Os sócios do Benfica estão a uma semana de escolher os dirigentes do clube para os próximos quatro anos. A presença dos candidatos nos órgãos de comunicação social tem sido, por isso, uma constante e, no último domingo, foi a vez de Luís Filipe Vieira. Recandidato à presidência do clube, Vieira sentou-se (de surpresa) nos estúdios da RTP como convidado do programa de desporto Trio de Ataque. E foi aí que o dirigente da Luz defendeu a ideia de que “na seleção nacional, a grande maioria dos jogadores é formada no Benfica”. E é mesmo assim?

Na verdade, na RTP, Vieira estava a assumir a defesa de uma espécie de promessa que tinha feito anos antes, precisamente nessa linha: a de que, em pouco tempo, a maioria dos jogadores na Seleção Nacional teria sido formada no Benfica Campus, no Seixal. “Está à vista de toda a gente”, garantiu o presidente benfiquista.

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Para perceber se Luís Filipe Vieira tem razão no argumento que apresentou, é preciso olhar para os jogos que a Seleção Nacional disputou este ano e analisar, entre os jogadores convocados por Fernando Santos, quais os que somam mais minutos de jogo “nas pernas” e a que clubes devem a sua formação. O detalhe não é insignificante. Na RTP, Vieira é confrontado com essa mesma questão – o facto de haver vários jogadores na Seleção que, apesar de terem sido formados no clube, já não integrarem a equipa da Luz. Resposta: se não tivessem sido vendidos, “se calhar, não tinha o estádio pago, não tinha o centro de estágios pago, não tinha nada disso pago.”

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O ponto é, portanto, terem sido formados no Benfica (ainda que possam já não representar o clube). Com esse contexto em mente, vamos, então, aos números. Em 2020, e apesar da pandemia que impediu a realização do Campeonato da Europa e vários jogos de qualificação, a Seleção Nacional disputou cinco jogos, contra Suécia (por duas vezes), França, Croácia e Espanha, todos eles a contar para a Liga das Nações, menos o último.

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Ora, o Observador analisou o tempo total de jogo de cada um dos convocados pelo selecionador nacional nessas cinco partidas e a conclusão é clara: os jogadores formados no Benfica somaram 1.689 minutos de jogo efetivo, o que representa 34,11% do tempo de jogo de todos os jogadores que estiveram em campo nessas partidas.

Um valor que é potenciado pelo tempo que alguns jogadores estiveram efetivamente em campo, mais do que pelo facto de o clube da Luz ter sido aquele que mais jogadores “colocou” nas mãos de Fernando Santos. Até porque há jogadores que não chegaram a despir o equipamento de treino. Foram nove os convocados pelo selecionador que fizeram a sua formação no Benfica: João Cancelo (361 minutos), Rúben Dias (405), Bernardo Silva (281), João Félix (360), Renato Sanches (102), Bruno Varela (apesar de convocado após o teste positivo ao novo coronavírus de Anthony Lopes, não jogou qualquer minuto), Nelson Semedo (112), Gonçalo Guedes (68) e André Gomes (também sem minutos disputados).

Mais perto deste resultado, só mesmo o Sporting. Nas mesmas cinco partidas, o conjunto de Alvalade colocou oito jogadores formados em Alcochete (mas já não necessariamente a representar o clube de Alvalade) à disposição de Fernando Santos: Rui Patrício (que jogou 270 minutos), William Carvalho (213), João Moutinho (212), Daniel Podence (15), Rúben Semedo (90), Cristiano Ronaldo (243), José Fonte e Domingos Duarte (ambos sem qualquer minuto de jogo, sendo que também o primeiro testou positivo à Covid-19). No total, os jogadores formados no Sporting – também eles, agora, a representar diferentes clubes – jogaram 21% do tempo total de jogo disputado.

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Os restantes clubes nacionais ficaram todos muito distantes desta realidade. São os casos de FC Porto (que somou apenas 3,57% do tempo de jogo e teve três jogadores em campo: André Silva, Rúben Neves e Sérgio Oliveira), Sp. Braga (Trincão jogou 92 minutos) ou Boavista (Bruno Fernandes acumulou 348 minutos de jogo mas era o único atleta ali formado). Ou o Corinthians Alagoano, a que Pepe deve a sua formação (jogou 405 minutos e foi dos mais utilizados, a par de Rúben Dias). Ou, ainda, o Caen de França, clube de formação de Raphael Guerreiro, que bateu toda a concorrência individual com os 428 minutos de jogo somados nas cinco partidas disputadas este ano.

Mas esta realidade vale para 2020. E, ainda que seja suficiente para garantir o selo de “verdadeiro” às palavras de Luís Filipe Vieira, que se referia à realidade atual e com a ressalva de que os jogadores teriam de ser formados no clube (e não, necessariamente, estar a jogar no clube), não espelha a realidade do último ano, por exemplo.

2019. Ano com dez partidas disputadas pela Seleção Nacional contra seis seleções diferentes, entre qualificação para o Europeu e fase final da Liga das Nações: Holanda, Luxemburgo, Suíça, Sérvia, Ucrânia e Lituânia. Inversão do tabuleiro. Nesse ano, Fernando Santos convocou um total de 12 jogadores de formação leonina, mais quatro que em 2020. Além daqueles já referidos anteriormente, foram também chamados Beto, Bruma, João Mário e Daniel Carriço. E, ainda que vários dos jogadores não tenham chegado a entrar em campo, os atletas com “raízes” no Sporting acumularam 3.152 minutos de jogo.

Por comparação direta, nessas mesmas partidas, os atletas do Benfica (esteve Ferro, mesmo sem jogar, não esteve Bruno Varela) somaram “apenas” 2997 minutos de jogo disputado. Sendo que, também aqui, vários não chegaram a entrar nas quatro linhas durante o tempo de jogo. De acrescentar que nestes números foram contabilizados todos os jogadores que entraram na ficha oficial das partidas, mesmo que não tenham saído do banco de suplentes.

Conclusão

“A grande maioria” dos jogadores que Fernando Santos chamou para a seleção nacional – e usou em campo – foram formados no Benfica, como garantiu Luís Filipe Vieira? Sim, é um facto, se pensarmos na realidade de 2020 (que era aquela a que o presidente da Luz se referia). Os números comprovam isso mesmo.

A afirmação do presidente benfiquista (e recandidato às eleições de 30 de outubro) é, por isso, verdadeira.

CERTO

NOTA: este artigo foi produzido no âmbito de uma parceria de fact checking entre o Observador e a TVI

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