Natal é sinónimo de troca de presentes entre familiares, amigos e colegas. Quando pensamos em oferecer, raramente nos lembramos dos políticos, talvez por estarmos mais habituados a receber “prendas indesejadas”: neste Natal, aquela que todos preferíamos não receber é a fatura do Banif, que pode chegar aos 3.000 milhões de euros.
Em época de partilha e reciprocidade, achámos por bem repartir responsabilidades na escolha dos presentes a colocar no sapatinho dos políticos. O Observador desafiou 20 personalidades: que presente oferecia a um político português, à sua escolha, e porquê? Nas respostas, caíram nos sapatinhos dos políticos prendas para todos os gostos e disposições: as divertidas, as irónicas, as didáticas, as simbólicas, as dispendiosas e as confortáveis.
Sendo que trocámos as voltas e optámos por colocar quase sempre personalidades de outros quadrantes políticos a fazer as escolhas.
O Presidente da República está na reta final do seu segundo mandato e os presentes escolhidos antecipam a nova etapa da sua vida, previsivelmente mais relaxada. Ou pelo menos, assim pensam as personalidades que escolheram dar prendas a Cavaco Silva, que lhe sugerem que viaje, coma queijo, leia ou fique em casa a desfrutar de umas confortáveis pantufas.
Edite Estrela, deputada socialista e presidente da Comissão de Cultura, Juventude e Desporto da Assembleia da República, escolheu o sapatinho do Presidente e mostrou ser uma pessoa de mãos largas: “Como sou generosa não ofereço um, mas dois presentes a Cavaco Silva.”
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– Viagem Lisboa-Lyon em low-cost (Easy Jet), a partir de 53€ (acresce o custo da deslocação a Lons-le-Saunier, que fica a cerca de 140 quilómetros a nordeste de Lyon). O bilhete para visitar La Maison de La Vache qui rit custa 7,5€ e uma embalagem de 24 unidades do queijo custa cerca de 3,99€.
– CD da ópera Die Walkure, de Richard Wagner interpretada pela Filarmónica de Berlim, dirigida por Herbert von Karajan (Deutsche Grammophon): 33,99€ em www.amazon.de.
Um dos presentes é uma viagem a um país que conhece bem: como ex-eurodeputada Edite Estrela passou muito tempo em Estrasburgo, França (onde fica a sede do Parlamento Europeu). Mas a visita que sugere a Cavaco não é à casa da democracia europeia mas a outra, mais alegre. “Sugiro uma visita a La Maison de La Vache qui rit em Lons-le-Saunier [em França], por razões óbvias. Conhecer a origem da vaca que ri e relembrar o sorriso de satisfação das vacas açorianas.” Uma referência a declarações do próprio Cavaco que, em 2011, elogiou o sorriso das vacas portuguesas, em deslocação aos Açores.
Para contrastar com a visita sorridente, a socialista até sugeriu uma banda sonora dramática: “E um CD da Cavalgada das Valquírias de Wagner, esperando que o Presidente descubra a ligação com La Vache qui rit.” A Cavalgada das Valquírias é uma das óperas mais conhecidas do compositor alemão, em especial o início do terceiro ato, “Cavalgada”.
O excerto “Ride” (em inglês) entrou para a história do cinema como parte da banda sonora do filme Apocalypse Now. Numa das sequências mais emblemáticas da fita, a “Helicopter Ride”, o nono regimento da Air Cavalry bombardeia uma aldeia vietnamita sob o som dos altifalantes a tocarem Wagner. Reveja a cena:
Sérgio Sousa Pinto, deputado socialista, ficou-se por uma escolha mais tradicional, um livro, que promete manter o (ainda) Presidente da República ocupado. “Oferecia ao professor Cavaco Silva o livro ‘Declínio e Queda do Império Romano’, de Edward Gibbon, para queimar o tempo de forma proveitosa.”
A foi obra publicada originalmente em seis volumes, entre 1776 e 1778. O primeiro volume, publicado em Portugal pelo Círculo de Leitores (na imagem), tem mais de 450 páginas de história. O livro é apreciado quer pela mestria da escrita de Gibbon e pelo seu estilo irónico, quer pelo seu recurso a fontes primárias, método que caracteriza a historiografia moderna.
