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São, provavelmente, a imagem mais célebre e impactante dos nossos oceanos. Rendem milhões de euros à economia global todos os anos. E ajudam a proteger o planeta de forma decisiva. Mas os recifes de coral estão em perigo — e o alerta foi renovado nas últimas semanas pela comunidade científica global. |
A importância dos corais vai muito além do inegável valor estético: os recifes são dos ecossistemas mais valiosos para a biodiversidade do planeta. Estima-se que 25% de todas as espécies marinhas (e cerca de 4 mil espécies de peixes) dependam, em algum momento dos seus ciclos de vida, dos recifes de coral. |
No total, mais de um milhão de espécies marinhas têm nos recifes de coral os seus habitats, fontes de alimento ou locais de desova. Além disso, as grandes estruturas de corais têm um papel decisivo na proteção das costas dos efeitos da erosão e dos fenómenos extremos. Números citados pelo governo norte-americano dão conta da importância económica destes ecossistemas: rendem 27,7 mil milhões de euros por ano ao planeta, entre a atividade turística, a proteção costeira, as pescas e a proteção da biodiversidade. |
Contudo, estes complexos ecossistemas marinhos, formados por centenas de espécimes agrupados em colónias que podem ter dimensões suficientes para serem vistas do espaço (como é o caso da Grande Barreira de Coral, na costa australiana), estão sob ameaça: o aumento das temperaturas dos oceanos é fatal para estes seres vivos e pode traduzir-se num impacto trágico para a biodiversidade global. |
Há apenas duas semanas, cientistas da NOAA (a agência meteorológica dos Estados Unidos) e da International Coral Reef Initiative declararam formalmente que os recifes de coral a nível global estão a atravessar uma nova vaga de branqueamento em massa. É a segunda vaga em apenas dez anos — e a quarta em três décadas. |
Os corais, que são animais, vivem em simbiose com algas que habitam nos seus esqueletos. O coral garante o habitat à alga, que por seu turno faz a fontossíntese e fornece alimento ao coral. É devido a estas algas que os corais apresentam cores diferentes. O aumento das temperaturas da água do mar, porém, aumenta os níveis de stress dos corais e leva à expulsão das algas. O primeiro impacto é a perda da cor (por isso se fala em branqueamento dos corais). Inevitavelmente, a falta de alimento conduz à morte dos corais. |
Os fenómenos de branqueamento de corais têm-se registado um pouco por todo o mundo, mas esta é a segunda vez numa década que a comunidade científica declara um branqueamento em massa à escala global: há registo de destruição de recife de corais em todos os oceanos do planeta. Será uma consequência direta do aumento das temperaturas globais (2023 foi o ano mais quente desde que há registos), a que se soma o impacto do fenómeno climático cíclico El Niño, que se instalou no ano passado. |
As altas temperaturas não são, contudo, a única ameaça aos corais. Recentemente, uma equipa de cientistas portugueses fez uma descoberta inédita, identificando pela primeira vez corais que estão a absorver nos seus organismos redes e fios de pesca de plástico. O fenómeno foi inicialmente detetado por pescadores de Cascais, que encontraram exemplares de um coral de água fria que existe na costa portuguesa com redes e fios. |
Os pescadores contactaram investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, que os estudaram para concluir que os corais tinham, efetivamente, incorporado, as redes e os fios. Sónia Seixas, uma das investigadoras que realizaram o estudo, revelou que, apesar de já existirem vários relatos de corais afetados por plásticos, parece ser a primeira vez que é detetada a presença dos plásticos dentro do próprio esqueleto dos corais. |
As consequências do fenómeno ainda não são totalmente conhecidas. Mas o que é certo é que, nas regiões de Cascais e Sines, cerca de 6% dos corais estudados pelo grupo de investigadores já estavam afetados por esta condição. |
A recordista de mergulho transformada em embaixadora da conservação marinha |
Apenas dez dias depois do anúncio sobre a quarta vaga de branqueamento em massa de recifes de coral, estreou-se na semana passada em mais de uma centena de países (incluindo Portugal), através do Discovery Channel, o documentário A Luta Pelos Corais. O filme de 45 minutos acompanha a mergulhadora Salma Shaker, da Arábia Saudita, e explora a realidade dos recifes de coral na costa do Mar Vermelho. |
Salma Shaker, de 24 anos, foi uma das primeiras mulheres mergulhadoras da Arábia Saudita e já foi nove vezes recordista nacional de mergulho do país. Mas, com o tempo, o mar deixou de ser apenas território de desporto para ela: filha de um geólogo marinho, Salma Shaker apaixonou-se pelos oceanos e prepara-se para começar um mestrado em Conservação Marinha. |
Transformada em símbolo da relação humana com o mar e fonte de inspiração para as mulheres sauditas, Salma Shaker deu uma entrevista ao editor de Desporto do Observador, Bruno Roseiro, na qual explica como o mar passou de hobbie desportivo a paixão profissional — e em que fala da experiência de filmar o documentário ao lado de cientistas de todo o mundo que estudam a realidade dos recifes de coral. |
“Fico em choque quando vejo o que se passa em alguns recifes de corais como aqueles que existem nas Caraíbas, ver aqueles cientistas a não conseguirem evitar as lágrimas”, contou Salma Shaker na entrevista, em que descreve o fundo do mar como “outra galáxia”. |