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Para Rodrigo Amarante, tudo se resume a uma lista de prioridades óbvia: "Comer um peixe em Matosinhos, por exemplo, não tem como reproduzir essa experiência"
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Para Rodrigo Amarante, tudo se resume a uma lista de prioridades óbvia: "Comer um peixe em Matosinhos, por exemplo, não tem como reproduzir essa experiência"

Para Rodrigo Amarante, tudo se resume a uma lista de prioridades óbvia: "Comer um peixe em Matosinhos, por exemplo, não tem como reproduzir essa experiência"

Rodrigo Amarante: "O que é que eu posso dizer... a vida é mais do que carreira"

No ano passado regressou aos discos, com "Drama". Agora, regressa aos palcos. Antes do primeiro de três concertos em Portugal, o brasileiro fala-nos de trabalho, de respeito, de comida e de livros.

Há formas diferentes de avaliar a passagem do tempo. Há quem corra atrás dos dias que já passaram, porque aconteceu tudo depressa de mais e ficou muita coisa por fazer e muita conversa por terminar. Outros juram que o calendário muda de folha com uma lentidão exagerada e que estamos todos atrasados. Rodrigo Amarante está numa categoria diferente. Parece não exigir nada, vive pronto para o que cada dia lhe apresenta. Não é defeito nem feitio: à distância de uma conversa via Zoom, soa mais a virtude do que a prejuízo. Invejar-lhe a forma descontraída com que leva a vida não é pecado mortal, é apenas inevitável.

Foi no verão do ano passado que editou Drama, o álbum sucessor de Cavalo. Entre ambos passaram seis anos, mas quando lhe perguntamos se não é tempo a mais, Amarante tem a certeza de que foi apenas o tempo necessário e suposto. Música é trabalho, o trabalho dele é a música e o resto que vá para o inferno. Não há datas de validade, até porque não há inspiração divina. Há uma vida feita para compor, tocar e cantar. E se é preciso quase um ano para levar o mais recente disco pelos palcos do mundo, que assim se faça. Mesmo que seja sem banda, mesmo que a pandemia tenha obrigado a refazer as contas.

Verdade seja escrita: Drama é um álbum sem prazo, ouve-se hoje como se fosse coisa nova, mantém-se sedutor e intrigante, tal como se revelou no dia em que nos chegou aos ouvidos. Um cruzamento de verão brasileiro eterno com a clássica imagem romantizada de uma costa Oeste americana feita de heróis folk, cowboys domesticados e relógios que não sabem quando acaba o dia e começa a noite. É essa imagem de coolness eterna que Rodrigo Amarante traz a Portugal para três concertos, o primeiro já no Festival Tremor, dia 9, sábado, no Coliseu Micaelense, em Ponta Delgada (depois haverá concerto no Porto, dia 18, na Casa da Música, e em Lisboa, a 19, no Capitólio).

Rodrigo fala-nos a partir de Los Angeles, na assoalhada espaçosa e confortável a que chama estúdio, na cidade que escolheu para fazer morada. Não é homem feito para dar entrevistas. Está sentado, mas nunca está quieto. Muito mais à vontade para falar de trabalho ou de indignações do que sobre a vida pessoal, tem sempre um objeto na mão: uma caneta, um cinzeiro, um bloco de notas, seja o que for. Quer viajar para tocar e cantar, mas também (e quem sabe até mais) para conhecer gente nova, reencontrar amigos feitos noutros tempos e para comer. Comer bem, comer para conhecer quem com ele se senta à mesa e para descobrir as terras que o acolhem. Quem o veja entre palcos, passeios e restaurantes, que nunca se surpreenda.

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[“Tango”, uma das canções do álbum “Drama”:]

Onde está neste momento?
No estúdio. Chamo este sítio de estúdio porque é aqui que gravo tudo, em Los Angeles.

