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Candidatos à liderança do governo de Madrid (da esq. para dta.): Ángel Gabilondo (PSOE), Mónica García (Más Madrid), Pablo Iglesias (Unidas Podemos), Isabel Díaz Ayuso (PP), Edmundo Bal (Ciudadanos) e Rocío Monasterio (Vox)
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Candidatos à liderança do governo de Madrid (da esq. para dta.): Ángel Gabilondo (PSOE), Mónica García (Más Madrid), Pablo Iglesias (Unidas Podemos), Isabel Díaz Ayuso (PP), Edmundo Bal (Ciudadanos) e Rocío Monasterio (Vox)

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

Candidatos à liderança do governo de Madrid (da esq. para dta.): Ángel Gabilondo (PSOE), Mónica García (Más Madrid), Pablo Iglesias (Unidas Podemos), Isabel Díaz Ayuso (PP), Edmundo Bal (Ciudadanos) e Rocío Monasterio (Vox)

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

Eleições de Madrid: a prova de fogo do Podemos que pode tornar o Vox imprescindível para o PP

Campanha eleitoral foi marcada por uma retórica agressiva e momentos de grande tensão. Direita parte em vantagem, mas esquerda ainda acredita numa surpresa. Partidos jogam em Madrid o seu futuro.

“Comunismo ou liberdade”. “Fascismo ou democracia”. Estes dois lemas, à direita e à esquerda, respetivamente, marcaram a campanha eleitoral para as eleições autonómicas de Madrid, elevando a polarização para um nível sem precedentes na capital espanhola. Nas eleições desta terça-feira, dois blocos disputam a liderança do executivo regional, com as sondagens a serem bastante favoráveis ao Partido Popular (PP), de Isabel Díaz Ayuso, que no entanto deverá ficar dependente do Vox para governar. À esquerda, mantém-se a esperança numa surpresa de última hora, que, não sendo impossível, é pouco provável.

Numa jogada arriscada, que apanhou a política espanhola de surpresa, em março, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Ciudadanos uniram-se para apresentar uma moção de censura (que viria a fracassar) contra o PP, em Múrcia. A presidente da comunidade de Madrid, temendo que o seu aliado na capital fizesse o mesmo que em Múrcia, rompeu o acordo de governo e convocou eleições antecipadas.

Desde então, a capital espanhola tornou-se no centro da vida política do país, e esta terça-feira está em jogo muito mais do que o futuro do governo autonómico, que há 26 anos é governado pela direita. Conforme escreve o El Mundo, a região de Madrid, devido à sua população (a terceira maior do país, a seguir à Andaluzia e à Catalunha), centralidade e mediatismo, é uma espécie de termómetro político do resto de Espanha, antevendo-se, por isso, que o resultado das autonómicas dê algumas pistas quanto ao futuro e às estratégia a seguir pelos partidos, à esquerda e à direita, nos próximos tempos.

De acordo com as sondagens, o bloco da direita (PP e Vox) consegue eleger 72 deputados, enquanto a esquerda (PSOE, Más Madrid e Unidas Podemos) consegue 62 deputados. O Ciudadanos deve ficar fora da assembleia regional 

Antes de mais, convém olhar para os cenários em cima da mesa. Se as sondagens estiverem corretas, a tendência de vitória da direita na capital espanhola não se deverá alterar. De acordo com as estimativas do El País, o PP reúne 40,9% dos votos, ficando a apenas dez deputados da maioria absoluta (69 lugares). Para tal, poderá bastar-lhe um acordo com o Vox, de extrema-direita, que reúne 9,4% das intenções de voto, o que corresponde a 13 deputados.

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À esquerda, o cenário é menos animador: o PSOE surge com 21,2% dos votos (30 deputados), o Más Madrid com 16,3% (23 deputados) e o Unidas Podemos com 7,3% (nove deputados). Quanto ao Ciudadanos, o partido do centro nestas eleições, fica-se pelo 3,8% (que daria dois deputados), mas como fica 1,2 pontos abaixo do limiar de 5%, não consegue representação parlamentar. Em suma, feitas as contas, caso a estimativa do El País esteja correta, o bloco de direita consegue 72 deputados, enquanto a esquerda tem 62. 

Da retórica às balas: uma campanha marcada pela polarização

O resultado esperado para o Ciudadanos é um bom indicador do nível de polarização que se vive na política madrilena. Encabeçado por Edmundo Bal, o Ciudadanos, que virou ao centro após a tentativa falhada de se tornar na força hegemónica da direita espanhola, arrisca-se a ficar fora da assembleia regional, quando nas eleições de 2019 foi o terceiro partido mais votado.

