A estratégia do Governo para combater a Covid-19 está longe de ser consensual. Das medidas de confinamento ao fim de semana até ao uso obrigatório de máscara na via pública, passando pelo encerramento total de bares e discotecas e de restaurantes aos fins de semana e pela decisão de manter as escolas abertas, apesar do aumento significativo de novos casos a partir de setembro — para cada medida adotada há uma voz que se levanta para criticar decisões que têm um impacto direto e inegável na vida social e na atividade económica do país. Veja-se, como mero exemplo, o recente acampamento montado por vários empresários da restauração durante uma semana, com direito a greve de fome, mesmo em frente à Assembleia da República.

Mas, para os inquiridos na sondagem Observador/TVI/Pitagórica, é notório o contraste com essas críticas. É certo que o nível de aceitação das diferentes medidas não é, em nenhum dos casos, absoluto e irredutível. E também fica claro que o grau de sintonia com o Governo varia de medida para medida. Mas, de uma formam geral, os portugueses mostram-se compreensivos em relação às ações tomadas pelo Executivo. Mais: ainda que o desenho específico das medidas a tomar num estado de emergência caiba ao Governo, garantem que, se estivessem no lugar do Presidente da República — que é quem decreta o regime de exceção — fariam exatamente a mesma coisa. Vejamos como cada uma destas medidas colhe (mais ou menos) apoio junto do eleitorado.

Teletrabalho como regra, desde que viável

Por exemplo, na promoção do teletrabalho, sempre que ele possa realizar-se: 93% dos inquiridos dizem que, sim, aprovariam uma medida com esses contornos. De resto, e naquela que é a medida mais consensual, apenas 5% dizem que essa não seria uma solução a que dessem o seu aval, caso estivessem eles próprios em Belém.

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Qualquer que seja a faixa etária, o nível de aprovação desta medida nunca obtém um nível de aprovação inferior a 88%. Os mais entusiastas desta solução têm entre 18 e 34 anos — são, portanto, os trabalhadores (ou estudantes) mais jovens.

Maioria dos portugueses quer combinar teletrabalho com trabalho na empresa

Do ponto de vista socio-economico, a variação já é maior. Ao detalhar a análise, percebe-se que as classes mais altas são mais favoráveis à implementação do teletrabalho (com aprovações na ordem dos 95%), ao passo que as classes sociais mais desfavorecidas (e, em teoria, menos beneficiárias desta medida) se retraem mais. De qualquer modo, mesmo nesta franja da população, o nível de aprovação não fica abaixo dos 77%.

Do ponto de vista ideológico (ou partidário), é na CDU que residem as maiores resistências ao trabalho a partir de casa: 12% dos eleitores que se dizem votantes comunistas nas últimas legislativas contestam a opção. Curiosamente, é do Bloco de Esquerda que vem a maior taxa de aprovação, com 96% dos inquiridos alinhados com a medida promovida pelo Governo.

Encerramento dos restaurantes ao fim de semana nos municípios com muitos casos de Covid-19

O chef Ljubomir Stanisic foi um dos principais rostos da contestação ao Governo, devido às medidas restritivas que aplicou ao setor da restauração. As críticas levaram, até, a que uma dezena de chefs iniciasse uma greve de fome e se instalasse em frente à Assembleia da República. Exigiam ser recebidos pelo primeiro-ministro, mas acabaram por desmobilizar depois de uma reunião com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Com horários de funcionamento mais apertados, lotações reduzidas, dependentes do take away e das entregas ao domicílio, partiram para o protesto. E esse protesto colhe apoios? É verdade que a pergunta não é feita aos inquiridos da sondagem nesses exatos termos. Aquilo que se lhes pergunta é: fossem eles o inquilino do Palácio de Belém, apoiariam uma medida que preconizasse o encerramento dos restaurantes ao fim de semana? Sim, apoiariam. De uma forma mais tímida que em relação a todas as outras medidas, é certo, mas, ainda assim, alinhados, na sua maioria, com o rumo seguido pelo Executivo.

Movimento “A Pão e Água”: depois do fim da greve de fome, mais uma reunião com Medina, o mediador

Trocando por números: 55% dos inquiridos aprovariam a medida, contra 39% que a rejeitariam, se lhes coubesse intervir no processo. Mais uma vez, um dado curioso que ressalta de uma análise mais detalha das respostas. São os eleitores do Bloco de Esquerda quem mais apoia a medida (69%). Mais, até, que os eleitores que dizem ter votado PS em 2019.

