896kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Hugo Soares: "Estou de corpo e alma com Paulo Rangel"

O antigo líder parlamentar do PSD declara apoio a Rangel e defende que Marcelo deve ter em conta situação no PSD ao marcar eleições. Acredita que Governo minoritário do PSD pode não precisar do Chega.

O antigo líder parlamentar do PSD, Hugo Soares posicionou-se sempre do lado oposto ao de Rui Rio, mas ainda não tinha declarado apoio a nenhum candidato. Em entrevista ao programa Sob Escuta, da Rádio Observador, Hugo Soares revelou publicamente o seu apoio a Paulo Rangel, diz estar “mobilizado” para ajudar o eurodeputado a vencer o partido e que está “empenhadíssimo em que Rangel possa ser primeiro-ministro de Portugal”.

Hugo Soares, que era o homem forte de Luís Montenegro nas diretas de 2020, apela ao “bom senso” das duas candidaturas no momento de formar as listas de deputados, para que seja respeitada a democracia interna no partido. Diz ainda que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa deve ter “toda a liberdade” para tomar a decisão sobre a data das eleições, mas que um dos aspetos que deve ter em conta é, precisamente, como estão internamente os partidos que concorrem a essas eleições legislativas. Ou seja: deve esperar que o PSD resolva a sua liderança.

O antigo líder parlamentar diz ainda que é “normal” que muitos dos apoiantes de Montenegro em 2020 votem agora em Rangel, mas regista que uma boa parte dos apoios do eurodeputado eram antes apoios de Rui Rio. Relativamente à discussão da eutanásia no Parlamento, Hugo Soares — que defende um referendo ao assunto –diz que é “vergonhoso” que uma Assembleia da República prestes a ser dissolvida e a semanas de ter nova composição vote um tema “estrutural” como este.

[Ouça na íntegra a entrevista a Hugo Soares]

“Presidente da República não faz fretes a ninguém”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Estou de corpo e alma na candidatura de Paulo Rangel”

Há dois candidatos assumidos à liderança do PSD e não é previsível que apareçam outros. Sempre foi crítico de Rui Rio, mas ainda não se pronunciou publicamente sobre um apoio nas diretas. Quem é que vai apoiar?
Não só não me pronunciei como nos últimos dois anos não tive praticamente qualquer intervenção política pública sobre aquilo que era a atuação do PSD, nem tão pouco do que ia acontecendo no país. Não que não estivesse atento, mas porque entendo que me devia remeter a este silêncio e a este afastamento. Mas a resposta está na pergunta em si: fui crítico da estratégia que Rui Rio adotou para que pudesse ser alternativa no país e, portanto, ao PS. Por isso, consequentemente, e porque creio que nada se alterou, eu apoio a candidatura de Paulo Rangel.

Daquilo que é a sensabilidade que tem — e das reuniões e dos contactos que vai fazendo com companheiros de partido — sabe dizer se a maioria dos apoiantes de Montenegro vai votar naturalmente em Paulo Rangel?
É normal que assim seja. Aqueles que entenderam em 2020 que a estratégia que o partido estava a seguir não era uma estratégia de modo a recolocá-lo como alternativa ao socialismo, é normal que isso possa acontecer. Mas o mais bonito da democracia é a liberdade do voto, da posição individual de cada um e, portanto, os militantes do PSD são livres de fazer as suas escolhas, como são os apoiantes de Rui Rio e os apoiantes Luís Montenegro. Creio, aliás, que Paulo Rangel tem dentro dos seus apoiantes conhecidos e destacados dirigentes do PSD que apoiaram até há bem pouco tempo Rui Rio.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Alguns dos montenegristas dizem que era mais fácil mobilizar voto para Luís Montenegro. Ora, se Luís Montenegro não conseguiu vencer Rui Rio, o que é que o leva a crer que Paulo Rangel pode vencer o atual presidente do PSD?
Não me parece que a questão se coloque dessa forma. Os militantes do PSD têm uma escolha a fazer nestas eleições diretas, que é: que caminho querem para protagonizar uma alternativa que se coloca já ao dr. António Costa. Estamos num cenário de previsíveis eleições legislativas antecipadas e de quem está em condições de derrotar António Costa, protagonizando uma alternativa de poder muito diferente do socialismo. E essa é a opção que os militantes do PSD têm de tomar. Falando por mim, porque tenho dificuldade de olhar para blocos e sacos de votos que existem nos partidos, prefiro que cada um possa exprimir a sua opinião com liberdade, que possa votar de forma livre e escolher o caminho que quer para o partido e para o país porque o PSD só é verdadeiramente relevante porque é fundamental para o país se for uma alternativa ao socialismo e tiver um projeto reformista que devolva o crescimento e desenvolvimento sustentável a Portugal.