Ao contrário do Ciudadanos, que se apresentou ao longo da campanha como um partido conciliador, capaz de dialogar com o PP ou com o PSOE, e como uma alternativa aos extremos, o Unidas Podemos, perante o risco de ficar sem representação parlamentar, decidiu subir a parada, como uma das jogadas políticas mais surpreendentes: Pablo Iglesias abandonou a vice-presidência do governo para concorrer à capital espanhola, apresentando-se como o garante contra o crescimento da extrema-direita.

“Estes discursos maniqueístas e hiperbólicos fizeram com que nestas eleições não se falasse tanto de políticas concretas, daquilo que afeta as pessoas. E isso é muito negativo”
José Rama, professor de Ciência Política da Universidade Autónoma de Madrid

Ao “comunismo ou liberdade” de Ayuso, Iglesias respondeu com o “fascismo ou democracia”, visando não só o PP, como também o Vox. A direita e a extrema-direita subiram também a fasquia nas críticas à esquerda, com a retórica e as acusações a ganharem outras proporções. A polarização aumentou exponencialmente e definiu o resto da campanha.

“Estes discursos maniqueístas e hiperbólicos fizeram com que nestas eleições não se falasse tanto de políticas concretas, daquilo que afeta as pessoas. E isso é muito negativo”, lamentou, em declarações ao Observador, José Rama, professor de Ciência Política da Universidade Autónoma de Madrid. “É um discurso vazio e polarizado, que está a tentar dividir a sociedade. E isso é muito arriscado, porque já vimos o que aconteceu nos Estados Unidos, onde houve um assalto ao Capitólio. Os políticos deveriam ter mais cuidado e evitar esse tipo de discurso”, alerta o politólogo.

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O tom de crispação da campanha eleitoral, de resto, assumiu proporções extremas, e o mês de abril acabou por ficar marcado pelo envio de cartas com ameaças de morte e balas a figuras políticas, entre elas Isabel Ayuso e Pablo Iglesias.

O líder do Unidas Podemos, que foi o primeiro a receber estas ameaças, chegou mesmo a abandonar a meio um debate com outros candidatos na rádio, depois de a candidata do Vox, Rocío Monasterio, ter posto em causa a credibilidade e veracidade das ameaças feitas a Pablo Iglesias. Ángel Gabilondo e Mónica García, candidatos do PSOE e do Más Madrid, respetivamente, também abandonaram o debate.

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Para a politóloga Sílvia Claveria, a campanha eleitoral em Madrid trouxe não só uma “polarização no voto”, como também uma “polarização afetiva”. Como consequência, é expectável que aumente a participação eleitoral.

“Os dois espectros ideológicos vão estar mais mobilizados. No final o voto concentra-se em duas opções, com os partidos mais centristas a terem menos votos”, antevê ao Observador a professora de Ciência Política da Universidade Carlos III, em Madrid, considerando que Ciudadanos e PSOE podem ser os mais prejudicados por esta polarização no voto.

Ayuso apontou a Sánchez e pode a abrir a porta ao Vox

Quem melhor parece ter capitalizado com a crispação foi Isabel Díaz Ayuso, que se antecipou ao Vox na definição do mote “comunismo ou liberdade”, e, além dos ataques ao ex-vice-presidente do governo espanhol, trouxe o chefe do executivo para o centro do debate, tornando-o no alvo preferencial das suas críticas afiadas. “O problema de Madrid é Pedro Sánchez”, atirou Ayuso nos últimos dias de campanha.

Se as sondagens estiverem corretas, a presidente da comunidade de Madrid pode quase duplicar o seu resultado de 2019, quando teve 22% dos votos, e dar um impulso ao PP a nível nacional. Pablo Casado, aliás, já fala num “ponto de inflexão”, considerando as autonómicas na capital como o “princípio do fim de Sánchez”, conforme disse durante o último fim de semana, em campanha ao lado de Ayuso.

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Mas, apesar do cenário favorável para os conservadores, convém ter em conta que falamos de sondagens, que são falíveis. Ao decidir ir a votos dois anos depois de ser eleita, Isabel Ayuso, que convocou estas eleições para tentar aumentar o seu poder e dar um impulso ao PP, é quem mais arrisca, uma vez que tinha o poder garantido até 2023. Perder Madrid para a esquerda teria consequências devastadoras para o partido, que tem acumulado derrotadas desde que Sánchez chegou ao poder.

