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O  deputado do Partido Socialista (PS), Porfírio Silva, intervém durante o debate parlamentar sobre o estado da Nação, na Assembleia da República, em Lisboa, 21 de julho de 2021. ANTÓNIO COTRIM/LUSA
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ANTÓNIO COTRIM/LUSA

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

"PS deve ter candidato que tenha dado um contributo ao país nesta última década"

Em entrevista, e sem escolher entre Seguro e Centeno, Porfírio Silva traça o seu perfil de candidato: que tenha servido o país na última década, que perceba a UE e que tenha vida além da partidária.

Não fala de nomes para as eleições presidenciais, prefere não comentar o possível avanço de António José Seguro, mas, quando desafiado a traçar um perfil ideal do candidato para representar a “esquerda democrática” na corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, desenha um fato que cabe na perfeição a Mário Centeno: alguém que tenha servido o país nos últimos dez anos — Seguro esteve fora; alguém que tenha percurso político para lá do partido — Seguro ‘só’ chegou a secretário-geral do PS; alguém que perceba da União Europa — e não consta que Seguro tenha sido presidente do Eurogrupo.

Em entrevista ao Observador, no programa Vichyssoise, Porfírio Silva, antigo deputado do PS e atual diretor do “Ação Socialista”, defende aliás que todos aqueles que alimentam o sonho de serem candidatos deviam, antes de tudo o resto, mostrar a capacidade de “medir o tempo”. “É ver do ponto de vista do conjunto, do ponto de vista da nação, e não meramente do ponto de vista individual”, fez questão de sublinhar o socialista.

Porfírio Silva fala ainda do episódio que envolveu Sónia Sanfona, autarca socialista de Alpiarça, e mais umas declarações que mereçam críticas a partir do próprio PS sobre uma alegada colagem ao Chega. O antigo deputado socialista condena as declarações da autarca, recusa a ideia avançada por Francisco Assis de que o partido precisa de definir linhas orientadoras, mas não deixa de apontar um caminho: “Não queremos mimetizar aquilo que a extrema-direita faz”.

De resto, o socialista deixa ainda uma crítica a José Pedro Aguiar-Branco, por se ter convencido de que conseguiria controlar a bancada de André Ventura fazendo “festinhas na cabeça do Chega”, e a Luís Montenegro, que, diz Porfírio Silva, aparece frequentemente “com um sorrisinho cínico a dizer coisas inaceitáveis”. “É um tipo de postura na política que, em termos de caráter pessoal, me desagrada um pouco”, diz.

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“Não queremos mimetizar aquilo que a extrema-direita faz”

Esta semana mais um autarca socialista, no caso a presidente da Câmara Municipal de Alpiarça, veio fazer declarações sensíveis sobre a retirada de apoios sociais a quem apresenta sinais exteriores de riqueza. É uma linha de argumentação em que o PS deve entrar?
Penso que não. Nós temos uma noção muito clara daquilo que o Estado Social e os serviços públicos e a comunidade no seu conjunto podem fazer pelas pessoas. E que deve ser bem gerido e gerido na direção de quem precisa, para podermos potenciar a boa utilização de todos os recursos. Mas não devemos confundir isso com retratos robô mais ou menos apressados. E isso às vezes acontece, mas não é uma linha e não pode ser uma linha de atuação.

Francisco Assis, por exemplo, falou na necessidade da direcção do Partido de definir linhas orientadoras para evitar que haja uma colagem de autarcas do Partido Socialista a um discurso que é mais normal ouvir a partir do Chega. Concorda com a ideia de que é preciso uma linha orientadora, sobretudo para as eleições autárquicas?
O PS não funciona na base de linhas orientadoras ditadas por alguém. Funciona na base da capacidade de dialogarmos entre nós acerca da melhor forma de responder aos desafios em cada momento. Não se trata de definir para os outros linhas orientadoras; trata-se de, naturalmente, de aprofundar o debate acerca das melhores respostas a dar aos problemas que cada território tem. Esse debate nunca foi interrompido e nunca é interrompido. Está em curso, e é partilhado entre todos aqueles que têm as responsabilidades.