"É normal que os militantes que apoiaram Luís Montenegro apoiem Paulo Rangel. Mas os militantes do PSD são livres"

Essa visão romântica do partido e dos votos livres é interessante, mas Rui Rio foi eleito assim e Luís Montenegro também teve muitos votos com o apoio de concelhias e é assim que as coisas funcionam…
Eu não tenho uma visão apenas romântica do aparelho partidário. Eu conheço-o bem e, portanto, não quero parecer naïf naquilo que vai acontecendo nos partido. Aliás, Rui Rio ganhou as eleições de 2020 assim, com grandes blocos eleitorais, agora isso não significa que eu não possa preferir que as pessoas tenham um caminho e uma opinião livres. E creio que a esmagadora maioria dos militantes é essa a decisão que tomam.

… mas indo à pergunta: o tempo de Luís Montenegro chegou ao fim ou fica como uma espécie de reserva para o futuro do partido?
Essa pergunta deve ser colocada a Luís Montenegro. Obviamente que não me eximo de ter a minha opinião. Acho que nenhum militante do PSD chega ao fim naquilo que é o seu espaço político. E portanto, também aí não me parece que o tempo chegue ao fim. Não sei que tempo é esse, se é político, o tempo de vida não. O tempo político só o dr. Montenegro pode dizer o que quer fazer ainda na vida política.

Hugo Soares não deixo de notar alguma desilusão com o facto de o PSD estar confrontado com duas escolhas: Rui Rio e Paulo Rangel. Luís Montenegro teve um resultado muito assinalável nas últimas diretas. Ficou desiludido com o facto de Luís Montenegro não ter avançado com uma candidatura?
A desilusão não é nas minhas palavras, que não transpareci em momento algum isso.

Reformulando: não demonstrou a paixão que era expectável para quem está a apoiar Paulo Rangel.
Mas porquê? Se estou a tornar pública uma posição que podia ser pessoal e não partilhá-la. Bem ao contrário: estou de corpo e alma na candidatura de Paulo Rangel, a apoiá-lo e mobilizado para o combate que o país precisa. Disso não resta qualquer dúvida. Os militantes do PSD e os portugueses conhecem-me suficientemente bem para saber que eu entrego e meto sempre muita paixão nas coisas em que me dedico. É assim na vida, como na política. Foi de resto sempre assim. Portanto, estou empenhadíssimo em que Paulo Rangel possa ser primeiro-ministro de Portugal. Disso não tenham dúvidas.

"Rui Rio ganhou as eleições de 2020 assim, com grandes blocos eleitorais, agora isso não significa que eu não possa preferir que as pessoas tenham um caminho e uma opinião livres."

Pergunto-lhe ao contrário: ficou desiludido por Luís Montenegro não ter avançado?
De maneira nenhuma. Cada militante do partido é livre de fazer a sua opção. Fiquei desiludido por em 2020 não ter ganho a eleição direto. Isso fiquei, porque achava que se isso acontecesse o partido não estava na situação em que está e, por isso, agora apoio Paulo Rangel para que o partido possa sair dessa posição e ser uma alternativa que eu estou absolutamente convencido que tem de existir, a bem do país, ao Governo de António Costa. E é isso que me mobiliza. O país precisa mesmo de um Governo PSD, reformista, que liberte a sociedade do Estado e que permita sobretudo cada um ser aquilo que quer. E Paulo Rangel tem falado muito sobre aquilo que é o elevador social.

Essa disponibilidade de apoiar Paulo Rangel pode ser colaborar diretamente nesta candidatura? Mais tarde integrar uma direção? Ou até um Governo de Paulo Rangel? Há essa disponibilidade para um partido que não seja liderado por Rui Rio mas por Paulo Rangel?
A minha disponibilidade para ajudar Paulo Rangel a ser primeiro-ministro de Portugal é total. Isso não tem a ver nem com lugares nem com integrar qualquer tipo de cargo dirigente. Tem a ver com uma convicção plena de que é preciso que o PSD ganhe as próximas eleições legislativas. E repito: isto não se coloca só no plano do PSD. O PSD é muito importante — é o maior partido português e o maior partido da oposição — mas o PSD só é importante se poder exercer o poder e transformar a sociedade portuguesa. E daí a minha convicção e o meu apoio a Paulo Rangel. Tudo o resto são coisas que não se colocam neste momento da nossa conversa.