E os mais jovens que, como vimos, eram quem mais reforçava a opção pelo teletrabalho, são, agora, os que menos se identificam com as restrições ao setor da restauração. Foquemo-nos, por mais um momento, nesta faixa etária. Como é que os mais novos encaram o encerramento de bares e discotecas desde março?

Fecho de discotecas e bares

Resposta direta: logo a seguir aos maiores de 54 anos, são os jovens quem mais apoia esta medida. Quase nove em cada dez inquiridos desta faixa etária (86%) garante que aprovaria o encerramento destes espaços de diversão noturna.

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Com os jovens (e os mais idosos) estão, também, os inquiridos das classes mais altas (87% de aprovação) e, todos bastante próximos, os eleitores que votaram CDS (89%), Bloco (88%), PS (87%) e PSD (85%). Os inquiridos com voto no PCP, ainda que aprovando a medida, fazem-no de forma menos consensual (68% das respostas vão nesse sentido). Antes de virarmos a página, façamos apenas mais uma análise tendo como principal foco a população mais jovem. O que pensa essa faixa etária do facto de as escolas terem continuado a funcionar? Afinal, muitos pais com filhos em idade escolar estarão nesta faixa etária (18-34).

Manter escolas abertas e em funcionamento

Digamos que, aqui, a doutrina dividia-se. Por um lado, em setembro, quando as escolas retomaram a atividade de forma tão normal quanto era possível, muitos pais manifestaram receio de que esse regresso às salas de aula e ao contacto entre crianças e jovens resultasse numa explosão de novos casos. Por outro, havia também a perceção de que, sem o retomar da atividade escolar, pais e encarregados de educação também não teriam a mesma capacidade para voltar às respetivas atividades profissionais. Posto isto, como se posicionam os inquiridos a este respeito: as escolas deviam ter continuado de portas abertas e em funcionamento?

Ano letivo em setembro. Ministério da Educação quer aulas presenciais, mas não abre o jogo. Partidos e professores pressionam

Naquela faixa etária de que falávamos há pouco — entre os 18 e os 34 — mas também, e de forma ainda mais enfática, na faixa seguinte (35-44) verifica-se um claro apoio a esta decisão. Se dependesse deles, estes inquiridos teriam aprovado uma política de regresso às aulas. A aprovação situa-se, nestes grupos, entre os 78%, para os primeiros, e os 84%, para os segundos.

São também as classes mais altas as que mais apoiam esta medida (83% dos eleitores de classe alta e média alta), em contraste com o menor apoio por parte das classes mais baixas. Essa evolução é, de resto, linear: quanto mais baixa é a classe social, menos adesão há a esta decisão.

Utilização de máscaras na via pública

É das medidas que maior consenso reúne entre os inquiridos: 92% apoiam a decisão de tornar obrigatório o uso de máscara na via pública para os maiores de 10 anos de idade “sempre que o distanciamento físico recomendado pelas autoridades de saúde se mostre impraticável”. A medida é válida por 70 dias — o prazo expira no início do próximo ano — mas pode ser renovada, para que se mantenha em vigor para lá desse período.

Ora, contas feitas, e sem grande estranheza, todas as faixas etárias registam níveis de aprovação acima dos 90% (destaque para os 35-44, com uma aprovação por 96% dos participantes na sondagem). É também a classe média alta aquela que expressa maior apoio ao uso obrigatório de máscara na via pública — mais uma vez, a aprovação é transversalmente superior a 90%, independentemente da classe social. E, nas ilhas, esse apoio é inequívoco: 100% apoiariam a decisão, se estivessem em Belém.

Proibição em fins de semana prolongados de deslocações entre municípios diferentes

Natal e Ano Novo. Dois fins de semana alargados e duas medidas diametralmente opostas em relação a cada um deles. “Proteger o Natal, sacrificar o Ano Novo” foi o lema com que António Costa justificou a decisão do Governo de permitir deslocações entre concelhos no período de Natal e de proibir em absoluto essas movimentações na Passagem de Ano. Boa ou má decisão?

Costa sacrifica Ano Novo para proteger o Natal. O que posso, afinal, fazer na Passagem de Ano?

Para 70% dos inquiridos, foi uma decisão acertada. Outros 27% têm opinião diferente e rejeitam a medida. E onde é que as águas se separam? Vejamos.

