Um total de 134 delegações estarão, a partir desta quinta-feira e até domingo, reunidas na capital cubana, Havana. A cimeira extraordinária do G77+China (um grupo de países do atual Sul Global criado em 1964) vai discutir o estado da economia global, da ciência, das relações internacionais e vai procurar criar as bases para o “mundo mais justo”.
Vários Chefes de Estado vão estar presentes na cimeira, incluindo o Presidente cubano e anfitrião, Miguel Díaz-Canel, o Presidente do Brasil, Lula da Silva, o Presidente de Angola, João Lourenço, o Presidente da Argentina, Alberto Fernández, o Presidente colombiano, Gustavo Petro, entre outros. Destaque igualmente para a presença do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, a quem caberá a responsabilidade de abrir o evento.
Os 134 países membros do G77
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Afeganistão
África do Sul
Angola
Antigua e Barbuda
Arábia Saudita
Argélia
Argentina
Azerbaijão
Bahamas
Bahrain
Bangladesh
Barbados
Belize
Benim
Bolívia
Botswana
Brasil
Brunei
Butão
Burkina Faso
Burundi
Cabo Verde
Camboja
Camarões
Chade
Chile
China
Colômbia
Comoros
Congo
Coreia do Norte
Costa Rica
Costa do Marfim
Cuba
Djibouti
Dominica
Equador
Egito
El Salvador
Emirados Árabes Unidos
Eritrea
Eswatini
Etiópia
Filipinas
Fiji
Gabão
Gâmbia
Gana
Grenada
Guatemala
Guiné
Guiné-Bissau
Guiné Equatorial
Guiana
Haiti
Honduras
Iémen
Ilhas Marshall
Ilhas Salomão
Índia
Indonésia
Irão
Iraque
Jamaica
Jordânia
Kiribati
Kuwait
Laos
Líbano
Lesoto
Libéria
Líbia
Madagáscar
Malawi
Malásia
Maldivas
Mali
Marrocos
Mauritânia
Maurícias
Micronésia
Mongólia
Moçambique
Namíbia
Nauru
Nepal
Nicarágua
Níger
Nigéria
Omã
Quénia
Palestina
Paquistão
Panamá
Papua Nova Guiné
Paraguai
Peru
Qatar
República Centro-Africana
República Democrática do Congo
Ruanda
Saint Kitts e Nevis
Santa Lúcia
São Vicente e Granadinas
Samoa
São Tome e Príncipe
Senegal
Serra Leoa
Seychelles
Singapura
Somália
Sri Lanka
Sudão do Sul
Sudão
Suriname
Síria
Tailândia
Tajiquistão
Tanzânia
Timor-Leste
Togo
Tonga
Trinidade e Tobago
Tunísia
Turquemenistão
Uganda
Uruguai
Vanuatu
Venezuela
Vietname
Zâmbia
Zimbabué
Cuba, sob o efeito de um embargo dos Estados Unidos há mais de 60 anos, vai ter uma oportunidade para demonstrar que não está isolada na comunidade internacional. O Presidente cubano já disse esperar que o “espírito de unidade e solidariedade que deu luz ao grupo dos 77 mais China prevaleça sobre os interesses mesquinhos daqueles que pretendem manter imóvel a injusta ordem económica atual”.
Num mundo que atravessa, segundo Miguel Díaz-Canel, “tempos difíceis e conturbados”, as 134 delegações pretendem contribuir para a formação de uma atmosfera de “cooperação e solidariedade” para que os países do Sul Global, com menos oportunidades para se afirmarem, se mantenham unidos contra as pressões que dizem sofrer do Ocidente e de outras potências.
[Já saiu o último episódio da série em podcast “Um Espião no Kremlin”, a história escondida de como Putin montou uma teia de poder e guerra que pode escutar aqui. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui, o quarto episódio aqui e o quinto aqui ]
A China, através de Li Xi, membro do bureau político do Partido Comunista chinês, estará presente no evento e representará o Presidente Xi Jinping. Contudo, por ser uma potência com acento no G20 (o grupo das maiores economias mundiais), Pequim não faz parte do G77 — é apenas convidado para participar na cimeira. Ainda assim, não deverá desperdiçar a aproveitar a ocasião para cativar os aliados do Sul Global.
A presença da China significa escolher um lado? Não necessariamente
Mesmo que não integre o G77, uma delegação da China vai estar presente num fórum que discute a formação de uma nova ordem internacional, que tem como premissa base um sistema financeiro mais equilibrado. No meio das tensões entre Pequim e Washington, podia pensar-se que isso levaria o grupo de países a escolher um lado — mas vários Estados-membros não querem que isso aconteça, mantendo a independência.
“Não devemos deixar que o G77 escolha um lado”, afirmou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, Retno Marsudi, em entrevista, indicando que, se isso acontecer, o grupo acabará por desintegrar-se. “Devido ao seu tamanho, o G77 tem um grande poder negocial”, salientou, acrescentando que, na cimeira cubana, em que estará presente, vai fazer questão de levar uma mensagem de união.
Por sua vez, há países menos entusiasmados com a cimeira do G77 — e que parecem, contrariamente à Indonésia, não dar grande valor ao fórum. A Índia é um deles: apenas um “funcionário” do governo estará no evento em representação de Nova Deli. Inicialmente, o ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, Subrahmanyam Jaishankar, tinha confirmado a presença, mas voltou atrás.
Não se sabe, no entanto, o motivo pelo qual a Índia cancelou a presença de uma alta figura do governo na cimeira do G77, mas a decisão chega dias após a cimeira do G20, que decorreu precisamente em Nova Deli. Tendo assumido a presidência da cimeira que juntou as 20 economias mais fortes do mundo — e tendo conseguido um texto final subscrito por todos os participantes —, a diplomacia indiana quer afirmar-se como “líder do Sul Global”, como nota a imprensa do país.
Ora, a presença de uma alta figura governamental num evento em Cuba poderia colocar em causa esse papel da Índia como líder do Sul Global — e dar espaço para novas iniciativas se formarem, ocupando o papel que Nova Deli deseja ter na comunidade internacional.
Cuba procura afirmar-se, apesar de momento difícil
Pela primeira vez desde a formação do G77 em 1964 — na época um mundo fortemente bipolarizado entre a União Soviética e os Estados Unidos e em que os países não alinhados tentavam criar um bloco capaz de rivalizar com a influência daquelas duas potências —, Cuba assumiu a presidência do grupo. A responsabilidade surge num momento em que o país tem enfrentado várias dificuldades económicas.
Em declarações à Agência France-Presse, Arturo López-Levy, professor de Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Madrid, acredita que, apesar da “situação tão precária que põe em causa inclusivamente a capacidade do governo de gerir o país” — dando como exemplos a elevada dívida pública e os protestos que têm tomado as ruas —, facto é que esta cimeira é “um impulso” para a diplomacia de Cuba.
Embora o governo cubano não consiga quase garantir os “níveis mínimos de sobrevivência” à população, Arturo López-Levy ressalta que Cuba é reconhecida na comunidade internacional como um “interlocutor válido”.
A diplomacia cubana está empenhada igualmente em múltiplas reuniões bilaterais. A mais esperada é o encontro entre Miguel Díaz-Canel e o Presidente brasileiro, Lula da Silva, que depois de Havana, tal como a maioria dos países presentes, parte para Nova Iorque para participar noutra cimeira, a assembleia-geral da ONU.