Quando é que decidiu viver na Califórnia? Como é que isso aconteceu?
Não foi uma coisa planeada, foi uma coincidência. Não tinha a menor vontade de vir morar nos Estados Unidos ou em Los Angeles, que já tinha visitado e até achado uma cidade feia e chata. Na altura, conheci o Devendra Banhart em Londres, quando fui para lá com os membros da Orquestra Imperial para fazer a performance do disco Tropicália, no festival Barbican em Londres, eu era convidado desse show para tocar o disco, que nunca tinha acontecido com os arranjos originais. Aí o Devendra era convidado a participar no show dos Mutantes, conhecemo-nos nesse fim de semana, ficámos muito amigos. Voltei para o Brasil e depois ele me chamou para ir gravar, disse-me que ia fazer um disco novo e perguntou se eu topava ir para Topanga Canyon. Eu fui. Era para ficar duas semanas, acabei por ficar dois meses. Rolou tão bem que ele disse para ficar mais tempo, para gravar mais. Isso foi mais ou menos na época em que troquei e-mail com os Los Hermanos e decidimos que não íamos fazer outro disco, foi tudo assim na mesma altura. Nesse mesmo período, Fabrizio Moretti, que eu tinha conhecido em Lisboa, soube que eu estava lá e me disse para escrevermos umas músicas, [a banda] Little Joy começou nessa mesma viagem. Quando voltei para o Brasil, o Fabrizio falou para eu voltar para Los Angeles, eu já sabia que os Los Hermanos já não iam rolar, então pensei que ia lá fazer uma música com ele, mas uma música virou um disco e aí enfim… Um ano depois a gente começou a compor, escrevemos 15 canções, ia ficando algumas semanas e acabei por ficar uns três meses. Depois voltei para o Brasil e regresso aos Estados Unidos para gravar. Gravámos o disco, mas depois veio a tourné, quando eu vi…

No meio disso, onde fica o Brasil?
Na América do Sul [risos]. Volto para visitar a minha família, claro, mas quando comecei a vir para cá, nunca imaginei que fosse ficar tanto tempo. Muita gente perguntou porque eu estava abandonando a carreira no Brasil. O que é que eu posso dizer… a vida é mais do que carreira. Mesmo que o que me tenha trazido para cá tenha sido trabalho, é mais uma questão de respeitar as sugestões do acaso. Posso pensar que se tivesse ficado no Brasil teria uma casa com piscina, mas tendo vindo para cá hoje falo francês, espanhol e italiano, viajei pelo mundo inteiro. Tenho uma carreira que talvez seja menor em números do que se eu tivesse ficado no Brasil, nem sei…

Vem agora a Portugal, começa aqui a parte europeia de uma digressão mundial. É algo que faz por gosto ou tem mesmo que fazer porque é o seu trabalho?
As duas coisas se misturam. As coisas mudaram muito desde que comecei a fazer música, mas ainda entendo que o fim daquilo que faço é apresentar as músicas ao vivo, ocupar uma sala e tocar. Acho que quando as pessoas são movidas pela música, é isso que mantém uma carreira, é o boca a boca e o que uma pessoa fala para outra, muito mais do que campanhas publicitárias. Sou meio old school nesse sentido. Por outro lado, adoro viajar, adoro conhecer pessoas, sou um louco por comidas e receitas. Com toda a tecnologia que existe, a comida é ainda algo que você precisar de estar lá para saber o que é. Nunca vai saber o que é uma pizza napolitana, terá uma ideia, mas em Nápoles será uma outra coisa. Comer um peixe em Matosinhos, por exemplo, não tem como reproduzir essa experiência.

"No começo das minhas aventuras musicais, eu trazia coisa p'ra caramba, fazia uma mala cheia, levava um livro de poesia, um livro de conto, um tabuleiro de xadrez, uma aguarela... Com os anos aprendi que não importa a duração da viagem, sempre faço uma mala de uma semana. Tento nunca comer só para me alimentar ou encher a barriga, tento sempre honrar o facto de estar num lugar que não é o meu e cada vez provar uma coisa nova, típica, diferente, especial, algo que alguém me recomendou ou uma receita que tenha feito."

Quando passa pelo Porto vai sempre a Matosinhos?
Sempre. Não vou sempre ao mesmo sítio, mas há um que tenho repetido nos últimos anos. Tento explorar, os amigos dizem que tenho de ir a um ou a outro e para não brigar, cada vez sigo uma sugestão diferente, mas não há decepção. Ali em Matosinhos não tem decepção.

Tem mais ligação ao Porto ou a Lisboa?
Cada lugar tem o seu charme e amigos, não tenho preferência.

Quando vai numa digressão assim tão grande, há coisas que leva sempre consigo? Hábitos que gosta de manter, rituais que segue, objetos, rotinas?
No começo das minhas aventuras musicais, eu trazia coisa p’ra caramba, fazia uma mala cheia, levava um livro de poesia, um livro de conto, um tabuleiro de xadrez, uma aguarela… Com os anos aprendi que não importa a duração da viagem, sempre faço uma mala de uma semana.