Do ponto de vista do género, há um equilibro: 70% dos homens e das mulheres aprovam a ideia de restringir a liberdade de circulação nestes períodos, como forma de controlar os contactos entre pessoas e de conter a propagação do vírus na comunidade. Apenas 28% dos homens e 26% das mulheres consideram a medida errada (os restantes não têm posição definida ou não quiseram responder).

As classes sociais intermédias (C1 e C2) são as que mais apoiam este lock down município a município: respetivamente, 72% e 74% dos inquiridos que integram estes grupos aprovam a decisão do Governo, sendo que todas as classes sociais são maioritariamente favoráveis à medida (as classes mais alta — A/B — e mais baixa — D — são menos entusiastas do princípio de impor limites à circulação, mas o balanço não deixa de ser favorável, com uma aprovação de 67 e 66%, respetivamente).

Governo não vai proibir circulação entre concelhos a 24 e 25 de dezembro

Analisando as respostas por faixas etárias, não há um único grupo que não aprove o confinamento municipal. Mas percebemos que as gerações dos 35-44 anos e com mais de 54 anos registam taxas de aprovação mais elevadas (74 e 73%, respetivamente), enquanto os inquiridos dos grupos mais jovens (18-34 anos) e na faixa dos mais 45 aos 54 anos são ligeiramente mais conservadores na validação da medida (com aprovações na ordem dos 68% e 65%). Os maiores níveis de rejeição destes lock down aos fins de semana surgem na faixa entre os 45-54 anos (32% das respostas) e entre os mais jovens (18-34 anos). Ainda assim, níveis de rejeição bastante baixos, quando comparados com a taxa de aprovação em qualquer um destes conjuntos.

Na distribuição geográfica, mais uma vez, regista-se uma aprovação em toda a linha. Zona sul (9%), zona centro (75%), Grande Porto (71%), ilhas (70%), Lisboa (67%) e Norte (63%) estão de acordo com a medida, que foi aplicada nos dois fins de semana prolongados do início de dezembro e voltará a vigorar no período da Passagem de Ano. A maior taxa de rejeição, por zona geográfica, verifica-se a norte, mas não vai além dos 33% dos inquiridos. E, note-se, muito poucos são os que não têm posição sobre o assunto ou não quiseram responder (o maior grupo, com 10% destas respostas, foi o das ilhas).

Por fim, fica claro que o posicionamento ideológico não permite traçar fronteiras entre os que apoiam ou rejeitam a medida. Mas permite perceber quais são os defensores mais ou menos entusiastas da medida. Se é verdade que, da esquerda à direita, a taxa de aprovação é sistematicamente mais elevada que a taxa de rejeição, os resultados mostram que a maior discrepância se verifica entre os eleitores de direita: 84% dos inquiridos que votaram CDS aprovam a medida, enquanto apenas 64% de eleitores do PSD estão de acordo com a mesma.

À esquerda, é no Bloco de Esquerda que se verifica a maior taxa de aprovação (78%) e é no PS que se regista a menor taxa de aprovação (75%). Entre os eleitores do PCP, 76% são a favor da medida. Mais uma vez, a diferença não se verifica entre quem apoia e quem rejeita o confinamento mas, sim, entre quem manifesta esse apoio com uma maior ou menor taxa de aprovação.

Ficha técnica

Durante 6 semanas (10 Dezembro 2020 a 21 de Janeiro 2020 ) vão ser publicadas pela TVI e pelo Observador uma sondagem em cada semana com uma amostra mínima de 626 entrevistas. Em cada semana a amostra corresponderá a 2 sub-amostras de 313 entrevistas. Uma das sub-amostras será recolhida na semana da publicação e a outra na semana anterior à da publicação. Cada sub-amostra será representativa do universo eleitoral português (não probabilístico) tendo por base os critérios de género, idade e região.

Semana 1 Publicação: O trabalho de campo decorreu entre os dias 10 e 13 de Dezembro. Foi recolhida uma amostra total de 629 entrevistas que para um grau de confiança de 95,5% corresponde a uma margem de erro máxima de ±4,0%. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos 3 principais operadores identificados pelo relatório da ANACOM, sempre que necessário são selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing).

O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores Portugueses, sobre temas relacionados com as eleições , nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto nos vários partidos. A taxa de resposta foi de 55,32% . A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva.

A taxa de abstenção na sondagem é de 56,6% a que correspondem os entrevistados que aquando do momento inicial se recusaram a responder à entrevista por não pretenderem votar nesta eleição.

A Ficha técnica completa bem como todos os resultados foram disponibilizados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará oportunamente para consulta online.