Circula nas redes sociais um vídeo que alega mostrar a polícia espanhola a fugir de “imigrantes desordeiros”. Em várias versões da publicação, que inclui um vídeo de 19 segundos, consultadas pelo Observador, lê-se: “Para onde caminhas Europa? Polícia espanhola foge de imigrantes desordeiros.”

O vídeo, filmado de noite a partir de uma altura elevada (aparentemente, a partir de uma varanda), mostra uma grande avenida cortada ao trânsito por vários carros da polícia. Ao fundo, é possível ver uma multidão de manifestantes a dirigir-se, a correr, contra os carros da polícia. À medida que os manifestantes se aproximam e vão lançando pedras, os carros da polícia vão invertendo a marcha e fugindo do local.

Em fundo, ouvem-se duas vozes femininas a falar em espanhol e a relatar a situação. Com uma voz assustada, referem que os manifestantes estão a lançar pedras e comentam o facto de a polícia estar a fugir.

O Observador encontrou várias versões semelhantes da mesma publicação, sempre com descrições semelhantes, caracterizando o vídeo como uma fuga da polícia espanhola de “imigrantes desordeiros”. O mesmo já tinha feito no final de outubro o deputado do Chega Jorge Galveias, partilhando o vídeo no Twitter com uma legenda semelhante — publicação que mereceu um comentário de outro deputado do Chega, Pedro Santos Frazão, com a expressão “terrorismo puro”.

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Com efeito, trata-se de uma publicação falsa: o vídeo não mostra a polícia espanhola a fugir de quaisquer “imigrantes desordeiros”. Trata-se, na verdade, de um vídeo com três anos que mostra parte dos distúrbios ocorridos na cidade espanhola de Burgos, em outubro de 2020, durante uma manifestação contra as medidas de contenção da pandemia de Covid-19.

É possível encontrar em diversos títulos da imprensa espanhola referências ao acontecimento — várias delas ilustradas, entre outros, com o vídeo em questão nesta publicação. A 30 de outubro de 2020, o El Diario escreveu que “dezenas de pessoas” tinham participado “num protesto no bairro de Gamonal, em Burgos, contra as medidas para controlar a expansão da Covid-19 em Castela e Leão, que resultou em distúrbios”.

Na mesma notícia, o El Diario sublinhou que os acontecimentos mais graves aconteceram na rua Vitória (a que surge no vídeo em questão), onde “um grupo de manifestantes queimou contentores e lançou pedras contra a polícia”. O jornal citou ainda o presidente da câmara de Burgos, Daniel de la Rosa, que classificou como “vergonhoso”, “imperdoável” e “condenável” o protesto violento que decorreu em Burgos. O autarca atribuiu a organização da manifestação a “determinados grupos antissistema”, que usam “o estado de alarme para a ordem pública”.

O jornal El Confidencial detalhou ainda que os protestos começaram às 22h da noite de 30 de outubro — justamente por ser a hora a que começava o recolher obrigatório imposto pelas autoridades de Castela e Leão para conter a disseminação do coronavírus.

Aquele jornal dá algum enquadramento ao momento que foi captado no curto vídeo que agora voltou a circular. “Numerosos residentes saíram às janelas das suas casas para se queixarem do que estava a acontecer e a polícia mobilizou vários efetivos anti-distúrbios contra os jovens que lançaram objetos”, escreveu o El Confidencial. “À medida que os agentes avançavam pelo bairro, os residentes iam aplaudindo a sua presença e ouviram-se gritos de ‘Isto não é Gamonal’. A intensidade dos distúrbios obrigou a que, em alguns momentos, os agentes da polícia local e nacional tenham tido de recuar.”

Conclusão

Ao contrário do que diz a publicação, o vídeo não mostra a polícia espanhola a fugir de “imigrantes desordeiros”. Trata-se de um vídeo que mostra um curtíssimo momento de um protesto violento na cidade de Burgos, ocorrido em outubro de 2020, contra as medidas de contenção da pandemia de Covid-19 — em que os agentes da polícia, perante o arremesso de pedras por parte dos manifestantes, tiveram de recuar.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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