A publicação é de domingo, 22 de março, e dá conta de que, nesse dia, em Itália perderam a vida 793 pessoas, das quais 232 seriam crianças. Nenhum dos dados está correto. A 22 de março 651 pessoas perderam a vida em Itália, vítimas da Covid-19, não havendo indicação nos meios de comunicação italianos de qualquer morte de crianças nessa data.

O dia em que se registaram 793 óbitos foi o sábado, 21 de março, o dia com mais mortos desde o início do surto no país, mas sem indicação de crianças nesse lote de mortos. Pelo contrário, no último balanço semanal detalhado feito pelas autoridades italianas, estas davam conta de apenas 300 casos — em 41.035 — de crianças infetadas com a Covid-19, mas “nenhuma delas grave” e “sem qualquer” criança morta desde o início do surto.

Segundo um relatório nacional publicado na segunda-feira com os dados até às 16 horas desse dia, havia no país 318 casos de infeção com a Covid-19, dos 0 aos 9 anos e nenhuma morte. Dos 9 aos 19 anos eram 386 os infetados e também nenhum morto registado. A faixa etária mais baixa onde ocorreram 12 mortes (9 homens e 3 mulheres) é a dos 30 aos 39 anos — num total de 5.019 mortes à data— e todos tinham já outras doenças associadas.

Itália é um dos países no mundo com maior longevidade, tendo uma pirâmide etária bastante envelhecida o que ajuda a explicar também o elevado número de mortos registado no país que, nesta terça-feira, já duplicou o número de mortos registado pela China, o país que sofreu o primeiro surto da Covid-19, no início deste ano.

Exemplo de publicação no Facebook sobre alegada morte de 232 crianças vítimas da Covid-19

A melhor forma de evitar a propagação do novo coronavírus e a infeção continua a ser o isolamento social e o recolhimento em casa, aconselhado pelas autoridades de saúde e repetido várias vezes. Em Portugal, já foi decretado o estado de emergência e todos os estabelecimentos que prestam serviços não essenciais foram encerrados para evitar que as pessoas permaneçam nas ruas, com o objetivo de atrasar ao máximo a propagação do vírus e diminuir o número de casos no país. É essa a “proteção possível”: ficar em casa.

Conclusão

No dia em que foi feita a publicação no Facebook foram registados menos 142 mortos do que o número indicado (que se tinha registado no dia anterior, o dia com mais mortos desde o início do surto em Itália) e até dia 23 não há registo de qualquer morte de “crianças”, nem até aos 9 anos — primeira faixa etária — nem dos 10 aos 19 anos. Aliás, segundo os boletins divulgados semanalmente pelas autoridades de saúde italianas não havia sequer nenhuma criança doente com a Covid-19 que inspirasse cuidados, nem qualquer registo de morte nas faixas etárias mais baixas. A idade média dos italianos mortos pela Covid-19 é de 78,5 anos e mais de 70% são homens.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts/DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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