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– Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon, edição em dois volumes do Círculo de Leitores pode ser adquirida em sites de venda em 2ª mão, por 25€.
Sérgio Sousa Pinto, que se demitiu do secretariado nacional do PS por não concordar com a estratégia de António Costa de formação de governo com o PCP e Bloco de Esquerda, escolheu presentear Cavaco Silva, mas isso não quer dizer que esteja mais próximo das suas ideias. Umas das teses defendidas por Gibbon é a de que o cristianismo contribuiu para a queda do Império Romano. Em 2013, após a sétima avaliação positiva da troika, Cavaco considerou que o sucesso do processo se deveu a intervenção divina: “Penso que foi uma inspiração da Nossa Senhora de Fátima. É o que a minha mulher diz”, declarou na altura.
Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, “gostaria de oferecer umas pantufas a Cavaco Silva.” Conhecida pela sua assertividade, a deputada bloquista não deu grandes explicações sobre o presente escolhido, o que não quer dizer que a prenda não calce uma mensagem.
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– As pantufas de homem, em pele de borrego e sola de borracha custam 14€ na loja on-line www.franciscopatrao.com.
No mês passado, a militante do BE assinou um artigo de opinião no Jornal de Notícias onde declarou o “Cavacabou-se” e designou o Presidente da República em final de mandato como o “mestre de cerimónias do enterro da austeridade”. Mariana Mortágua considera nas mesmas linhas que a “última de decisão de Cavaco” sobre o avançar do Governo apoiado por PS, PCP e BE foi “certamente o mais longo engano da vida política portuguesa.” Mais do que um presente de Natal, as pantufas podem também servir como uma oferta que marca a despedida de Cavaco do Palácio de Belém: poderá usá-las no conforto do lar, após o término das suas funções públicas.
Telmo Correia, deputado do CDS-PP, revelou originalidade e escolheu colocar no sapatinho de António Costa “um capacete de proteção daqueles amarelos das obras”.
A oferta poderá induzir em erro, mas Telmo Correia não quis sugerir uma política de obras públicas ao Governo liderado pelo socialista. O presente pretende contribuir para a “segurança e proteção no trabalho” do antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
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– O capacete de segurança amarelo, disponível por 3,49€ em www.aki.ptwww.aki.pt.
“Imagino que não tenha guardado nenhum do seu tempo de autarca…”, disse o deputado ao Observador, que considera a prenda “muito útil em caso de queda, dado o equilíbrio frágil da geringonça em que se equilibra. Por outro lado, ficará protegido de possível ‘fogo amigo’ dos seus parceiros da CGTP.”
No sapatinho de António Costa também não iria também faltar um dos presentes mais oferecidos na época natalícia: Miguel Poiares Maduro, ex-ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional optou por um livro. O professor no Instituto Universitário Europeu de Florença fugiu dos romances e preferiu um ensaio político-filosófico da autoria de Avishai Magarlite, professor jubilado da Universidade Hebraica de Jerusalém e professor na Universidade de Princeton, nos EUA. A obra On Comprise and Rotten Compromises (uma expressão que em tradução literal significa qualquer coisa como “Acerca dos compromissos e dos compromissos podres”) baseia-se na tese de que “os compromissos podres não são permitidos, mesmo para o bem da paz,” resume Sally Law na recensão da New Yorker.
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– On Compromise and Rotten Compromises, de Avishai Margalite, da Princeton University Press, custa 18,72€ em www.amazon.es .
“Aquilo que nos define como indivíduos, mais do que a nossa natureza, são os compromissos que fazemos, como o filósofo refere,” disse Miguel Poiares Maduro como justificação para a sua escolha. “Os compromissos podem ser bons ou maus, com base nos princípios nos quais são feitos. O livro diz que nem todos os compromissos são bons, embora muitas das coisas que fazem parte da história tenham sido conseguidas com base em compromissos.” Uma prenda sobre a qual o ex-ministro teceu uma consideração: “Não basta ser bom a fazer compromissos, é preciso ter atenção aos princípios que promovem esses compromissos,” rematou.
