O braço de ferro dos professores com o governo não mostra sinais de acabar. Desde novembro, os docentes têm-se desdobrado em greves, marchas e manifestações organizadas por diferentes estruturas sindicais. Foram até decretados serviços mínimos.

Mais recentemente, em janeiro e em fevereiro, manifestações organizadas quer pelo STOP quer por outras estruturas sindicais, como a Fenprof, reuniram centenas de milhares de pessoas em Lisboa. Ambas as estruturas sindicais reclamavam uma adesão “histórica”, ou até a “maior manifestação de professores de sempre”. É seguro dizer que as greves de professores têm marcado a atualidade nacional, e as redes sociais não são exceção.

Uma publicação mostra duas imagens lado a lado, uma de Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, e outra de Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, ambos em plena manifestação de professores em Lisboa, em declarações aos jornalistas. A conclusão que o autor tira destas imagens é a seguinte: “Durante cinco anos fizeram parte da geringonça socialista e andaram calados” e apenas agora, depois de “ter aparecido o STOP, já aparecem nas manifestações dos professores contra o amigo PS”. As críticas do autor são perentórias, chegando a pedir Paulo Raimundo e a Catarina Martins que “tenham vergonha“.

Publicação no Facebook acusa PCP e BE de estarem "calados" durante a geringonça, sobre greves de professores

Publicação no Facebook acusa PCP e BE de estarem “calados” durante a geringonça, sobre greves de professores

Vamos por partes. A palavra geringonça ganhou maior expressividade no dicionário político nacional em 2015, quando António Costa formou governo do Partido Socialista com apoio parlamentar dos partidos à esquerda — o Bloco de Esquerda, o PCP e os Verdes. A “geringonça” governou até 2019. Desde então, à esquerda, apenas o PCP mudou de líder e hoje Paulo Raimundo substituiu Jerónimo de Sousa enquanto secretário-geral dos comunistas (o Bloco de Esquerda vai a eleições internas no final de maio e Catarina Martins já anunciou que não estará disponível para ir a votos).

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Mas será que, durante a “geringonça”, PCP e Bloco “andaram calados” sobre as manifestações de professores, como acusa a publicação? Recuemos até dia 23 de março de 2019, um sábado que foi marcado por uma manifestação de professores que, à semelhança das mais recentes, partiu do Marquês de Pombal e terminou no Terreiro do Paço.

Como o Observador contou, a manifestação foi convocada por dez estruturas sindicais e contou com a presença de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. Na manifestação, e de dedos apontados ao governo, Jerónimo de Sousa garantia que o PCP tinha assumido “o compromisso de apoiar os professores”, enquanto Catarina Martins admitia que a luta dos professores “é uma luta por um direito básico” — já na altura, os professores exigiam a contagem integral do tempo de serviço.

Governo ameaçou demitir-se. E depois? Marcelo é decisivo

Continuamos em 2019. Cerca de um mês depois desta manifestação, os partidos da oposição procuraram forçar a mão de António Costa e aprovaram várias alterações na Assembleia da República ao decreto-lei do governo sobre a recuperação do tempo de serviço dos professores. Do CDS-PP ao PCP, os partidos votaram juntos para obrigar o governo a recuperar todo o tempo de serviço dos professores que esteve congelado — nove anos, quatro meses e dois dias.

Como resposta, António Costa ameaçou demitir-se e acabaram por ser os partidos à direita, PSD e CDS, a mudar o sentido de voto, quando Bloco de Esquerda e PCP se recusaram a fazê-lo e a solução do governo que vingou foi a recuperação de uma parte do tempo de serviço reivindicado pelos sindicatos (nomeadamente, dois anos, nove meses e 18 dias).

Fact Check. As 11 verdades e mentiras sobre a crise dos professores

Conclusão

É falso que durante a “geringonça”, ou seja de 2015 a 2019, PCP e Bloco “andaram calados” sobre as manifestações de professores. A dia 23 de março de 2019, uma manifestação de docentes contou com a presença de Catarina Martins (BE) e de Jerónimo de Sousa (PCP). Foi em 2019 que o braço de ferro entre professores e governo fez António Costa ameaçar demitir-se e provocar uma crise política. Na altura, foram o PSD e o CDS-PP a recuar e a validar a proposta do governo: de recuperar integralmente apenas parte do tempo de serviço que estava congelado: dois anos, nove meses e 18 dias.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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