"A minha disponibilidade para ajudar Paulo Rangel a ser primeiro-ministro de Portugal é total. Isso não tem a ver nem com lugares nem com integrar qualquer tipo de cargo dirigente"

“Apoios de Rangel vêm em grande medida de militantes que apoiaram Rio”

Portanto, não há nenhum irritante com o facto de Paulo Rangel ter apoiado Rui Rio nas últimas diretas?
Não, de maneira nenhuma. Creio que se houvesse irritantes por um militante ou outro ter apoiado Rui Rio ou Montenegro nesta eleição, Paulo Rangel não estava em tão boas condições de ganhar a eleição como está. Porque aquilo que vamos acompanhando e vamos vendo é que os apoios de Paulo Rangel vêm em grande medida de militantes que apoiaram Rui Rio. São, aliás, conhecidos e têm sido aqueles que mais têm surgido no espaço público. Militantes, dirigentes, protagonistas da candidatura de Rui Rio, quer em 2017, quer em 2019, que agora apoiam convictamente Paulo Rangel. E isso é sinal de que é uma candidatura que tem vindo a crescer e que tem vindo a agregar.

Ainda sobre Paulo Rangel. Na altura, em 2019, Paulo Rangel teve o pior resultado de sempre nas Europeias. Passaram dois anos e meio, o que é o leva a crer que Paulo Rangel possa ser um candidato vencedor nas próximas legislativas?
Sobre essa questão, sem fugir a ela — acho-a até um pouco capciosa e provocatória — não deixo de anotar duas coisas. A primeira é que as circunstâncias em que Paulo Rangel disputou a últimas eleição europeia foram condições muito, mas muito difíceis. Paulo Rangel parte com estudos de opinião que lhe dão um resultado otimista, mantém esse resultado ao longo da pré-campanha e depois lembramo-nos todos daquilo que foi o chamado episódio dos professores, em que o PSD decidiu no Parlamento juntar-se, numa primeira fase, ao PCP e ao BE para fazer uma espécie de coligação negativa contra o Governo. Nada que me choque relativamente a isso, mas quanto à matéria em substância, eu estava em profunda discordância. Aliás, eu estava no Parlamento nessa altura e tive oportunidade de dizer tudo o que achava sobre isso, quer publicamente, quer numa reunião do Grupo Parlamentar. Portanto, creio que ficou manifestamente claro que a responsabilidade do que aconteceu nessa eleição, não pode ser assacada exclusivamente a Paulo Rangel. Se me perguntar se o resultado é mau, é francamente mau. Mas são eleições completamente diferentes. Poderíamos chamar à colação a eleição europeia em que Paulo Rangel ganhou ainda com Ferreira Leite como líder do PSD e com o engenheiro Sócrates como primeiro-ministro e que nada fazia crer que pudesse ganhar essa eleição. E, portanto, esse não é argumento bastante para que não se possa acreditar que Paulo Rangel possa levar o PSD a uma maioria que lhe permita governar nas próximas eleições legislativas.

"A responsabilidade do que aconteceu nas Europeias de 2019, não pode ser assacada exclusivamente a Paulo Rangel."

Continuemos então a falar de responsabilidades de Rui Rio e tenho mais uma provocação para si. Rui Rio é o presidente do PSD que recuperou o Governo Regional dos Açores, manteve a Madeira, ganhou a câmara de Lisboa, teve crescimento noutros pontos do país. Recuperou Barcelos e Funchal.
Posso só fazer uma pergunta?

Deixe-me colocar a pergunta: o que poderia ter feito melhor Rui Rio?
Só para perceber do que estamos a falar. Porque é que foi Paulo Rangel que perdeu as europeias e não foi Carlos Moedas que ganhou a câmara de Lisboa? A responsabilidade Rio quer nas Europeias, quer na câmara de Lisboa é exatamente a mesma: foi ele que escolheu as candidaturas. Colocou a questão de forma correta: recuperou o Governo dos Açores e não, como muitos dizem, e não quero que digam, que o PSD ganha eleições quando as perde. O PSD perdeu as eleições nos Açores, mas conseguiu formar Governo. E, portanto, é bom que sejamos claros nestas matérias. Se Rui Rio aparenta ter vindo a crescer do ponto de vista eleitoral, face àquilo que foi o resultado nas últimas eleições autárquicas, onde ele teve o mérito de escolher os candidatos que venceram. E esse mérito ninguém lhe o tira: chamo à colação os casos de Coimbra, de Barcelos, em que foi público que a direção nacional interferiu nos processos e logrou ter uma vitória. Sobre essa matéria, não há a mínima dúvida, nem nenhum mérito a tirar à direção de Rui Rio e, em particular, ao presidente do PSD. A questão que se coloca não é essa, é: o PSD voltou a ter um mau resultado nas eleições autárquicas e isso não invalida que o PSD não deva procurar uma alternativa interna capaz de ser Governo em Portugal.

