As fraudes a envolver supostas plataformas de criptomoedas sem habilitação para exercer em Portugal multiplicam-se nas redes sociais num formato já verificado pelo Observador diversas vezes e que, no caso desta publicação, vai mais longe na tentativa de captar a atenção dos utilizadores das redes sociais. Na imagem surge o apresentadora de televisão Cristina Ferreira e no texto associado lê-se que uma aparição sua na televisão “terminou em tragédia”.
No link associado à publicação surge como título “uma perda trágica para Portugal: dizemos adeus a Cristina”. No acesso ao link o utilizador é, no entanto, remetido para uma suposta página do Correio da Manhã, sobre um “relatório especial: Banco de Portugal processa Cristina pelo que disse em direto. Toda a gente em Portugal devia saber a verdade!” Nenhuma relação com a afirmação que consta na publicação.
Trata-se de mais uma manipulação do site de um órgão de comunicação social, para apresentar como notícia uma tentativa de fraude. No texto constam supostas citações de uma entrevista de Cristina Ferreira ao podcast “As Duas Vozes”, de Carolina Deslandes. Mas nada do que é escrito tem qualquer relação com a entrevista original, que pode ver aqui. Além do mais, a entrevista foi emitida há seis meses e dela não decorreu qualquer “perda trágica para Portugal”, como se alegava no texto da publicação.
O formato da publicação é diferente daquele que o Observador já verificou como publicações falsas aqui, aqui, aqui ou ainda aqui, mas é muito semelhante depois de aberto o link que quase sempre leva o utilizador a um site manipulado que simula uma página de um órgão de comunicação social fidedigno.
Em relação a essas outras situações semelhantes à que está em análise, o Banco de Portugal já tinha dito ao Observador que, “embora a entrevista em causa possa ter acontecido, o conteúdo da página para que remete o link enviado aparenta ser falso”. A instituição também rejeitava ter havido “qualquer intervenção por parte do Banco de Portugal” em entrevistas deste género.
Alertava ainda para publicações como esta poderem “integrar-se num esquema de natureza fraudulenta, dirigido a obter ganhos patrimoniais de potenciais clientes que julgam (erradamente) estar a investir em ativos virtuais”, normalmente de plataformas não habilitadas a exercer, em Portugal, “qualquer atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal, nomeadamente, atividades com ativos virtuais e receção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis”.
O BdP avisava também que tem “tido conhecimento de situações similares à relatada, envolvendo outras figuras públicas e outras supostas entidades/plataformas que afirmam dedicar-se a atividades com ativos virtuais, quando, na realidade, desenvolvem apenas esquemas fraudulentos”.
Têm sido publicados “alertas genéricos sobre os riscos dos ativos virtuais”, por parte do Banco de Portugal, bem como “avisos públicos alertando para o facto de determinada(s) entidade(s), pessoas singulares e coletivas, marcas e websites, não se encontrarem registadas junto do Banco de Portugal para desenvolverem atividades com ativos virtuais”, refere a instituição. Além disso, o BdP adiantou que “tem igualmente comunicado às autoridades com competência para a investigação criminal todos os indícios de crime que apura no exercício das suas competências”.
Conclusão
Não aconteceu nada de “trágico” à apresentadora de televisão Cristina Ferreira depois da entrevista ao podcast “A duas vozes”, da cantora Carolina Deslandes. Esta publicação trata-se de mais uma tentativa de fraude associada a uma plataforma de criptomoedas e que usa figuras públicas para captar a atenção dos utilizadores do Facebook e levá-los a registarem-se nessas mesmas plataformas. Além disso, a entrevista referida aconteceu há seis meses e não teve qualquer relação com o que é dito no texto da suposta notícia.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.