Este é o segundo episódio deste tipo, já tivemos um primeiro com o Ricardo Leão… Como é que o PS deve preparar esse combate, essa denúncia dos problemas que existem no território nacional, sem mimetizar o que à direita se vai dizendo?
Não queremos mimetizar aquilo que a extrema-direita faz. A extrema-direita fala de uma certa maneira sobre problemas, mas o que nos interessa não é falar sobre os problemas; é resolver os problemas. Do nosso ponto de vista, aquilo que tem de ser dito tem de ser de acordo com aquilo que tem de ser feito. Estamos fartinhos de ver um partido de extrema-direita, que está representado no Parlamento, a denunciar, a proclamar grandes princípios, e depois, na prática, a forma como vota e a forma como se comporta é contrária a isso. O que temos de ter é uma prática que depois traduz um discurso de resolução dos problemas. Em relação a Ricardo Leão: estive entre aqueles que acharam que aquelas declarações não eram apropriadas aos nossos princípios; mas não conheço nada que Ricardo Leão tenha feito que seja contrário aos nossos princípios. Na prática, creio que ele não tem feito e não tenciona fazer nada que choque com o nosso ideário. Mas não podemos ceder a esse nível discursivo.

Mas o PS deve, por exemplo, fazer um discurso mais concentrado na fiscalização dos apoios sociais atribuídos?
O PS não precisa de fazer esse discurso. A nossa prática, aos vários níveis de governação, sempre foi a seguinte: precisamos gerir bem o Estado Social para que as pessoas reconheçam que o dinheiro é bem gasto, que só se gasta naquilo que é preciso, que não se desperdiça o dinheiro das pessoas e que ao mesmo tempo atingimos os melhores resultados. Isso é uma batalha de sempre. Agora, também é verdade que é uma batalha que nunca está ganha. É algo que se aperfeiçoa todos os dias. Não podemos é confundir-nos em momento algum com aqueles que não fazem ideia nenhuma de como é que isso se faz, que nunca fizeram isso, que não estão nada interessados nisso, que só estão interessados em explorar o ruído acerca disso. Não podemos nunca dar essa oportunidade a esses oportunistas que andam por aí.

"Montenegro ou Passos num moliceiro? Passos. Pelo menos sabemos com o que é que contamos. Prefiro ir com alguém e saber aquilo com que conto, do que alguém que me parece muitas vezes um pouco dissimulado e com um sorrisinho cínico a dizer coisas inaceitáveis, que é um tipo de postura na política que, em termos de caráter pessoal, me desagrada um pouco"

“PS deve ter candidato que tenha prestado relevantes serviços à democracia”

António José Seguro tem o perfil do candidato presidencial da área socialista?
Não tenciono ser candidato presidencial e portanto não tenciono começar a falar de nomes. Mas a mim interessa mais aquilo que a esquerda democrática pode fazer para dar um contributo ao país. Quem quiser ser candidato deve ser capaz de medir o tempo, de medir o que está em causa. Mário Soares deu-nos uma grande lição: não quis ser candidato na primeira eleição presidencial democrática porque no seu entendimento ainda não era o tempo de candidatar um civil. Ora, isto é ter a noção do tempo em que se vive. É ver do ponto de vista do conjunto, do ponto de vista da nação, e não meramente do ponto de vista individual. Precisamos que os potenciais candidatos pensem as coisas dessa maneira a cada momento.

Houve aqui uma precipitação? Antes de alguém avançar era importante perceber o que é que era importante e qual o perfil certo para o PS? E, já agora, qual é esse perfil?
Acho que é importante que haja critérios. A esquerda democrática deve ter um candidato que tenha prestado relevantes serviços à democracia, que seja reconhecido pelos cidadãos em geral como alguém que deu o seu contributo ao país, designadamente nesta última década, em que foi feito um trabalho importante para nos libertarmos do pensamento único da troika, alguém que tenha um percurso profissional fora da política partidária, com um pensamento sobre o país e com um pensamento sobre o estado do mundo que seja conhecido. Já agora, alguém que conheça bem o contexto político e institucional da União Europeia, porque uma parte importante daquilo que podemos ou queremos fazer em Portugal tem que ver com o contexto europeu.