Rui Rio não será capaz de devolver o PSD ao Governo?
Se eu entendesse que ele tinha mais facilidade em ser alternativa ao PS que Paulo Rangel, estaria aqui hoje a dizer coisa contrária do que estou a dizer. O que quero dizer é que estou absolutamente convencido que a estratégia defendida por Rui Rio não serviu o partido, não serviu o país e que a estratégia que Paulo Rangel defende é aquela que eu defendo há cerca de três anos, portanto não é novidade para ninguém aquilo que eu estou aqui a dizer. É a alternativa que o PSD e o país precisam. O PSD não pode ser uma espécie de muleta do PS nem estar à espera que o poder lhe caia na mão. O PSD tem de ter uma oposição firme e convincente, mas mais do que isso: deve ter um projeto e um modelo alternativo de governação. E estou absolutamente convencido que é isso que vai sair destas diretas no partido.

"Porque é que foi Paulo Rangel que perdeu as europeias e não foi Carlos Moedas que ganhou a câmara de Lisboa? (...) O PSD perdeu as eleições nos Açores, mas conseguiu formar Governo."

“O Presidente não faz fretes a candidatos partidários”

Estamos a dias do Conselho Nacional, sabemos que muito provavelmente vai ser discutido o adiamento das eleições diretas do PSD. Pergunto-lhe: teme que Rui Rio consiga fazer o mesmo que Francisco Rodrigues dos Santos fez no CDS?
Sobre isso só tenho o seguinte a dizer: espero que, de ambas as partes, das duas candidaturas, e numa delas eu insiro-me de forma absolutamente convicta, que haja o bom senso, a maturidade e a capacidade de proteger o PSD. Quero com isto deixar um apelo profundo para que as duas candidaturas sejam capazes de salvaguardar os valores mais intrínsecos e mais importantes do PSD. A democraticidade interna, a capacidade de nos respeitarmos e de nos ouvirmos. Isso é o mais importante naquilo que se vai discutir num Conselho Nacional que aparentemente foi convocado extraordinariamente por um conjunto alargado de conselheiros nacionais.

Não pode ignorar que há aqui uma questão de calendário que se coloca. Se as eleições forem a 16 de janeiro como pediu a maioria dos partidos ouvidos pelo Presidente da República, Paulo Rangel, se for eleito a 4 de dezembro, terá 48 horas para fazer as listas, o que é uma impossibilidade teórica. Acha que os dois candidatos, Paulo Rangel e Rui Rio, deviam fazer um esforço de conciliação de listas para evitar que a disputa à liderança do PSD se torne numa lógica de mercearia e troca de lugares?
Em primeiro lugar, não sabemos hoje qual é a data das eleições legislativas que vai ser proposta pelo Presidente. Sabemos outra coisa: que está na mão das duas candidaturas alternativas ao PSD gerir todo este processo com capacidade de causar danos maiores à imagem do PSD. E nestas coisas, como creio que na vida, de resto, há uma característica que resolve todos os problemas: o bom senso. E se nós aplicarmos as regras do bom senso àquilo que vão ser os calendários eleitorais, não tenho dúvida que toda esta questão fica ultrapassada.

Uma das maneiras de evitar todo este imbróglio ser marcada para mais tarde. Nesse aspeto o Presidente não acabou por ser pouco prudente ao receber Paulo Rangel na altura em que recebeu e levar a que sugiram que está a fazer um frete a um dos candidatos do PSD?
Aí coloco-me nos sapatos de um dirigente do PS se esta situação estivesse a acontecer no PS. Para dizer o seguinte: o Presidente da República deve atender a todas as circunstâncias políticas que estão no panorama e no espaço público para poder tomar uma decisão que defenda sobretudo o interesse nacional. E é de facto de interesse nacional que estamos aqui a falar. E por isso eu quero dizer o seguinte: é evidente que aquilo que está a acontecer nos partidos, seja no PS, que está com a sua liderança estabilizada, seja nos partidos mais à direita e do centro-direita como é o PSD, onde a questão da liderança está a ser disputada, deve ser tomada em consideração pelo Presidente da República. Acho toda esta discussão um pouco estéril. Se o Presidente não atende ao que está a acontecer nos partidos, atende ao quê?