“Muitos socialistas moderados em Madrid não gostam do Podemos e da extrema-esquerda”
Fernando Casal Bertoa, professor de Ciência Política na Universidade de Nottingham

Além disso, apesar de a maioria absoluta ainda estar no horizonte do PP, o cenário mais provável é que os conservadores, caso queiram continuar no poder, precisem do Vox, com o Ciudadanos, à partida, afastado da equação. A confirmar-se, um dos pontos mais interessantes será perceber se o partido liderado a nível nacional por Santiago Abascal, que até agora apenas apoiou executivos do PP (na Andaluzia ou em Múrcia), vai integrar pela primeira vez um governo de coligação, mais um passo que teria impacto a nível nacional.

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“Uma coligação do PP com o Vox pode mobilizar a esquerda em eleições futuras”, sublinha Fernando Casal Bertoa, professor de Ciência Política na Universidade de Nottingham, em Inglaterra, notando que uma possível coligação entre Isabel Ayuso e Rocío Monasterio “anula” o discurso de Pablo Casado, que em 2020, em plena moção de censura ao governo Sánchez/Iglesias, distanciou-se do Vox, rejeitando o “ódio” do partido de Abascal.

Quanto a Ayuso, confirmando a vitória, ganha também força para vir a disputar a liderança do PP no futuro, uma hipótese, para já, parece distante, mas que não será de descartar a médio prazo, caso Pablo Casado não consiga impulsionar os conservadores para o embate com os socialistas quando se aproximarem novas eleições gerais.

Além disso, a aproximação do PP ao Vox poderá levar a que o partido de extrema-direita substitua o Ciudadanos como parceiro preferencial do partido de Pablo Casado. Resta saber se o Vox vai exigir, pela primeira vez, entrar num executivo, ou se mantém a estratégia de apoiar o PP através de acordos parlamentares, deixando a responsabilidade de governar aos conservadores.

Os “erros” do PSOE, com o Más Madrid a morder os calcanhares

Apesar do entusiasmo da direita, à esquerda ninguém quer baixar os braços, e, apesar de ser um cenário pouco provável, PSOE, Más Madrid e Unidas Podemos ainda acreditam que o PP e o Vox não consigam chegar ao número mágico de 69 deputados. Mas, para que tal acontecesse, o politólogo Fernando Casal Bertoa considera que seria necessário “uma grande mobilização da esquerda”, mais improvável num contexto em que o “PP está em tendência ascendente, o PSOE em tendência descendente e o Unidas Podemos estancado”.

Os socialistas, de resto, ao contrário do que aconteceu nas autonómicas da Catalunha, realizadas no passado mês de fevereiro, não parecem ter conseguido ser bem sucedidos em roubar votos ao Ciudadanos — em Madrid, os votos dos eleitores do partido de Inés Arrimadas parecem estar a ser transferidos diretamente para o PP, e alguns até para o Vox. Além disso, Bertoa considera que a mudança de estratégia do PSOE, que inicialmente piscou o olho ao Ciudadanos e depois acabou a virar-se para a sua esquerda, não foi eficaz.

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“Mudaram a estratégia, pensando num bloco de esquerda contra um bloco de direita. Muitos socialistas moderados em Madrid não gostam do Podemos e da extrema-esquerda”, afirma Bertoa, acrescentando que a presença constante de Pedro Sánchez na campanha eleitoral, sobretudo numa fase inicial, foi um “erro estratégico”, uma vez que acabou por ofuscar Ángel Gabilondo.

Durante a campanha, o candidato socialista, de 72 anos, com um perfil mais moderado e de diálogo, teve dificuldade em impor-se perante uma dinâmica muito crispada, em que Ayuso não hesitou em apontar baterias diretamente a Pedro Sánchez, prolongando a batalha política que se intensificou durante a pandemia de Covid-19 entre o presidente do governo espanhol e a presidente da comunidade de Madrid, fazendo também de Pablo Iglesias o alvo a abater.

“A estratégia de querer ultrapassar o PP como principal partido de direita não funcionou, e o Ciudadanos está a sofrer as consequências”
Sílvia Claveria, professora de Ciência Política da Universidade Carlos III, em Madrid

Com poucos votos para disputar ao centro, o PSOE foi perdendo gás e, além de ver Ayuso cada vez mais distante nas sondagens, começou a sentir o Más Madrid a aproximar-se, com algumas sondagens a admitir que o partido de Íñigo Errejón, dissidente do Podemos, ainda poderá ultrapassar os socialistas.

