Um check-up emocional de início de ano letivo? |
Já tem a lista do material escolar? Ou ainda espera pelas reuniões – que na maior parte das escolas não estão ainda marcadas? E os manuais, já estão encomendados? Ou ainda anda às voltas com os vouchers e a devolução de livros e a grande confusão que se gerou sobre o tema, com informação contraditória entre as escolas e o Ministério da Educação? E os horários? E as Atividades de Enriquecimento Curricular? E os percursos de transportes para a escola nova? E a marcação de refeições? |
O ano letivo está prestes a arrancar e, com ele, chega a ansiedade pré-escola que caracteriza sempre estes tempos. E que afeta as crianças e os adolescentes e, claro, os pais. Há quem lhe chame nervoso miudinho, neura ou telha. Há quem lhe chame ansiedade. Há quem tenha mesmo um diagnóstico de perturbação de ansiedade (que, claro, está à espreita por estes dias). E há quem não queira pensar muito no assunto porque nunca pensou muito no assunto e não é agora que vai começar. |
Só que… o início do ano letivo é uma boa altura para pensar no assunto. É um bom momento para pensar como foram os anos anteriores e em que estado estiveram muitas crianças e jovens que até poderiam ter passado por momentos difíceis de forma mais confortável… se os pais tivesse reparado antes que alguma coisa não estava bem… se a escola tivesse sinalizado mais atempadamente as alterações de comportamento daquele aluno… se os psicólogos escolares do agrupamento tivessem um reforço de meios para dar resposta a todos os pedidos… se a articulação entre a escola e os serviços de saúde fosse mais eficaz… se… se… se… |
As razões são muitas e até podem ser difusas, mas as consequências são claras: os adolescentes portugueses estão mais infelizes e é urgente fazer alguma coisa sobre o tema. E o início do ano letivo é uma boa altura para as famílias (também) pensarem nisso. |
Um estudo divulgado em dezembro do ano passado dava conta de que os jovens portugueses de 11, 13 e 15 anos tinham uma baixa satisfação com a vida e uma reduzida perceção de felicidade. De acordo com o Health Behaviour in School-aged Children, realizado em 51 países em colaboração com a Organização Mundial de Saúde, mais de um em cada quatro (27,2%) adolescentes em idade escolar revelaram sentir-se infelizes (em comparação com 18,3% em 2018, ano do último estudo do género). |
Sintomas como dores no corpo, nervosismo, irritação, tristeza, medo ou dificuldade em adormecer foram alguns dos apontados pelos inquiridos do estudo que, em Portugal, foi coordenado pela equipa Aventura Social, do Instituto de Saúde Ambiental da Universidade de Lisboa, em parceria com a Direção-Geral da Saúde e a Direção-Geral das Estatísticas da Educação e Ciência. |
Alguns destes sinais são ligeiros e, por vezes, difíceis de detetar. Implicam uma atenção mais regular, um acompanhamento mais próximo e, por vezes, a necessidade de falar com especialistas que os ajudem a interpretar. Outros são mais subtis e não se notam em ambiente familiar mas vêm à tona nas salas de aula. |
Em abril, no Mental, a secção do Observador totalmente dedicada à saúde mental, demos conta de um projeto de uma escola de Loures que já ajudou milhares de alunos a lidar com questões como ansiedade ou tristeza. No ano letivo que está prestes a começar, ideias como a da professora Dulce e de muitos outros docentes pelo país fora irão apoiar crianças e jovens em momentos de sofrimento emocional. Mas, neste mesmo ano letivo que está prestes a começar, há uma coisa que muitas famílias podem juntar à lista de tarefas a executar antes do arranque das aulas: conversar com os filhos sobre esses sintomas que se calhar já vêm de trás, se calhar estão a ser disfarçados, e se calhar podem ter ajuda… |