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Não passa dos 16 centímetros de comprimento, vive no máximo seis anos e precisa das águas bem oxigenadas das correntes para sobreviver. O escalo-do-mira é um pequeno peixe de água doce que vive exclusivamente na bacia hidrográfica do rio Mira, mais concretamente na ribeira do Torgal, nas proximidades de Odemira. É, por isso, uma espécie unicamente portuguesa. |
Este ano, porém, poderá ter desaparecido do mapa. |
As chuvas e tempestades das últimas semanas podem fazer esquecer que 2023 foi um ano de recordes de temperaturas a nível global. Em Portugal, na Europa e no mundo registaram-se graves situações de seca e foram atingidos sucessivos máximos de temperatura. O verão de 2023 terá mesmo sido o mais quente de sempre desde que há registos a nível global. |
Uma das consequências deste ano de recordes verificou-se na ribeira do Torgal, que secou por completo este verão. Foi assim, totalmente seca, quase como se fosse um mero caminho rural, que um grupo de ambientalistas da associação Zero encontrou a ribeira no final deste verão. Paulo Lucas, um dos ambientalistas do grupo, falou ao Observador sobre a “grande tristeza” que sentiu ao encontrar a ribeira seca — e ao dar-se conta de que, com o desaparecimento do curso de água, também o escalo-do-mira poderia estar totalmente extinto. |
Há vários anos que o ambientalista está ligado à conservação de animais como o escalo-do-mira — esta foi, aliás, uma das espécies incluída num programa de conservação ex-situ iniciado pela Quercus em 2008, quando muitos dos atuais dirigentes da Zero ainda faziam parte daquela organização. Atualmente, porém, o escalo-do-mira já não estará a ser reproduzido em cativeiro: a seca da ribeira do Torgal, pela primeira vez na história, poderá por isso significar o fim de uma espécie exclusivamente nacional. |
Para o artigo em destaque nesta edição, conversei com Paulo Lucas sobre a possível extinção do escalo-do-mira, que o ambientalista não hesita em atribuir às alterações climáticas, para compreender que espécie é esta, o que lhe poderá ter acontecido como consequência da seca e que esperanças ainda restam de que o escalo-do-mira possa ter sobrevivido. |
A história deste pequeno peixe alentejano é também uma oportunidade para olhar para os mais recentes livros vermelhos editados em Portugal — as dramáticas listas de espécies ameaçadas de extinção no nosso país — e para compreender como os esforços de conservação têm sido eficazes na preservação de algumas espécies que chegaram a estar à beira da extinção definitiva. |
Ações radicais do Climáximo continuam a marcar agenda |
Desde a última edição desta newsletter, que se centrou nas dúvidas sobre o realismo das exigências do movimento ambientalista Climáximo, o grupo não saiu das páginas dos jornais. |
Só nestas semanas, os jovens do grupo bloquearam a Avenida 24 de Julho e a Rua da Escola Politécnica, ambas em Lisboa, despejaram cimento nos buracos de um campo de golfe, interromperam um espetáculo no Teatro São Luiz, em Lisboa, e até tentaram impedir a partida de um avião da TAP que fazia a ligação Lisboa-Porto. |
No Observador, continuámos a prestar atenção a este fenómeno crescente. A minha colega Adriana Alves esteve num dos eventos que o Climáximo usa para recrutar novos membros e conta-lhe os bastidores deste coletivo de ação climática que se está a tornar cada vez mais radical nas suas ações. Neste outro artigo, procura-se responder a uma pergunta central: as estratégias mais radicais usadas para chamar a atenção podem prejudicar a eficácia da mensagem sobre a crise climática? |
Na secção de Política, a Mariana Lima Cunha e a Marina Ferreira foram procurar saber como está a relação entre o Climáximo e os partidos políticos que mais têm acenado com a bandeira ecologista. A conclusão é só uma. Partidos como o Livre, o PEV, o PAN e até o Bloco de Esquerda, que historicamente teve vários pontos de contacto com o Climáximo, tentam demarcar-se dos protestos do grupo. Argumentam que os métodos usados pelo coletivo representam “um caminho perigoso”, “não credibilizam a causa do ativismo ambiental” e geram “antipatias”. |
A atuação do grupo Climáximo esteve também em debate na edição desta semana do programa Justiça Cega, da Rádio Observador, em que os advogados Paulo Saragoça da Matta e Leonor Caldeira e o ambientalista Francisco Ferreira debateram sobre os problemas de segurança pública que as ações do Climáximo representam neste momento. Pode ouvir o episódio aqui. |