José Magalhães, ex-secretário de Estado da Justiça e da Modernização Judiciária do primeiro governo de José Sócrates, escolheu um presente simbólico, mas caro, para o primeiro-ministro. O ex-deputado socialista, agora no Observatório do Mundo Digital, escolheu como oferta a atribuição de um prémio: “Ofereceria ao António Costa o prémio ‘Demolidor de Muros 2015’.” O galardão seria “um martelo de ouro (pequenino) para pendurar.”
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– O preço depende do peso da peça. A 22 de dezembro a cotação do ouro cifrava-se nos 31,47€ por grama, segundo o site www.goldprice.org.
José Magalhães, que começou a carreira parlamentar em 1983 pelo PCP, defendeu em julho passado numa entrevista ao jornal Sol (a propósito do lançamento do seu livro Submarinos.pt) uma aproximação do PS aos comunistas após uma eventual vitória nas eleições legislativas. Não falou em tom de previsão, mas se o tivesse feito quase teria acertado: o PS não ganhou, mas chegou ao governo acompanhado pelo PCP e BE. “Se em janeiro deste ano alguém tivesse previsto que entre os socialistas, os comunistas, os bloquistas e os verdes haveria acordo político para apoiar um governo, essa pessoa seria internada,” disse ao Observador. “Eu escapei a ser internado por proposta irrealista, porque defendi essa solução em julho.”
O patrão dos patrões, António Saraiva, foi o único que se decidiu por um presente tecnológico. “Oferecia ao primeiro-ministro uma câmara fotográfica com lente grande angular.” O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), que nas reuniões de concertação social insistiu na necessidade de contrapartidas para que as empresas pudessem suportar o aumento do salário mínimo nacional (SMN) para os 530 euros propostos pelo Governo, justificou a escolha apelando aos talentos de António Costa enquanto fotógrafo.
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– Máquina fotográfica Canon EOS 700D, à venda em ww.fnac.pt por 751,98€.
No entender de António Saraiva, com a máquina o primeiro-ministro poderia “melhor fotografar o país real e assim tomar decisões mais assertivas e bem direcionadas.” A concertação social terminou na segunda-feira, sem acordo entre os parceiros. Os empresários pretendiam firmar contrapartidas para o aumento do salário mínimo que incluíssem reduções da Taxa Social Única (TSU). Atualmente, está em vigor uma redução de 0,75% da TSU para novos contratos, que alguns patrões consideram insuficiente para fazer face à subida salarial. Apesar da falta de acordo, o Governo liderado por António Costa decidiu, por sua vez, “dar um presente de Natal” antecipado a muitos trabalhadores e aumentar o SMN em janeiro de 2016.
Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, escolheu para António Costa o presente com mais significado do grupo. É improvável que o autarca do PSD que sucedeu a António Capucho tenha votado no PS nas últimas eleições legislativas, mas talvez inspirado pelo espírito da época, “oferecia um voto ao António Costa, porque tem falta de votos.”
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– O voto é um direito (e um dever) gratuito.
Na semana passada, na sua coluna “Com vista para o Atlântico”, no jornal i, Carlos Carreias relembrou que “Costa foi número dois de Sócrates” e “continua a ser número dois mas em votos.” Para além do voto, o ex-presidente do Conselho de Administração do Instituto Francisco Sá Carneiro, “oferecia também coerência e ética política” ao primeiro-ministro, características que considera “que lhe faltam. E de preferência, oferecemos sempre coisas que faltem às pessoas.”
António Pires de Lima, que acaba de ser designado para o Conselho de Administração da Fundação de Serralves, também escolheu oferecer viagens. O ex-ministro da Economia “oferecia ao dr. António Costa muitos bilhetinhos de avião (e não precisam de ser em económica)“.
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Preço (aproximado) das viagens para os três principais destinos das exportações portuguesas – Alemanha, Angola e Brasil, segundo a Pordata:
– Viagem Lisboa-Berlim em low-cost (Easy Jet), a partir de 61€.
– Viagem Lisboa-Luanda com a TAGG, a partir de 1.450€.