Pode dizer o nome de Mário Centeno. Esse perfil encaixa-lhe que nem uma luva.
Não vou dizer nomes porque acho que a discussão em termos públicos não deve ser assim nesta fase. Quem estiver interessado deve procurar os seus caminhos. Mas isto são critérios que para mim são importantes. Já agora, acrescento um item nesta lista: é importante que seja um candidato palatável para a direita democrática. Não estou a falar em termos de partidos, mas alguém que seja palatável para aqueles cidadãos que se sentem de direita, que se sentem democratas e que sentem que há um risco para a própria direita democrática. Um candidato da esquerda democrática, um candidato da área do PS, não será nunca um candidato para representar só o eleitorado típico do PS. Tem que ser alguém que seja capaz de abertura, que seja capaz de dar confiança aos democratas em geral.

Alguém avançar já dá-lhe vantagem e condiciona o PS? Mais concretamente: António José Seguro condicionou aqui a ação do PS?
Qualquer coisa que os candidatos ou putativos candidatos façam acabam por condicionar, mas também não vou criticar isso. Jorge Sampaio, que foi um magnífico Presidente da República, se não se tivesse antecipado um pouco ao seu próprio partido, se calhar não teria sido candidato.

Nas últimas presidenciais, sobretudo em 2006 e em 2016, o PS acabou sempre por dividir-se. Há o risco disso acontecer agora?
O risco do partido se dividir será maior se não aparecer ninguém em quem o partido se reveja completamente, claro. Mas uma divisão do campo eleitoral não é necessariamente mau para a estratégia final e para ganhar as eleições. No confronto Mário Soares—Freitas do Amaral, provavelmente se Mário Soares e Freitas do Amaral tivessem concorrido sozinhos à partida, o resultado podia ter sido diferente. Às vezes, a possibilidade de alargar um campo e haver a possibilidade de ver várias alternativas para depois podermos juntar forças não são necessariamente más para vencer uma batalha que era importante que pudéssemos vencer.

"Aguiar-Branco entrou por uma linha de tentar fazer festinhas na cabeça ao Chega, tentando acalmar, mostrando tolerância para coisas que são ditas naquela casa e que são apelos ao ódio, são ataques diretos a grupos identificados da sociedade. E isso não é tolerável. A partir do momento em que se dá a ideia de que se pode dizer tudo, o passo seguinte é a ideia de que se pode fazer tudo"

“É um  estranho ver um chefe militar a falar de presidenciais”

Referiu que Mário Soares soube olhar para o país na altura das presidenciais e perceber que não era ainda o tempo de um Presidente civil. Manuel Castro Almeida, do PSD, disse que seria uma “anormalidade” ter de novo um militar como Presidente da República. Concorda?
Concordo que é um pouco estranho. Sobretudo para um país em que a normalização democrática passou também pelo assumir por parte de quem exerce a função militar de que não deve procurar invadir o campo da decisão política. Para quem sabe que o regresso dos militares aos quartéis foi um aspeto da normalização democrática, é um pouco estranho ver um chefe militar fardado na televisão a falar de candidaturas presidenciais — mesmo que seja para dizer que só fala disso mais tarde.

Mas é sinal de que os partidos falharam?
É sinal de que as democracias atravessam muitas dificuldades. E atravessam dificuldades porque há muita gente que vive mal, há muita gente que tem dificuldade em fazer chegar o salário ao fim do mês, há muita gente que tem dificuldade em sentir que o seu trabalho, a vida de todos os dias, é reconhecido, porque há muita gente que sente que não pode dar aos seus filhos tudo aquilo que desejava. E porque há muita gente a explorar a violência e a agressividade no espaço público. Perante as dificuldades, há quem procure agregar, encontrar soluções, caminhos de reforço das instituições democráticas; e depois há quem procure um nicho dentro dessas dificuldades para singrar. Há sempre aquelas plantinhas que estão bem nos sítios onde há menos sol. É uma pena.

Ainda esta semana um jornal dizia que existiam muitos socialistas entusiasmados com uma candidatura de Gouveia e Melo. Consegue compreender esse entusiasmo dentro do PS?
No que diz respeito ao meu partido, acontece muitas vezes ver notícias na comunicação social em que eu olho e digo: “Olha, devo andar muito distraído, não devo andar a falar com ninguém, devo andar muito desaparecido porque não sei nada disso que vejo na notícia”.

