O vídeo está partilhado em várias publicações no Facebook. Os posts fazem várias declarações sobre a vacinação contra a Covid-19. Os utilizadores acusam a Agência Europeia do Medicamento (EMA) de não ter dado indicação para a administração da vacina a pessoas com idade inferior a 60 anos. As partilhas afirmam ainda que a EMA declarou que essa decisão foi tomada a nível político e não científico, e que não existem registos dos efeitos secundários da vacina. A agência desmentiu as acusações. 

A origem das acusações está num vídeo que se tornou viral de uma conferência de imprensa que terá acontecido no Parlamento Europeu, a 21 de novembro do ano passado. No vídeo, Marcel de Graaf (que se assume como mediador principal do debate) e Joachim Kuhs — ambos eurodeputados de extrema-direita — recebem três convidados. Entre eles, está o negacionista holandês Willem Engel, que no inicio do ano passado esteve preso por incitação à violência.

Não foi a primeira vez que Graaf e Kuhs fizeram acusações à conduta da Agência Europeia do Medicamento. A própria EMA já redigiu duas cartas abertas dirigidas aos eurodeputados visados no vídeo.

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Na publicação que analisamos neste Fact Check, este é o texto completo que acompanha o vídeo dos eurodeputados:EMA — Agência europeia de medicamentos afirma que não há indicação de imunizar pessoas abaixo de 60 anos, já que se trata de uma proteína tóxica (proteina spike) e atira a responsabilidade da vacinação em massa nas políticas adotadas por cada país, que não foi uma decisão científica e que só teria autorizado a vacina de mRNA mensageiro para uma proteção individual e a ser recomendada pelo médico, diz ainda que jamais indicou vacinar toda uma população de uma vez só, com um produto que não controla infeção nem transmissão. Que também não se tem registos dos efeitos secundários dessa vacina a curto, médio e longo prazo.

Todas estas acusações são dementidas pela EMA. Vamos desconstruir as acusações falsas:

A EMA não deu indicação para imunizar pessoas com menos de 60 anos

Falso. A Agência Europeia do Medicamento tem disponível no seu site uma tabela na qual detalha as autorizações de cada vacina por grupo etário. Olhando para a tabela é possível verificar que todas as vacinas contra a Covid-19 estão aptas a serem administradas em indivíduos com idade acima dos 18 anos. Numa das cartas enviadas aos eurodeputados, a EMA sublinha ainda que “é importante notar que efeitos severos da Covid-19, assim como os sintomas prolongados, podem acontecer em todos os grupos etários”.

As vacinas contêm proteína spike, que é tóxica

Falso. Esta é uma acusação que surge muitas vezes nas redes sociais.  À semelhança deste artigo, o Observador já explicou que a proteína spike não é tóxica. Relacionados com esta proteína spike, há ainda mais alegações falsas que já foram desmentidas em vários Fact Check que explicam como a mesma atua nas vacinas contra a Covid-19.

A EMA diz que não indicou a vacinação em massa

Nas cartas direcionadas aos eurodeputados de extrema-direita, a EMA admite que “não é da sua responsabilidade efetuar campanhas de vacinação em massa, nem treinar profissionais para administrar vacinas”. Nas acusações das partilhas das redes sociais ainda é dito que essa decisão não foi tomada de forma científica. A agência salienta que a EMA se concentra na “autorização e controlo de medicamentos e vacinas” e esclarece: “Quando os nossos comités científicos emitem recomendações, outros organismos, como a Comissão Europeia, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) e as autoridades nacionais de saúde e vacinação podem tê-las em conta ao desenvolverem políticas de imunização para proteger o público.”

A EMA considera que a vacina foi autorizada apenas para proteção individual e não controla a infeção nem a transmissão

Descontextualizado. Tanto os eurodeputados como o autor da publicação que analisamos no Facebook dizem que a agência admite que “só teria autorizado a vacina de mRNA mensageiro para uma proteção individual e a ser recomendada pelo médico”. Algumas linhas abaixo, é dito que a vacina não controla a infeção por Covid-19, nem a transmissão do vírus.  Mas não é bem assim. Em resposta direta às acusações, a EMA refere numa das suas cartas: “De facto, têm razão quando afirmam que as vacinas contra a COVID-19 não foram autorizadas para prevenir a transmissão de uma pessoa para outra. As indicações destinam-se apenas a proteger os indivíduos vacinados”. Numa outra carta direcionada aos mesmos eurodeputados, a EMA destaca vários estudos que demonstram que as vacinas “podem reduzir a transmissão do vírus”. 

A EMA não mantém registo dos efeitos secundários provocados pela vacina

Falso. A EMA salienta que tanto a agência como as autoridades nacionais dos países europeus “monitorizam continuamente os dados sobre os efeitos secundários notificados”. E destaca ainda que “a notificação de um efeito secundário suspeito não constitui, por si só, prova de que a vacina causou o evento adverso em questão”. Após a insistência dos eurodeputados neste ponto, na segunda carta direcionada aos mesmos, a EMA volta a sublinhar: “Ao monitorizar a segurança das vacinas, a EMA e os Estados-membros da UE consideram todas as notificações de suspeitas de efeitos secundários após a vacinação, independentemente do tempo decorrido entre o momento em que a pessoa recebeu a vacina e o momento em que o efeito secundário suspeito ocorreu”.

Conclusão

Um vídeo partilhado nas redes sociais mostra uma conferência de imprensa com dois eurodeputados de extrema-direita e convidados em que se fala sobre a vacinação contra a Covid-19. O painel faz várias acusações à Agência Europeia do Medicamento (EMA). Entre as várias alegações, os intervenientes acusam a EMA de não recomendar a vacinação em massa; não indicar a vacinação de pessoas com idade inferior a 60 anos; de não guardar registo dos efeitos secundários das vacinas. Todas as acusações são falsas e foram desmentidas pela EMA. 

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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