– Viagem Lisboa-São Paulo com a TAP, a partir de 1.200€.
As prendas têm como destinatário o Primeiro-Ministro para que este possa “aprender rápido quão difícil é vender Portugal lá fora aos investidores e quão exigente é ajudar as empresas portuguesas a exportarem.”A escolha de António Costa e não do seu sucessor na pasta da Economia, Manuel Caldeira Cabral, é tudo menos neutra. Há três semanas, em declarações na 100ª edição do Clube dos Pensadores em Vila Nova da Gaia, acusou o governo de “despromover” as empresas portuguesas no estrangeiro. António Pires de Lima foi mais longe e considerou Augusto Santos Silva, o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros e que está encarregue da suas anteriores tarefas, uma “figura truculenta”. Na novo Governo, a responsabilidade da promoção das empresas portuguesas está nas mãos de Santos Silva, “que não tem, organicamente, responsabilidade de promover as empresas portuguesas no exterior.”
Teresa Anjinho, ex-secretária de Estado da Justiça preferiu uma das séries mais populares do canal de streaming Netflix, que chegou a Portugal em outubro. “Oferecia a António Costa as várias temporadas da série House of Cards.” A série retrata o poder e os bastidores da política de Washington, onde sobressaem a manipulação e o pragmatismo implacável e cruel “de um homem que chega a presidente dos EUA sem ganhar eleições.”
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– A Coleção House of Cards (1ª, 2ª e 3ª séries completas) custa 39,99€, em www.fnac.pt.
Na primeira temporada, Frank Underwood, o personagem principal (interpretado pelo ator Kevin Spacey) é um congressista do Partido Democrata norte-americano eleito pelo estado da Carolina do Sul que não olha a meios para atingir os seus fins. No início da terceira temporada — atualmente em exibição na SIC — Frank Underwood já ocupa a Sala Oval da Casa Branca. A docente universitária pensou numa prenda que não precisasse de talão de troca: “julgo que seria do seu agrado. Para ver ou rever.”
Quem nunca recebeu pelo menos uma peça de roupa no Natal? Devem ser tão poucas as pessoas que nunca receberam uma, que o ex-primeiro-ministro provavelmente não será uma delas. Mas se for, a psicóloga clínica Joana Amaral Dias, vai pôr fim a essa lacuna. A ativista do Agir escolheu colocar no sapatinho do líder do PSD uma peça de roupa: “quero oferecer um corta-vento a Passos Coelho.”
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– Corta-vento impermeável, disponível em www.decathlon.pt, por 7,95€.
Um agasalho desportivo e prático, que Passos poderá usar na próxima campanha presidencial que todas as previsões indicam que será ventosa. Joana Amaral Dias, que nas últimas eleições legislativas não conseguiu um lugar no Parlamento, não terá que se prepocupar em vestir-se de forma mais formal e justifica a escolha com um trocadilho com as palavras do líder laranja. No último congresso do PSD, Passos Coelho disse que “que nunca apoiaria Marcelo porque ele é um catavento.”
A palavra “geringonça” entrou no vocabulário político o verão do ano passado pela pena de Vasco Pulido Valente (VPV), no jornal Público. António José Seguro e António Costa disputavam então a liderança dos socialistas, no “meio da confusão”. Da disputa, Costa emergiu como líder da “gerigonça a que se chama PS”, escreveu VPV. Mais de um ano volvido, Paulo Portas, mestre na arte do sound bite, apropriou-se do termo e alargou-o. “Isto não é bem um Governo, é uma geringonça,” disse o líder centrista sobre o atual governo formado por PS, PCP e BE.
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– A “geringonça” já foi expropriada três vezes. Que se saiba, todas a custo zero.
De apropriação em apropriação, agora é a vez de Gabriela Canavilhas, ex-ministra da Cultura a tomar como sua para a oferecer… à direção do CDS. Diz o ditado que o bom filho à casa torna, mas a prenda da deputada socialista, “uma geringonça feita com pedaços de trotinetes, periscópios e máquinas a vapor“, não caberia facilmente debaixo da chaminé de Paulo Portas. Estacionar tal “veículo” poderá não ser fácil, mas Gabriela Canavilhas justificou a sua utilidade, explicando que a caranguejola é “destinada a revogar princípios políticos irrevogáveis.”