Mas essa discussão foi iniciada pelo próprio Presidente da República quando ainda em outubro gizou um calendário.
O Presidente da República tem larga experiência política: doi dirigente partidário, foi líder partidário. É, de facto, alguém com uma experiência política como há poucos no nosso país. Vai no exercício do segundo mandato como Presidente. Ele saberá resolver esta situação ouvindo quem tem de ouvir: os parceiros sociais, o Conselho de Estado, os partidos políticos, mas olhando para aquilo que ele sabe que está a acontecer. Por isso é que eu acho a discussão não aproveita a ninguém. Ele deve ter total liberdade para decidir, olhando para o que está a acontecer. E se ele não olha para o que está a acontecer no maior partido português, olharia a quê? Isto não significa que esteja a fazer um frete a nenhum candidato. Nós sabemos que o Presidente da República não faz fretes a candidatos partidários. Nunca fez. Nenhum Presidente o fez.

Mas foi acusado até por uma ala do PSD de fazer um frete a António Costa nos últimos anos.
Eu sei. Mas o mote desta nossa conversa é mesmo um apelo à serenidade e ao bom senso dentro do PSD. A minha opinião é clara: o Presidente deve decidir em consciência, olhando a tudo o que está a acontecer no espaço político e partidário. Quem é que concorre às eleições legislativas? São os partidos que estão constitucionalmente em condições de o fazer. E se são eles, o Presidente deve tomar tudo o que sabe e tudo o que vê sobre os partidos em consideração quando marcar a data das eleições. Na minha opinião, o interesse nacional pressupõe que os partidos tenham as questões internas resolvidas.

Se Marcelo Rebelo de Sousa marcar eleições para 16 de janeiro está a fazer um frete ao PS porque não permite à direita que se reconfigure?
Obviamente que não vou dizer isso. Se eu estou a dizer que o Presidente tem total liberdade para marcar eleições, ouvindo os parceiros sociais, os partidos e o Conselho de Estado, olhando a tudo o que é circunstância política que o país atravessa, não vou ser eu que vou dizer que — se ele marcar assim ou assado — estará a fazer um frete a alguém. Creio até que é uma linguagem que não deve ser utilizada a respeito do Presidente.

Se não marcar para depois de 16 de janeiro não vai estar a atender aos interesses nacionais
Não vou classificar ou adjetivar a forma como o Presidente vai tomar uma decisão que ainda nem sequer foi tomada. Aliás, tudo o que alguns protagonistas possam dizer sobre essa matéria, pode ser até atendida como uma forma de condicionamento. Mas é legítimo que os partidos tenham posições sobre a data das eleições. É para isso que eles são chamados. Mas se os partidos têm a sua liderança em discussão, é legítimo os candidatos à liderança e que possam a ser a disputar essa eleições legislativas tenham também uma opinião.

Já percebi que não vai responder à próxima pergunta pelo posicionamento de não comentar as posições do Presidente.
Eu comento as posições do Presidente. Os partidos podem e devem discordar das posições do Presidente da República.

Mas avançamos já pergunta e vemos se tem uma resposta direta. O Presidente da República terá tentado chegar a uma solução a que permitisse que o Orçamento fosse viabilizado através de contactos diretos com o PSD/Madeira. Isto não é uma espécie de ingerência institucional noutro órgão de soberania?
Sobre essa matéria só posso falar sobre aquilo que os protagonistas disseram. Ouvi tanto o presidente do PSD/Madeira, o meu amigo Miguel Albuquerque, como ouvi o Presidente da República dizer que não houve nenhum contacto da Presidência da República, portanto não vou comentar com base em meia-dúzia de notícias. Era o mesmo que dizer: não acredito na palavra do Presidente. E isso, jamais.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Há condições para Governo minoritário do PSD ser viabilizado sem acordo formal com o Chega”

