Não há registo de que Vladimir Putin tenha criticado de forma pública o Presidente do Brasil após o encontro entre Lula da Silva e Volodymyr Zelensky, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, na última semana, ao contrário do que alegam publicações que se tornaram virais nos últimos dias nas redes sociais. As imagens mostram uma entrevista do Presidente da Rússia à CNBC. No entanto, estas imagens são antigas, de quando a guerra ainda nem tinha começado, e a narração contém informações erradas.
“Putin critica Lula”, lê-se numa das publicações. As imagens chegam às milhares de visualizações em redes sociais como Facebook, Instagram e TikTok.
No vídeo, o som original foi cortado e substituído pela voz de um narrador, que transmite informações falsas, citando Putin. A pessoa que narra o vídeo diz que “Putin manifestou seu espanto e desilusão em relação a Lula”. E cita o próprio líder russo: “Quando enderecei o convite para visitar a Rússia, ele recusou. No entanto, encontrou-se com Zelensky”, ouve-se. E continua: “Lula convidou-me para visitar o Brasil, mas poucos dias depois retirou o convite. Disse que, se eu fosse ao Brasil, poderia ser detido. O que é que isto representa? Traição e falta de carácter.”
A referência a uma visita de Putin ao Brasil surge depois de declarações de Lula da Silva que geraram polémica, ao ponto de o Presidente brasileiro recuar naquilo que havia dito inicialmente. Em concreto, dias antes da participação na Assembleia Geral da ONU, Lula disse que, apesar de ter um mandado de detenção emitido pelo Tribunal Penal Internacional em seu nome, Putin podia “ir tranquilamente ao Brasil” e que tentar prendê-lo seria “desrespeitar o Brasil”. As declarações — classificadas internamente como um “desastre diplomático” — levaram vários analistas a admitir que, a haver uma obstaculização de responsáveis políticos à atuação da Justiça brasileira, isso poderia resultar num processo de impeachment.
Lula haveria de recuar na posição, acabando por dizer que, no cenário de uma ida de Putin a Brasil (estava em causa a cimeira do G20 que se realiza no país, no próximo ano), “quem decide é a Justiça”.
No entanto, estas supostas declarações de Vladimir Putin sobre Lula da Silva não refletem o conteúdo original da entrevista. Ou seja, a tradução está errada e o áudio foi alterado.
As imagens dizem respeito a uma entrevista do Presidente russo ao canal norte-americano CNBC que remonta a outubro de 2021, quando a guerra ainda nem tinha começado e não havia, naturalmente, mandado de detenção contra Putin por eventuais crimes praticados no decurso da guerra. A entrevista completa está disponível no YouTube, aqui, e a transcrição no site do canal, aqui.
A entrevista foi focada na energia e economia. Lula da Silva e Volodymyr Zelensky nunca são mencionados.
Ponto de situação. O que aconteceu durante o 574.º dia de guerra na Ucrânia?
Não há registo de críticas de Putin a Lula da Silva na sequência do encontro entre o Presidente brasileiro e o líder ucraniano, que ocorreu no dia 20 de setembro. Volodymyr Zelensky classificou a conversa como “honesta e construtiva”.
Important meeting with @LulaOficial.
Following our honest and constructive discussion, we instructed our diplomatic teams to work on the next steps in our bilateral relations and peace efforts.
Brazilian representative will continue to take part in the Peace Formula meetings. pic.twitter.com/kC7f6MF0FZ
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) September 20, 2023
Conclusão
Falso. Publicações nas redes sociais dizem que Vladimir Putin criticou publicamente Lula da Silva, após o encontro entre o Presidente brasileiro e o líder ucraniano da última quarta-feira. Mas as imagens mostram uma entrevista de 2021 da CNBC, com a tradução errada e o áudio alterado.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.