Dois destinatários, dois presentes iguais. Isabel Moreira, deputada independente eleita pelo PS, mostrou ser pragmática no que à seleção das prendas diz respeito e escolheu oferecer a “Constituição da República Portuguesa” a Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
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– Constituição da República Portuguesa Anotada Volume I, por J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Coimbra Editores, disponível em www.bulhosa.pt por 66,78 €.
O pragmatismo de Isabel Moreira não se resume à repetição dos livros. A opção mostra que prefere escolher obras que possam ser úteis a quem as recebe. A deputada é também constitucionalista, e a oferta de um exemplar da Constituição tem também uma razão pedagógica, uma vez que os dois “representam o Governo recordista da violação grosseira da lei que encima a República.”
Continuamos nos livros em dose dupla. Ângelo Correia, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa, escolheu contribuir para a biblioteca de Marcelo Rebelo de Sousa, e sugeriu duas obras bem conhecidas das letras portuguesas. O histórico do PSD escolheu como primeiro presente “O livro da ensinança de bem cavalgar toda a sela“, de El-Rei D. Duarte. Durante os largos anos em que foi comentador televisivo, o candidato a Belém recomendou inúmeros livros aos telespetadores e agora é Ângelo Correia quem lhe dá sugestões de leitura, que o podem ajudar a preparar um eventual desempenho de novas funções.
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– O livro da ensinança de bem cavalgar toda a sela, de El-Rei D. Duarte, Imprensa Nacional-Casa da Moeda custa 11,07€ na Bertrand.
– A Mensagem, de Fernando Pessoa, Edições Ática custa 4,54€ em www.sitiodolivro.pt.
“Porque assumindo que ele vai ser Presidente da República, vai ter que lidar com demasiadas situações, com demasiados atores e em várias circunstâncias,” explicou o padrinho político de Pedro Passos Coelho ao Observador. Se a primeira sugestão de Ângelo Correia é para ler durante as eleições, a outra corre o risco de se tornar um livro de cabeceira. “O segundo livro que lhe oferecia é “A Mensagem” de Fernando Pessoa, com o poema ‘O Mostrengo’. Porque aí é manifesto que o destino de um país, de um povo, está muito dependente do ‘homem que vai ao leme’ mas que representa o povo todo, onde diz ‘aqui ao leme sou mais do que eu: sou um Povo que quer o mar que é teu.’ E nesse sentido tenho a certeza que ele interpretará bem.”
Maria do Rosário Gama, da associação APRe!, também escolheu ofertas para outro candidato presidencial. Sampaio da Nóvoa, tal como Marcelo Rebelo de Sousa também é professor universitário, mas a cadeira que a representante dos reformados lhe quer dar não é uma disciplina. “O presente que eu gostaria de oferecer ao professor António Sampaio da Nóvoa era a cadeira da Presidência da República, porque Portugal merece ter como Presidente um homem da cultura, do saber, da inteligência, de livre pensamento e livre de compromissos partidários. No entanto, eu sozinha não consigo fazer essa oferta (só contribuir).”
Por isso, a professora reformada escolheu também oferecer palavras de ordem: “gostaria de lhe oferecer também o CD dos Deolinda, ‘Canção do Lado’, para que nos poucos dias que faltam para as eleições, ele levasse consigo para os comícios, encontros e debates a faixa ‘Movimento Perpétuo Associativo’. A letra desta canção é um apelo à participação, uma denúncia de quem deixa para os outros a escolha que o próprio deve fazer, não deixando de manifestar otimismo e esperança, quando a cantora diz: ‘Agora sim, damos a volta a isto!..Agora sim, eu sinto o otimismo!…Vamos em frente, ninguém nos vai parar!'”
António Bagão Félix, ex-ministro das Finanças do Governo de Pedro Santana Lopes, preferiu eleger para o atual detentor do seu antigo cargo um presente personalizado.
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– Uma impressão fotográfica 20X25 cm custa cerca de 2,50€, em centros de cópias especializados.