Avancemos então. Precisamente por esse orçamento não ser viabilizado, o Presidente decidiu avançar para eleições e há aqui uma grande questão que é: como fica o cenário pós-eleitoral. Há aqui um problema que é: não haver governabilidade. As sondagens apontam o PSD longe da vocação maioritária de que fala Paulo Rangel e há um potencial crescimento do Chega. Uma posição como a dos Açores podia ser aplicada no continente?
Antes disso, tudo isto tem uma causa: 2015. Em 2015, lembramos todos que António Costa fez gáudio em dizer que tinha dinamitado o arco da governação em Portugal, quebrando um muro que parecia inultrapassável de dar poder de governabilidade, se quiser, ao Bloco de Esquerda e ao PCP. Só que aquilo que António Costa fez foi colocar-nos num beco sem saída. Perante aquilo que foi a sua necessidade de se manter no poder e, por um lado, esta de António Costa e, por outro, a necessidade que o PCP e o BE tiveram de arredar do poder quem tinha somado mais deputados e ganho as eleições legislativas e impedir Pedro Passos Coelho de governar num cenário pós-troika, criaram este beco sem saída. Quando dinamitou o arco de governabilidade, como ele próprio disse, o que ele fez foi: não ter criado outra solução alternativa. Hoje António Costa é refém da sua necessidade de se manter no poder em 2015. E isto cria um problema gravíssimo ao país. Estas questões são mais profundas do que a mera soma aritmética dos votos na Assembleia da República. Isto nunca tinha acontecido em Portugal. Nós já tivemos Governos minoritários, vários até, que não deixaram de ter condições de governabilidade, umas com mais sustentação, outras com menos, mas que eram minoritários. O que aconteceu é que, perante a tal necessidade de António Costa em 2015 não perder o poder no PS e ter de ser primeiro-ministro a todo o custo, criou um beco sem saída na democracia portuguesa. Que eu espero que estas eleições possam resolver porque, caso não resolvam, vamos ter de criar condições para que haja um Governo minoritário em Portugal, como já houve muitos.

"Eu fui dos poucos militantes do PSD que discordou daquilo que aconteceu nos Açores. Estou absolutamente convencido que o partido de André Ventura não tinha a mínima hipótese de chumbar um Governo apresentado pelo nosso companheiro José Manuel Bolieiro sem que tivesse havido a necessidade de haver uma coligação formal"

E sobre o Chega?
Eu vou lá. Respondendo à pergunta, creio que há muitas formas de um Governo minoritário do PSD ter aprovação do Parlamento sem necessidade de ter nenhuma coligação formal com o Chega.

Mas em particular a situação dos Açores pode ou não ser repetida?
Eu fui dos poucos militantes do PSD que discordou daquilo que aconteceu nos Açores. Estou absolutamente convencido que o partido de André Ventura não tinha a mínima hipótese de chumbar um Governo apresentado pelo nosso companheiro José Manuel Bolieiro sem que tivesse havido a necessidade de haver uma coligação formal porque o Chega não ia ficar com o ónus de viabilizar um Governo de esquerda, inviabilizando um Governo de centro-direita. E é isso que deve acontecer no Parlamento português, mas vamos esperar para ver qual é a recomposição.

Mas seguindo o raciocínio de há pouco, admite que o PSD possa vir a ser Governo sem vencer as eleições?
Tenho muitas dificuldades em antever esse cenário.

Mas era um cenário possível em teoria.
Em teoria, todos os cenários estão em aberto. Se me pergunta se é a minha preferência ou se defendo que isso aconteça, não.

A partir do momento em que António Costa teve essa solução em 2015 legitimou que o PSD também possa governar se ficar em segundo?
Essa possibilidade esteve sempre em aberto. Nunca aconteceu porque nunca houve necessidade ou porque os partidos procuraram, por um lado, respeitar aquilo que foi o voto popular e, por outro, sobretudo à esquerda, nunca houve essa possibilidade do BE e do PCP viabilizarem um Governo minoritário do PS. É evidente que abriram um precedente, uma caixa de Pandora, que nos colocou neste beco sem saída. E, portanto, desde que isso aconteceu, é evidente que está tudo em aberto.

Sendo Rui Rio ou Paulo Rangel, no caso Rangel já disse que não faria qualquer acordo com o Chega, mas no cenário em que o Chega seja absolutamente essencial para que o espaço da direita possa ter uma maioria, o PSD não está aqui perante uma escolha inevitável de falar e conversar com o Chega?
Estamos em cenários. Plausíveis, mas cenários. Vou colocar um: imagine que o PSD ganha as eleições legislativas, mas não tem uma maioria que permita governar. E o que vai acontecer é o mais normal: o Presidente da República chamar o partido mais votado para saber se tem condições de formar Governo e apresentar o seu programa de Governo na Assembleia da República. É assim. Alguém antevê que, se isso acontecer, mesmo sem qualquer coligação formal, que o Chega possa chumbar o programa de Governo do PSD, deitando o Governo liderado por Paulo Rangel abaixo para dar o poder de mão-beijada a António Costa.