O que leva numa mala para uma semana?
Depois de uma semana tenho que lavar a roupa. Imagina estar numa cidade ou num país por dia carregando esse negócio? Não dá. Mais do que sete camisas para escolher é besteira. Em termos de rituais, numa viagem é sempre a comida. Tento nunca comer só para me alimentar ou encher a barriga, tento sempre honrar o facto de estar num lugar que não é o meu e cada vez provar uma coisa nova, típica, diferente, especial, algo que alguém me recomendou ou uma receita que tenha feito. Da próxima vez que estiver em Roma, por exemplo, vou tentar ir num lugar mais tradicional, não é nada elaborado, vou só ver como é. Quando estou na França, acordo e no café da manhã vou comer uma tartine ou uma baguete típica. Não tem nada melhor do que dividir uma refeição com os amigos.

Este disco saiu em julho do ano passado e só agora vai levá-lo para o palco. O tempo que passou muda a relação que tem com as canções? Existe algum prazo de validade para levar um disco pelo mundo fora?
Não, um ano não é muito tempo para a idade de uma obra. Um ano não é nada, principalmente porque não tive oportunidade de o apresentar. Não sou eu que tenho que dizer, mas a validade de um disco é questionável, porque se um disco só tem validade de um ano é um disco muito mau.

Não falo de quem o ouve, mas sobre tocá-lo ao vivo. Muda alguma coisa em si?
Não é o ideal, gostaria de ter feito em cima do lançamento. Quando o disco saiu, já tinha sido adiado duas vezes por causa da pandemia e quando é lançado ele já tinha um ano de idade. Iria fazer esta digressão com banda, mas vai ser a solo por conta do risco, vou apresentar as músicas num formato que não é suposto. Gostaria de o fazer com banda, claro, mas com sorte volto a ter isso assim que as coisas chegarem mais próximo do normal.

Rodrigo Amarante ao vivo no Teatro Tivoli, em Lisboa, em junho de 2016

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Na entrevista que deu ao Observador quando Drama foi editado, falava sobre o que significa para si ter 40 e tal anos, quando como se tivéssemos uma idade interior e outra exterior. Hoje conhecêmo-lo como alguém com essa idade que anda pelo mundo com uma guitarra na mão e uma mala com roupa para uma semana. Quando era miúdo era isto que gostaria de ser?
Não, na verdade fui surpreendido por esta carreira. Claro que gostava de fazer música, mas nunca imaginei nada concreto porque não conhecia nenhum músico profissional, nunca tinha ouvido falar de ninguém real que fosse músico e vivesse disso. Não tive oportunidade de imaginar isso. Imaginei outras coisas, mesmo na época em que comecei a tocar com os Los Hermanos, queria fazer filmes. Quando era mais novo gostava de ser pintor, pensava sempre em alguma coisa difícil de concretizar, mas nunca imaginei que pudesse tocar.

Como é que a música surge no meio da pintura e do cinema? Foi um acidente?
Eu tocava e só comecei a compor porque o Marcelo [Camelo] me chamou para fazer parte dos Los Hermanos e pensei: ‘já que estou numa banda, vou tentar fazer músicas’. Tocava violão e um pouco de piano, era uma coisa que fazia parte da minha vida, desde pequeno. O meu pai também tocava, mas não era uma carreira.

Era uma coisa de casa? Como era a sua casa e a sua família?
Casa pequena, família pequena. A maior parte das pessoas já morreram, mas a família da parte do meu pai, de Saquarema, no Rio de Janeiro, tinha um bloco de carnaval, ou seja, era uma congregação imensa de pessoas, de música, uma bagunça de gente compondo e tocando, era algo normal.

Teve várias bandas durante o seu percurso, porque é que começa a fazer discos a solo e porque só fez dois até agora?
Acabei de lançar um agora…

Há fãs que dizem que é muito tempo entre um e outro…
Tudo é relativo, ainda mais à distância do tempo. A vida é mais do que carreira. Demorou muito tempo? Comparado com alguns sim, mas relativamente aos que nunca escreveram nada, não. Não consigo imaginar um problema sobre isso, alguém ficou sem o que fazer? Penso que não.

Levar um disco destes para a estrada requer uma entrega muito grande? É algo que o consome muito ou faz com uma certa naturalidade? Há um método?
Nada é natural, tudo é trabalho. Escrever músicas, letras ou fazer arranjos é trabalho, não é uma coisa que sai quando me sento aqui, fumo um baseado e as coisas fluem. Claro que tem método, claro que tem processos, talvez seja por isso que me perguntam porque demorei tanto entre os dois discos, percebo que pode ser entendido como preguiça ou falta de disponibilidade. Isso que eu faço é trabalho, escrever é trabalho, é preciso método, disciplina, rigor, como em qualquer outro trabalho. Nessa altura da vida não devia ser preciso dizer isto, talvez seja por isso que a música não tem mais valor financeiro, as pessoas imaginam que é um hobbie e por isso não se paga mais por ela.