– Moldura com passe-partout do Ikea, a 7,99€.
“Daria ao ministro das Finanças um passe-partout com as fotografias de Jeroen Dijsselbloem (presidente do Eurogrupo/Ecofin) e Wolfgang Schäuble (Ministro alemão da Economia), com as iniciais BE (boas entradas) para ter sempre em cima da secretária no Ministério das Finanças.” Uma oferta com uma dupla função: decorar o gabinete do novo titular da pasta das Finanças e relembrar ao Ministro as metas orçamentais que fazem parte dos compromissos que o anterior Governo assumiu com a Europa e que Mário Centeno é agora responsável por fazer cumprir.
António Ventinhas, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, também se mostrou adepto de prendas úteis. “Oferecia um relógio à Ministra da Justiça, Francisca Van Dunnen” embora, tanto quanto se sabe, a ex-procuradora-geral da República não seja conhecida pela falta de pontualidade.
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– Relógio despertador à venda no Ikea por 12,99€.
O mesmo não se pode dizer do funcionamento do ministério que tutela, onde o tempo parece avançar mais devagar e com pouco respeito pelos horários e ritmos alheios. A seleção natalícia do magistrado do Ministério Público releva ter um duplo préstimo: um que simboliza o vagar com que funcionam as leis e outro mais prático, “porque o tempo urge para se tomar as medidas necessárias para por a justiça a funcionar.”
Assunção Cristas, ex-ministra da Agricultura e das Pescas, preferiu oferecer uma fita em sentido quase literal. “Oferecia um filme do Woody Allen rodado em Lisboa ao Fernando Medina.” O realizador norte-americano, que no início da carreira filmava preferencialmente em Nova Iorque, nos últimos anos elegeu as cidades europeias de Veneza, Londres, Paris ou Barcelona como cenário. A obra que rodou na Catalunha, Vicky Cristina Barcelona, protagonizado por Penélope Cruz, Scarlett Johansson e Javier Bardem custou cerca de 15 milhões de euros, segundo o The Guardian.
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– Tomando como referência o orçamento de Vicky Cristina Barcelona e da percentagem dos custos suportadas pelas autoridades catalãs, um filme rodado em Lisboa com o mesmo orçamento representaria um custo de 1 milhão e meio a 2 milhões de euros.
As autoridades catalãs suportaram 10 por cento desse valor: 1 milhão de euros ficou a cargo dos cofres da cidade de Barcelona e meio milhão dos cofres da região, verba que recuperaram com os lucros do filme (que atingiram os 96 milhões de dólares, cerca de 88 milhões de euros). A prenda da deputada do CDS para o autarca de Lisboa foi escolhida com “bom espírito natalício e estou certa de que ele iria gostar!” Para além de Fernando Medina, o presente também poderia ser desfrutado por todos os amantes da sétima arte e da cidade, pois é “uma forma eficaz de dar a conhecer e de promover turisticamente a nossa belíssima capital.”
Pedro Marques Lopes “recomendava a todos os políticos portugueses um bilhete de entrada para a exposição sobre a Magna Carta, para que refletissem nos valores basilares da nossa democracia. Não nomeio ninguém em especial, generalizo porque não há nenhum político a quem não falte pedagogia democrática.”
António Marinho e Pinto, eurodepudato, considera que “dar um presente é um ato sedução”. O presidente do Partido Democrático Republicano, “não entra nesses jogos” e prefere fazer como muitos portugueses: dar prendas apenas aos mais pequenos. “Só ofereço presentes a crianças, como os meus netos.” A opção do ex-Bastonário da Ordem dos Advogados, é também motivada pelo mérito, ou no caso, pela falta dele. “Não oferecia presentes porque entendo que não merecem. No estado atual das coisas, nenhum político português merece presentes de um eleitor como eu. Nem os da coligação anterior, nem os desta criptocoligação, que é uma coligação disfarçada, escondida, entre António Costa e José Socrátes. Basta olhar para quantas pessoas dos governos Sócrates transitaram para este governo. É uma coligação com o objetivo de calar o Sócrates, que estava a fazer muito mal ao PS.”
E você, o que daria?