mais intensa contra os voluntários ucranianos”. “Conheço pessoalmente um voluntário que foi detido e colocaram-no numa cave e dispararam por cima da cabeça dele”, lembra Andriy, que conta que, por esta altura, começaram a surgir camiões com altifalantes a passar a mensagem de que a “Ucrânia tinha desistido” de Kherson e que os russos estavam na cidade para os “salvar”.

"Conheço pessoalmente um voluntário que foi detido e colocaram-no numa cave e disparavam para cima da cabeça dele"
Andriy, voluntário da Union of Help Kherson

A organização teve de arranjar maneiras de conseguir sobreviver, elaborando um método mais sofisticado para ultrapassar o controlo russo. Uma das dificuldades que Andriy tinha, na entrega de bens, é que muitos desconfiavam que a ajuda era oriunda da Rússia — e, por isso, tendiam a rejeitá-la. “Diziam-me que não queriam ajuda de quem lhes estava a causar fome”, recorda o voluntário, acrescentando que só quando viam os autocolantes da Union of Help to Kherson é que reconheciam que era apoio ucraniano.

Imprimir autocolantes era igualmente uma tarefa difícil — e igualmente arriscada, porque alguém podia sempre denunciá-los. Num dia, Andriy teve “muita sorte”. Com o carro cheio de bens alimentares, foi parado por colaboracionistas russos. “Perguntaram-se se era voluntário. Referi apenas que tinha comprado muitas coisas. Mas detiveram-me.”

Andriy ficou durante algumas horas numa “pequena cela” que devia ter três pessoas, mas em que “estavam 24”. O que preocupava na altura da detenção o voluntário eram os autocolantes que estavam no carro — e que acabariam por denunciá-lo se fossem encontrados. Após revistarem o seu carro, decidiram libertá-lo e Andriy viu que não tinham mexido nos autocolantes. “Tive muita sorte em ficar detido por pouco tempo”, nota, ressalvando, contudo, que muitos voluntários acabaram presos durante meses.

Outro dos momentos da ocupação russa que Andriy recorda foi a realização do referendo para a independência de Kherson, em setembro de 2022. “Havia mulheres nas ruas que tinham sido contratadas pela Rússia e tinham urnas perto de si”, relata, assegurando que nunca foi sua intenção (nem da sua família) votar. “[O referendo] era uma piada e uma fraude. Os soldados batiam à porta e perguntavam se as pessoas já tinham votado”.

epa10207684 A woman casts her ballot during voting in a so-called referendum on the joining of Russian-controlled regions of Ukraine to Russia, in a hospital in Berdyansk, Zaporizhzhia region, Ukraine, 25 September 2022. From 23 to 27 September, residents of the self-proclaimed Luhansk and Donetsk People's Republics as well as the Russian-controlled areas of the Kherson and Zaporizhzhia regions of Ukraine are voting in ''referendums'' to join the Russian Federation that Ukraine call a farce. On 24 February 2022 Russian troops entered the Ukrainian territory in what the Russian president declared a 'Special Military Operation', starting an armed conflict that has provoked destruction and a humanitarian crisis.  EPA/STRINGER

Andriy não participou no referendo sobre a independência de Kherson

STRINGER/EPA

Um dia, um polícia e um soldado russo — trazendo uma urna consigo — bateram à porta da casa de Andriy. O homem “explodiu de raiva”: “Disse-lhes que estava farto de que me mandassem votar. Disse-lhes ‘Pedem que vote nas escolas, no mercado, na praça, em todos os lugares… Estou farto’.” Isso foi suficiente para que os russos se fossem embora — e não o obrigassem a votar.

Em novembro de 2022, chegou o momento pelo qual Andriy aguardava. Ao chegar de um funeral, o voluntário viu um carro de combate. Pensava que era russo, mas depois entendeu que estavam soldados ucranianos a conduzi-lo. A novidade da chegada das tropas da Ucrânia espalhou-se rapidamente nos grupos de conversas do WhatsApp e do Telegram dos moradores, se bem que inicialmente desconfiavam que fosse uma emboscada de Moscovo.

Acabou por não ser. “Por quatro dias seguidos, fomos para a praça celebrar. Toda a cidade estava louca de alegria”, desabafa com lágrimas dos olhos. “Foi pura celebração.” No entanto, os tempos após a reconquista ucraniana não foram fáceis — não havia eletricidade, rede móvel ou internet, a par de o movimento de circulação ter sido restringido pela Ucrânia. “Mas não quis saber de nada disso. Não custou nada.” 

Atualmente, a situação volta a ser “muito má”. “O inimigo está a três quilómetros e consegue disparar”, lamenta Andriy, acrescentando de forma categórica: “Os russos pensam que vão conseguir que os ucranianos implorem para que o governo ucraniano negocie com o russo, mas nunca vão conseguir isso. Os ucranianos não querem pedir ao governo que negocie com a Rússia”.

Relativamente à organização, a reconquista ucraniana facilitou em grande medidas as atividades da Union of Help to Kherson, que continua a prestar ajuda humanitária. Apesar de a circulação ser livre nos territórios ucranianos, surgiu outro problema: o facto dos donativos serem cada vez menores. “É difícil solicitar apoios financeiros para providenciar ajuda humanitária. O que está disponível agora é apoios financeiros para o desenvolvimento das comunidades, da educação, de workshops… Está a ser dado o anzol em vez do peixe”, queixa-se Kate Zhuzha.