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Nesse sentido, a candidata Mónica García acabou por ser uma das grandes surpresas desta campanha eleitoral, destacando-se, conforme nota o El País, sobretudo entre o eleitorado com menos de 45 anos, e particularmente entre as mulheres e os jovens. É por isso expectável que o partido consiga melhorar o resultado de 2019, quando teve 14,7% dos votos e elegeu 20 deputados, dando um impulso ao Más Madrid para se assumir, no futuro, como a principal força política de esquerda na capital espanhola. O PSOE, por seu turno, a confirmar-se a queda, deverá passar por uma fase de remodelação em Madrid (Gabilondo tem 72 anos).

“Efeito Iglesias” não se concretiza, Ciudadanos em crise

Ainda sobre o Más Madrid, um dos momentos marcantes nesta campanha eleitoral deu-se pouco depois de Pablo Iglesias anunciar que ia abandonar o governo para concorrer na capital espanhola. Ao fazer o surpreendente anúncio, Iglesias pôs as expectativas em alta e apresentou-se mesmo como o candidato capaz não só de impedir a extrema-direita de chegar ao poder, como de liderar a esquerda, propondo uma coligação pré-eleitoral com o partido do seu antigo aliado Íñigo Errejón.

Mónica García, no entanto, teve um entendimento diferente. “As mulheres estão fartas de fazer o trabalho sujo para que, nos momentos históricos, lhes peçam para que se afastem”, respondeu a candidata do Más Madrid ao convite de Pablo Iglesias.

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Desde então, se é verdade que conseguiu pôr o seu partido novamente em lugar elegível para a assembleia madrilena, o ainda líder do Unidas Podemos não conseguiu descolar nas sondagens e, ao que tudo indica, deverá mesmo ser apenas a terceira força política à esquerda, não se concretizando o tão desejado “efeito Iglesias”.

“Iglesias revitalizou um pouco o partido, mas não foi muito notável. No final, penso que teremos um PSOE um pouco abaixo do esperado, sobretudo por falta de uma liderança clara, um Más Madrid estabilizado, apresentando-se como opção viável dentro da esquerda, e um Podemos mais forte do que nas eleições anteriores [tiveram 5,6% dos votos], mas sem conseguir aproveitar o efeito Iglesias”, prevê o politólogo José Rama, da Universidade Autónoma de Madrid.

“São eleições muito relevantes, que tiveram muita notoriedade, mas isso não quer dizer que sejam uma antecâmara ou um preâmbulo do que vai acontecer em eleições gerais”
José Rama, politólogo

Nesse sentido, perante um resultado do Unidas Podemos que se antevê abaixo do esperado pelo seu líder, é expectável que a discussão sobre o futuro do partido se torne mais urgente. “O Podemos terá de pensar sobre como se vai organizar, sobre quem vai ser o líder do partido. Tem de perceber como vai gerir a dualidade de a líder nacional ser Yolanda Díaz [vice-presidente do governo] e o líder do partido ser Iglesias”, sublinha a politóloga Sílvia Claveria.

Sobre as consequências a nível nacional das eleições de terça-feira, a professora de Ciência Política da Universidade Carlos III crê que o mais afetado será mesmo o Ciudadanos, sendo expectável que “um mau resultado venha reforçar as críticas à liderança de Inés Arrimadas”, numa altura em que o partido se tenta reconstruir.

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“A estratégia de querer ultrapassar o PP como principal partido de direita não funcionou, e o Ciudadanos está a sofrer as consequências”, afirma Sílvia Claveria, considerando ser este o principal motivo para a queda do partido, e não tanto o impacto de uma viragem ao centro.

Após serem conhecidos os resultados das eleições de terça-feira, além das pistas quanto ao próximo governo madrileno, prevê-se uma reflexão sobre o futuro da política espanhola a nível nacional, quando o mandato do governo de Pedro Sánchez está quase a meio. É, no entanto, necessária precaução quanto a extrapolações dos resultados a nível nacional. “São eleições muito relevantes, que tiveram muita notoriedade, mas isso não quer dizer que sejam uma antecâmara ou um preâmbulo do que vai acontecer em eleições gerais”, alerta o politólogo José Rama.

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