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Nos últimos dias, o país assistiu a vários protestos de jovens em defesa do Clima: um ministro foi atingido com ovos com tinta verde durante uma conferência; a 2.ª Circular foi bloqueada e os vidros do edifício sede da REN foram partidos. Olhando para as faixas que os acompanham, facilmente se percebe que defendem metas muito exigentes para a redução das emissões de gases com efeito de estufa. |
Ainda que o que chame a atenção seja muitas vezes a forma dos protestos, é importante entender se o que é exigido é possível de alcançar, ou se serão em muitos casos metas tão exigentes ao ponto de nem sequer serem exequíveis. Para tentar responder a esta e a outras questões, o Observador falou com Francisco Ferreira, professor e investigador na Universidade Nova de Lisboa e presidente da associação ambientalista Zero, que analisou o que estes manifestantes apoiados pela plataforma Climáximo — grupo, que se apresenta como um movimento anticapitalista pela justiça climática — exigem. |
“O pior é não explicarmos o que está em jogo — porque as palavras de ordem têm de ser rápidas e porque nas entrevistas há uma simplificação da realidade —”, lamenta Francisco Ferreira, assegurando que nem tudo o que é pedido seria possível de alcançar. |
As três principais campanhas da plataforma passam por: |
- não querer que o gás natural — que diz ser tão natural como o petróleo — faça parte da transição energética. Aqui, o presidente da Zero concorda que a eletricidade deve, tendencialmente, ser de origem renovável, mas explica como “o gás natural tem tido um papel fundamental na transição” para uma eletricidade de origem 100% renovável;
- exigir “empregos para o Clima”, com o objetivo de cortar 85% das emissões em 10 anos — uma meta, aliás, que o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) tem para 2050. A Zero também faz parte da campanha ‘Empregos para o Clima’, mas também aqui Francisco Ferreira contesta um detalhe: as metas e objetivos podem perder a credibilidade se forem excessivos, irrealistas ou mesmo impossíveis.
- acabar com os jatos privados, reduzir o número de outros voos e travar a construção de novos aeroportos. Mais uma vez aqui, o ambientalista e professor universitário apoia alguns princípios, mas afirma que não advoga proibições. Ainda que os jatos sejam “um abuso brutal em termos de emissões”, diz, há motivos médicos ou de segurança dos chefes de Estado, por exemplo, que podem justificar o seu uso.
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Governo diz estar “alinhado com as expectativas dos portugueses que querem transição climática justa” |
Ainda antes de ter sido entregue pelo Governo no Parlamento a proposta do Orçamento do Estado para 2024, a secretária de Estado da Energia, Ana Gouveia, deu uma entrevista ao Observador em que falou diretamente sobre estas exigências — focando que o trabalho do executivo está em linha com o que esperam os portugueses. |
“Creio que aquilo que estamos a fazer está perfeitamente alinhado com as expectativas dos portugueses que querem fazer um caminho para a transição climática, mas querem assegurar também que essa transição é justa, que os empregos que se perdem são substituídos por novos e que esse caminho é feito com segurança e justiça social”, disse, afirmando querer lançar, até dezembro, dois concursos vistos como fundamentais para a transição energética — a prospeção e pesquisa de lítio e a atribuição de potência eólica no mar. Uma entrevista com muitos outros temas para ler, como a abertura do governo para injeções extraordinárias no sistema elétrico e do gás para garantir a estabilidade dos preços. |