Vamos acreditar nas palavras de André Ventura que disse que faria exatamente isso.
Mas eu não acredito. Estou no meu direito de não acreditar. Creio que essa é uma posição de força que André Ventura quer fazer valer, mas é o risco da democracia. A política é estratégia e é confronto.

"O que eu quero é que o PSD seja capaz de ser de tal forma alternativa que consiga reduzir ao mínimo a representatividade eleitoral do Chega."

Mas é natural que André Ventura queira, no caso de ser fundamental para garantir essa maioria, que exija alguma coisa em troca. E nesse momento o PSD deve-se sentar à mesa tratando o Chega como um partido como os outros ou não?
Primeiro, o Chega pode exigir o que quiser e o PSD pode dar-lhe ou não. E pode pôr a votação o seu programa de Governo e o Chega fica ou não fica com o ónus de devolver a governação à esquerda. Não estou a ver o Chega a fazer isso: a minha convicção é que André Ventura tem que viabilizar um Governo de centro-direita. Eu estou muitas vezes nos antípodas do que são as posições políticas defendidas pelo Chega, mas nos antípodas mesmo: estou tão nos antípodas do Chega, como estou do BE e do PCP. Mas se o povo português der representatividade parlamentar ao Chega, não só o PSD como todos os demais partidos devem, por maioria de razão, e isso já acontece hoje. Se quisermos olhar sem hipocrisia para aquilo que é a dialética parlamentar, sabem que os partidos dialogam com o Chega, seja na dialética parlamentar, seja nas comissões, seja no trabalho parlamentar que se faz. Isso é uma coisa em que tem de se agir com naturalidade. O que eu quero é que o PSD seja capaz de ser de tal forma alternativa que consiga reduzir ao mínimo a representatividade eleitoral do Chega. Isso eu quero. Não sendo o Chega o nosso adversário, nem de perto, nem de longe, mas espero que muitas pessoas que se revêem no Chega como forma de protesto contra o Chega, possam nestas eleições legislativas depositarem a confiança no PSD, esvaziando assim o Chega eleitoralmente.

O Presidente da República vai dissolver a Assembleia da República por não existir Orçamento. É natural que eventualmente venha a pedir, antes de dar posse a um Governo, uma garantia de estabilidade que inclua, por exemplo, a aprovação de alguns documentos estratégicos, como o Orçamento do Estado. Marcelo deve fazer isso? Chamar um bloco e obrigá-lo a garantir que aprove o próximo orçamento e os seguintes?
É muito cedo para fazer essa comentário, porque não sabemos o que vai sair. É diferente se for à esquerda, se for à direta. O próprio Presidente da República deve ter essa consciência hoje: é muito diferente se as maiorias se compuserem à direita ou à esquerda relativamente à exigência desses documentos. Se for à esquerda, já vimos que eles são necessários. Tivemos as duas experiências: a de uma governação à esquerda de um partido que não ganhou eleições com o apoio do PCP e BE com acordos escritos, e cumpriram. No essencial, levaram a legislatura até ao fim, ainda que fosse uma legislatura de reversão, e de destruição de valor no país. E depois tivemos uma metade de uma legislatura em que os dois partidos que fingiam ser posição, eram também oposição e que terminou com o derrube do Governo no Parlamento. Ora, depende das maiorias que se vierem a formar. Se for à esquerda, creio ser inevitável: por desconfiança, porque já teve a experiência do passado. Se for à direita, depende de como elas se compuserem. E eu não estou certo como elas se vão compor no Parlamento.

Acabou de revelar nesta entrevista que apoia Paulo Rangel. Se Rangel conseguir vencer as diretas do PSD, enfrentará legislativas num curto espaço de tempo. Se Rangel perder as eleições deve apresentar a demissão?
Estou absolutamente convencido que Paulo Rangel vai ganhar as eleições. Estou mesmo. Para já porque o país está mesmo farto da governação de António Costa. E está farto pelas mesmas razões que importaria também as discutirmos. O país está cansado da falta de autoridade de Estado, de um primeiro-ministro que protege constantemente os seus amigos, de uma carga fiscal que já ninguém aguenta. E não tem horizonte. O país sabe que com o PS a governar, não há capacidade de reforma estrutural que nos alavanque para outro patamar de crescimento e desenvolvimento. E, portanto, eu creio que o Paulo Rangel irá ganhar as próximas eleições legislativas. Se as perder, essa pergunta tem de ser colocada ao próprio. Eu não coloco sequer essa possibilidade. O próprio tem dito que quer o PSD com uma capacidade e uma vocação maioritária, o que induz que quer um resultado que lhe permita governar sem margem para dúvidas e é nesse cenário que eu estou também a trabalhar.