"A música se torna cada vez mais elitista, já o era, mas agora é ainda mais. Até um determinado nível, vivem da música aqueles que não precisam viver da música, aqueles que estão fingindo viver da música, aqueles que têm dinheiro. Os que não têm pai rico ou uma mesada, têm que correr atrás e trabalhar, fazer outra coisa para poder pagar a música."

Em Portugal, um estudo recente mostrou que as gerações mais novas não estão disponíveis para pagar por música, por exemplo.
Acho que é preciso uma profundidade maior para analisar essa situação. Se recuarmos 500 anos e pesquisarmos os donos de plantação de algodão, vemos que eles não estavam disponíveis para pagar um salário, preferiam ter escravos. Cultura é uma coisa que se cria, foi preciso proibir a escravatura, criarem-se as leis do salário mínimo, foi preciso manter essas leis em vigor para que as pessoas não fossem exploradas e recebessem um pagamento um pouco mais justo. Se deixássemos para o mercado, a justiça não estaria sendo feita. Acho que acontece da mesma forma com o valor da música. Se você oferece uma coisa de graça, ela perde o valor. Não tem a ver com a juventude estar ou não interessada, é uma questão de mercado. Se quer vender algo que está sendo dado de graça, claro que ninguém vai querer comprar, não é uma tendência das novas gerações, é uma imposição do mercado. Nos primeiros momentos da rádio, imagino que deve ter sido estranho para os radialistas pensarem que teriam de pagar aos músicos por tocar as suas canções, muitos até pensavam que era um favor que estavam fazendo ao artista, foi preciso legislação e isso ainda não existe para a internet.

O problema disso não é só ser injusto, é que a música se torna cada vez mais elitista, já o era, mas agora é ainda mais. Até um determinado nível, vivem da música aqueles que não precisam viver da música, aqueles que estão fingindo viver da música, aqueles que têm dinheiro. Os que não têm pai rico ou uma mesada, têm que correr atrás e trabalhar, fazer outra coisa para poder pagar a música. Cada vez mais se está elitizando a música por conta de não se pagar por ela. Este não é um problema cultural, é um problema de todo o mundo, da sociedade. A música hoje é a voz da elite, não uma voz diversa e rica.

Quando é que começou a viver só da música?
Tive sorte porque o primeiro disco que fiz com os Los Hermanos [estreia homónima de 1999] foi o disco mais bem sucedido da década, um sucesso absurdo, foi um bom começo.

Ter esse início foi bom ou foi complicado de lidar?
Foi ótimo. Tem gente que acha que o sucesso é um problema, não entendo isso. Tudo pode ser um problema, até ganhar na lotaria. Foi bom, pude ajudar a minha família e pude continuar a fazer música.

O sucesso faz parte, mas não é motivo para fazer o que faz, certo?
Não, o sucesso é sempre consequência, nunca um motivo.

Nessas viagens que faz e vai fazer, sente que há sítios em que existe uma relação melhor com a sua música?
Cada lugar é diferente e em cada um deles a minha música toca mais a uns do que a outros. Se fizer uma tour abrindo o concerto de alguém, toco muito para salas que não estão ali para me ver e acho isso super especial, é um momento de conhecer um público novo. É mais especial quando tem mais gente? Não sei se especial é a palavra correta, é mais lucrativo e gratificante. Há lugares em que sinto que as pessoas têm uma relação mais interessante e mais forte com a letra. No Brasil e em Portugal, por exemplo, a relação com a letra é muito importante, mas isso não é tudo.

[“Maré”:]

Há canções que não ficaram no disco, vai cantá-las nos concertos? Já fez essa seleção? Como é que desenha o alinhamento, é sempre diferente?
Sim, muda sempre. Ainda não fiz nenhuma tour com este disco, vou descobrir agora, principalmente essa coisa de ser a solo. Não sei ainda o que vou tocar do disco, de coisas novas ou velhas. Quando faço um único show, abre-se uma oportunidade porque posso mudar o reportório a qualquer momento, posso tocar uma música antiga ou uma que acabei de escrever, é mais dinâmico, tem essa fluidez, muito mais do que com a banda. O show com a banda também sempre tem uma parte que sou eu sozinho, músicas que foram gravadas assim, mas agora não sei o que vou tocar.