Ainda não se cruzou com ninguém entusiasmado?
Enfim, nessa notícia era citado um militante e esse militante até acredito que tenha esse entusiasmo. Mas ainda não me cruzei com mais do que um.

O PS devia combater de forma ativa a candidatura de Gouveia e Melo?
A nossa função não é atacar este ou aquele putativo candidato. A nossa função é termos alguém que agregue, que represente o futuro, que represente a responsabilidade, que represente os pés na terra e os olhos no futuro.

Aqui era mais uma questão de alertar para os eventuais riscos de termos um militar na Presidência da República.
Já expliquei o que é que acho sobre ver um militar nessa função. Mas também acho que não devemos diabolizar a função militar ou diabolizar este ou aquele militar que acha que é espetacular para representar a República. Acho que o trabalho deve ser pela positiva.

Na semana passada, o Chega colocou tarjas no edifício da AR. Escreveu no Facebook que Aguiar Branco foi cúmplice do que aconteceu por permitir “abusos” ao Chega. O presidente da Assembleia da República tem sido demasiado permissivo com o partido liderado por André Ventura?
Não queria ser arrogante em relação a quem tem a responsabilidade de conduzir os trabalhos da Assembleia, que é uma função difícil nesta altura. É difícil lidar com quem está fora das normas de boa educação. O que acontece quando os antidemocratas, que não respeitam nada nem ninguém, nem sequer os mínimos de boa educação, entram na casa da democracia, é que é muito difícil lidar com essa situação. Tinha alguma admiração pela forma como Augusto Santos Silva presidia a Assembleia da República e ele próprio também não terá sido sempre feliz. Mas Aguiar-Branco entrou por uma linha de tentar fazer festinhas na cabeça ao Chega, tentando acalmar, mostrando tolerância para coisas que são ditas naquela casa e que são apelos ao ódio, são ataques diretos a grupos identificados da sociedade. E isso não é tolerável. A partir do momento em que se dá a ideia de que se pode dizer tudo, o passo seguinte é a ideia de que se pode fazer tudo.

"Para quem sabe que o regresso dos militares aos quartéis foi um aspeto da normalização democrática, é um pouco estranho ver um chefe militar fardado na televisão a falar de candidaturas presidenciais — mesmo que seja para dizer que só fala disso mais tarde"

“Montenegro parece muitas vezes um dissimulado e com um sorrisinho cínico”

Vamos ao segundo segmento do nosso programa, o bloco “Carne ou Peixe”, onde só pode escolher uma de duas opções. Quem levaria num moliceiro pela Ria de Aveiro: Pedro Passos Coelho ou Luís Montenegro?
Pedro Passos Coelho.

Quer explicar porquê?
Pelo menos sabemos com o que é que contamos. Prefiro ir com alguém e saber aquilo com que conto, do que alguém que me parece muitas vezes um pouco dissimulado e com um sorrisinho cínico a dizer coisas inaceitáveis, que é um tipo de postura na política que, em termos de caráter pessoal, me desagrada um pouco.

Vamos imaginar que na segunda volta das presidenciais tinha de escolher entre Luís Marques Mendes ou Henrique Gouveia Melo. Que carinha taparia para pôr a cruz?
Não sei quem é Gouveia Melo. Não sei. Imagino que não queira ser Presidente da República para ser uma espécie de chefe militar. Quanto ao resto, o que pensa da política para o país, política para o mundo, o que pensa sobre as instituições, se vai fazer a mesma coisa que Marcelo Rebelo de Sousa, que sempre que há Orçamento ameaça dissolver a Assembleia em caso de chumbo, ou se vai perceber que não é isso que diz a Constituição. Não sei. Não sei quem é Gouveia e Melo. Não faço a mais pequena ideia.

Portanto, tapava a carinha de Marques Mendes. É aquele velho ditado: antes um diabo conhecido do que um anjo desconhecido.
Pois, se calhar.

Para terminar: a quem é que oferecia o seu livro neste Natal, o Esquerda Plural — Legislatura e Meia: a Mariana Mortágua ou a Paulo Raimundo?
Não posso oferecer dois exemplares, um a cada um?

É o espírito natalício.
Exatamente. E acho que merecem.

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