“É vergonhoso se Parlamento votar eutanásia perto da dissolução”

O Parlamento ainda vai ter tempo, ao que tudo indica, segundo indicação do Presidente, para votar novamente a eutanásia. O PSD deve voltar a falar neste assunto e insistir na realização de um referendo?
É evidente que sim.

Mesmo que seja aprovada a lei?
Há pouco falávamos sobre a questão interna do PSD e eu dizia que o bom-senso tudo resolve. Uma matéria como esta, que é uma matéria fraturante, que há portugueses que defendem dentro do PSD uma larga franja que seja objeto de um referendo nacional, é uma questão que merece uma reflexão apurada. E o Parlamento, que estará dissolvido quando essa questão vier a ser colocada, vai agora decidir sobre uma matéria que não sabe o que dali a 15 dias a maioria parlamentar vai defender? Acho inacreditável que se possa colocar a questão da eutanásia na agenda parlamentar. Com toda a franqueza. Quer os promotores da iniciativa, quer os que a vão votar, de uma maneira ou de outra, têm de ter a capacidade de perceber que os portugueses exigem um grau de maturidade à AR em votar nos próximos tempos aquilo que é absolutamente essencial e deixar para o novo Parlamento questões que são absolutamente estruturantes. E essa é uma questão absolutamente estruturante. É de extremo mau gosto, inoportuno do ponto de vista político. Dá aquele ar de que a esquerda mais radical, a mata-cavalos quer aprovar ainda aquilo que lhes sobra daquilo que eles acham que é a sua agenda para o país. Creio que é vergonhoso que isso possa acontecer.

"O Parlamento, que estará dissolvido quando essa questão vier a ser colocada, vai agora decidir sobre uma matéria que não sabe o que dali a 15 dias a maioria parlamentar vai defender? Acho inacreditável que se possa colocar a questão da eutanásia na agenda parlamentar"

Há pouco sugeriu que Luís Montenegro não estava fora de ocupar nenhum cargo no futuro, embora tenha dito que lhe devíamos perguntar a ele. Pergunto-lhe também se  Pedro Passos Coelho ainda está como reserva do partido e pode voltar a ser o candidato do PSD a primeiro-ministro?
Luís Montenegro e Passos Coelho são dois quadros, cada um à sua medida, completamente imprescindíveis dentro do PSD. Assim eles tenham vontade e assim que eles queiram. Se o contributo deles passa por serem líderes partidários, por serem candidatos a qualquer outras funções ou até às funções que os líderes partidários lhe reservem, e que eles entendam que possam dar o seu contributo, não sei. Sei que são dos melhores quadros que o PSD tem como temos outros. Mas esses dois são, de facto, uma referência. Cada um deles podem ser na política aquilo que quiserem.

Aquilo que quiserem, significa que Passos Coelho também seria um bom candidato a Presidente da República ou está talhado para funções mais executivas?
Repito: qualquer um dos dois pode ser aquilo que quiser do ponto de vista político porque têm características humanas para isso. E políticas. Essas são conhecidas, eu conheço-as bem e também são conhecidas publicamente.

João Pedro Morais/Observador

Mesmo para terminar, porque falou-se ligeiramente nos bastidores quando Luís Montenegro ainda não tinha decidido avançar sobre a possibilidade de um ou outro candidato da facção dos montenegristas. O Hugo Soares foi um desses nomes. Alguma vez pensou ser candidato à liderança do PSD ou pensa algum dia vir a ser?
Ser candidato à liderança do PSD, é o maior desafio que um português que esteja na política possa enfrentar. Porquê? Porque ser candidato à liderança do PSD é estar às portas de ser primeiro-ministro. E esse é o desafio maior para quem gosta de estar na política. Se me pergunta se esse é um cenário que estou a ponderar neste momento, respondo-lhe que não.

Mas não exclui.
Se me pergunta que é um cenário que colocou ou coloquei nos últimos tempos, respondo-lhe frontalmente que não. Não me vai pedir que faça como alguém já fez, que disse eu não sei quando, mas vou ser.

Quem disse isso foi Durão Barroso e acabou por ser.
Eu estou longe de ter aspirações a Zandinga.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.