Estará primeiro nos Açores e só alguns dias depois vai para o Porto. O que vai acontecer nesses dias?
Vou ficar a escrever nos Açores. Queria muito fazer o festival, mas tinha esse período de espera, então foi-me oferecido ficar no Açores, que não é nenhum sacrifício, e vou usar esse tempo para escrever sozinho.

Escrever canções?
Sim, a ideia é essa. Tenho escrito ficção, então acho que vou escrever as duas coisas.

Escrever ficção é uma coisa recente?
Sempre escrevi poesia, mas escrever contos é recente, sim. Tenho uns amigos que trabalham com roteiro e me mandam os roteiros para eu dar opinião, então me animei em escrever histórias minhas da infância. É um papo que venho desenvolvendo meio quieto, por detrás das câmaras, resolvi fazer o exercício de usar esses contos, que não são ficção, e tentar fazer uma história de ficção. É um exercício, não é carreira [risos]. Quem sabe um dia vire carreira, não sei. Trabalho com escrita de música umas quatro ou cinco horas, depois preciso de fazer outra coisa, vamos ver o que vou ter vontade de escrever.

Quando não está a trabalhar, ouve muita música ou precisa de descansar dela?
Por vezes não ouço por uns dias ou até semanas. Não sei bem o que determina, mas ouço bastante.

"Sempre escrevi poesia, mas escrever contos é recente, sim. É um papo que venho desenvolvendo meio quieto, por detrás das câmaras, resolvi fazer o exercício de usar esses contos, que não são ficção, e tentar fazer uma história de ficção. É um exercício, não é carreira [risos]. Quem sabe um dia vire carreira, não sei. Trabalho com escrita de música umas quatro ou cinco horas, depois preciso de fazer outra coisa, vamos ver o que vou ter vontade de escrever."

E ler?
Nunca deixo de ler. Comecei a viajar com um livro eletrónico e sempre levo um livro que estou lendo na época, se termino o meu livro antes da hora ou se resolvo buscar uma outra coisa, a vantagem é que posso ter vários livros ali dentro para ler sem precisar de carregar vários livros, porque levar mais do que dois é complicado. Para viajar tem de ser tudo muito objetivo, um livro e um rádio de pilhas. Talvez seja um ritual meu, ter sempre um rádio de pilhas para ouvir a rádio local, é ótimo. Tenho uma paixão pela rádio porque é uma coisa de presença, de poder ouvir aquilo que muitas pessoas à volta estão ouvindo, mesmo quando estou na Alemanha e não entendo nada. Adoro rádio, ficarei triste no dia em que ela deixar de existir.

Quando o disco saiu falávamos sobretudo da pandemia e dos seus efeitos. Hoje vivemos uma guerra, é algo que o preocupa?
Claro que sim.

Mas tem medo?
Estar longe de casa e viajar faz parte do meu trabalho. A minha preocupação é com as pessoas que estão submetidas à guerra, com os ucranianos, eu vou estar a fazer concertos, é o meu trabalho, não posso ficar em casa com medo. É uma situação muito séria que está acontecendo na Europa.

Há pessoas que se distanciam da informação e das notícias. É o seu caso?
Bem, existe uma diferença entre passar o dia a ler notícias e ser alienado ou não querer saber. Acho que não estou nem num lado nem no outro. Claro que me interesso, me formei em jornalismo, não vivo pensando no meu próprio mundo.

Qual é o maior desafio em transformar este disco num espetáculo a solo?
Há canções que funcionam muito bem, outras nem tanto. Gosto da ideia de traduzir as canções num formato mínimo da voz e do violão, gosto desse desafio dos arranjos, mas por vezes há canções que não traduzem isso muito bem, então essas não toco. Nesta turné vou tocar um pouco de piano, tenho pensado em trazer outras músicas que não estão nos discos, mas a coisa acontece mais no violão.

Estar sozinho em palco não o deixa mais frágil perante o erro?
É mais perigoso, sim, mas a graça também é essa. Performance é perigo, sem perigo não há espetáculo. Fazer isto a solo é a versão punk, é mais intenso, é bom, mais imprevisível e eu gosto disso.

Porque não há vai fazer mais concertos em Portugal?
Estas datas foram marcadas há um ano, os agentes tentaram projetar o que seria possível e teve de ser uma coisa conservadora nesse sentido. Vou voltar para fazer mais cidades com a banda, espero que em menos de um ano possa voltar, até porque já fiz tours mais extensas e mais profundas, mas agora não foi possível.

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