A ligação da tecnologia 5G e o surgimento do novo coronavírus é quase tão antiga como a pandemia. E, pelos vistos, segundo as redes sociais, está para durar. No passado dia 22 de junho, uma publicação num grupo que conta com 9,4 mil membros partilhou um vídeo sobre um alegado leak (uma fuga) de um hacker russo que descobriu uma nova informação sobre a vacinação contra a Covid-19: todos os vacinados estão a ser rastreados através de um chip, tendo os seus nomes reunidos numa base de dados. Trata-se, no entanto, de mais uma publicação falsa.

Segundo o Politifact, fact-checker que pertence ao The Poynter Institute, a pessoa que partilhou o vídeo em questão nem sequer estava certo de que as alegações eram verdadeiras. Depois, segundo este órgão de comunicação social, não foram encontrados quaisquer leaks associados a uma base de dados da Sputnik V. E reforça, tal como garantido por outros fact-checks, que não existe qualquer evidência de que as vacinas contenham microchips.

Consultando qualquer site ou documento oficial das principais autoridades de saúde no mundo — como o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, sediado nos Estados Unidos da América —, é possível encontrar informações relativas à existência do tal aparelho nas vacinas. “Não, o governo norte-americano não está a usar a vacina para o seguir. Nas encomendas da vacina podem ser encontrados dados para o tracking, mas isso serve para prevenir roubos”, lê-se no documento oficial.

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Por outro lado, no vídeo, ouvimos um homem que explica que a “vacina da Covid-19 é a marca da Besta”. E que o alegado hacker russo mergulhou na deep web [internet oculta] para descobrir a tal base de dados de vacinados espalhados pelo mundo inteiro. A “descoberta” envolve, sobretudo, a vacina da Sputnik, desenvolvida na Rússia. Ora, quer a alegação de que a tecnologia 5G foi a responsável pela pandemia quer a injeção de microchips em seres humanos através das vacinas já foram amplamente desmentidas por vários fact-checkers internacionais, como a Reuters ou a agência Lupa, mas também pelo Observador.

Fact Check. Teste do íman prova que vacinas contra a Covid-19 servem para implantar um microchip?

A título de curiosidade: a única variante que não surge nesta teoria da conspiração é o envolvimento do nome do filantropo e multimilionário Bill Gates, algo que costuma ocorrer e já foi anteriormente verificado em várias publicações, como é o caso da BBC.

Tomando como exemplo Portugal, a verdade é que, até certo ponto, qualquer cidadão tem de ceder alguns dados para poder ser vacinado. Há duas formas de receber a sua inoculação: ou aguarda pela convocatória do Serviço Nacional de Saúde (e isso acontece porque aquele instituto tem alguns dos seus dados); ou opta pelo autoagendamento, que envolve igualmente essa cedência de informação, como o número de telemóvel, entre outras.

Assim que receber a vacina — seja a primeira ou a segunda dose —, a sua inoculação ficará registada no sistema Vacinas. Para quê? Para constar automaticamente em diferentes plataformas: calendário vacinal do utente, plataforma Vacinas, app MySNS Carteira, na área do cidadão do Portal do SNS ou para que lhe possa ser emitido o Certificado Digital de Vacinação. Serve então para que o Estado português monitorize a população que já tomou a primeira dose da vacina, a segunda dose ou que cidadãos ainda precisam de ser chamados para serem inoculados.

Nunca é demais relembrar que o Sars-COV-2 é um vírus se espalha de pessoa para pessoa através de gotículas e que origina uma doença, neste caso, a Covid-19, uma infeção respiratória. O vírus foi identificado pela primeira vez em humanos no final de 2019, na cidade chinesa de Wuhan. Não há, até ao momento, qualquer evidência científica que aponte no sentido de a tecnologia 5G estar na origem do vírus (ainda que a verdadeira origem esteja a ser estudada por diversas entidades, como a Organização Mundial de Saúde). Quanto à alegação de que a vacina “é a marca da besta” — que, na tradição cristã, é o número 666, do diabo, mas também associado ao Apocalipse –, não passa de uma associação pouco credível entre ciência e religião.

Conclusão

Não é verdade nem existe evidência suficiente que comprovem a veracidade do vídeo que alega a existência de uma base de dados que rastreia os vacinados, nomeadamente os que tomam a vacina Sputnik-V.

O vídeo em questão foi partilhado sem qualquer informação adicional ou fonte credível, tendo sido já desmentido por outros fact-checkers internacionais. As associações recorrentes à tecnologia 5G e à injeção de microchips também já foram desmentidas, não podendo ser possível, até ao momento, encontrar qualquer verdade nestas alegações.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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