Ainda que os workshops sejam “interessantes”, isso não é que a população de Kherson necessita, uma vez que está muito perto da linha da frente, argumenta Kate Zhuzha. “As pessoas precisam de kits de primeiros socorros. E isso é uma grande luta. O que o mundo está disposto a dar é muito diferente das necessidades”, prossegue a co-fundadora da organização, que assinala que os custos das ajudas mais prementes são somente suportados pelos “donativos de indivíduos”.

epa10207684 A woman casts her ballot during voting in a so-called referendum on the joining of Russian-controlled regions of Ukraine to Russia, in a hospital in Berdyansk, Zaporizhzhia region, Ukraine, 25 September 2022. From 23 to 27 September, residents of the self-proclaimed Luhansk and Donetsk People's Republics as well as the Russian-controlled areas of the Kherson and Zaporizhzhia regions of Ukraine are voting in ''referendums'' to join the Russian Federation that Ukraine call a farce. On 24 February 2022 Russian troops entered the Ukrainian territory in what the Russian president declared a 'Special Military Operation', starting an armed conflict that has provoked destruction and a humanitarian crisis.  EPA/STRINGER
"É difícil solicitar apoios financeiros para providenciar ajuda humanitária. O que está disponível agora é apoios financeiros para o desenvolvimento das comunidades, na educação, em workshop... Está a ser dado o anzol em vez do peixe"
Kate Zhazua, co-fundadora da Union of Help Kherson

Bakhmut. A fotojornalista russa que salvou uma ucraniana de 80 anos

Depois da reconquista de Kherson em novembro de 2022, o inverno de 2023 trouxe um impasse na frente de guerra. Porém, as tropas russas contaram com um trunfo para levar a cabo a batalha de Bakhmut, uma das mais sangrentas desde o início da guerra: os mercenários do grupo Wagner.

A fotojornalista russa Victoria Ivleva, que vive na Ucrânia desde março de 2022, esteve em Bakhmut em fevereiro do ano seguinte. Já tinha passado por aquela localidade antes “algumas vezes”. Ao Observador, recorda que era uma pequena cidade “adorável”. “Estava cheia de rosas. E o cheiro estava por toda a parte. Tinha muitos cafés e restaurantes. Era um local muito agradável, com muitos edifícios do início do século XX. Não era como muitas cidades industriais do Donbass. Era uma cidade antiga.”

Quando em fevereiro de 2023 chegou a Bakhmut, o cenário era radicalmente diferente. “Antes tinha cerca de 70 mil pessoas e restavam 5% ou 6% da população”, lamenta, resumindo que as pessoas sobreviviam “entre bombardeamentos”. Victoria esteve na cidade cinco a seis dias: “Era tudo muito mau. Não havia água, não havia eletricidade, não havia nada”.

"Era tudo muito mau. Não havia água, não havia eletricidade, não havia nada"
Victoria Ivleva sobre Bakhmut

Há dois episódios que Victoria Ivleva assegura que nunca mais vai esquecer. Um deles foi quando encontrou uma mulher cega de 91 anos que ficou a viver em Bakhmut depois de a sua cuidadora se ter ido embora. Aquela nonagenária estava “completamente sozinha”, recorda a fotojornalista.

Outra história é de uma mulher com cerca de 80 anos que vivia com o filho. Este foi “roubar carvão” à casa dos vizinhos — que já tinham abandonado Bakhmut — e acabou por morrer na sequência de um ataque aéreo. A fotojornalista perguntou à octogenária se queria abandonar a localidade, mas esta respondeu que não — queria enterrar o filho antes. Também lhe perguntou se tinha algum familiar e a idosa lembrou-se de uma sobrinha.

Victoria Ivleva entrou em contacto com a sobrinha, que gravou um vídeo a “implorar” para a tia sair de Bakhmut e a prometer que ia cuidar dela. No dia seguinte, a fotojornalista regressou a casa da idosa e viu um cenário desolador: “Uma casa gelada, escura e com as janelas tapadas. Ela estava deitada na cama, debaixo de trapos e tremia de frio”.

A destruição de Bakhmut

A fotojornalista mostrou-lhe então o vídeo da sobrinha. E a reação foi imediata: “Nunca me esquecerei como as lágrimas escorriam dos seus olhos ao ouvir a mensagem. No final, perguntei-lhe se queria vir comigo. Ela disse que sim”. A octagenária foi depois levada para um abrigo em Kramatorsk; dois dias depois, chegou a sobrinha, que a colocou mais tarde num lar de idosos. “Ela agora está bem”, celebra Victoria.

A viver na Ucrânia e a servir como voluntária, Victoria Ivleva vê agora o próprio país como “um mal no mundo”. “Comecei a odiar a Rússia, embora sempre tenha adorado viver lá”, assume a fotojornalista, definindo que é um “lugar maligno”: “É um país que tortura as pessoas e o seu próprio povo. Nem todos os países torturam o seu povo”. 

“Tenho 67 anos. A maior parte da minha vida já passou e penso o quão terrível é deixar o planeta quando o meu país está em tal estado. E como o meu país está a trazer coisas más, horríveis e dolorosas ao mundo”, continua a fotojornalista, que diz que a única maneira de derrotar a Rússia é “enviar armas para a Ucrânia”. “O que mais se pode fazer? Não há como falar com gangsters. Sempre que alguém diz algo a um bandido em vez de mostrar uma arma, o bandido acha que essa pessoa é fraca.”

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