“Vou ao escritório todos os dias, tomo café com os meus colegas, conversamos enquanto comemos as nossas marmitas, discutimos questões de trabalho cara a cara com frequência”.

Esta era a realidade da maioria das pessoas há uns anos, mas todos sabemos que essa realidade se tem vindo a alterar de forma crescente (e, em muitos locais, de forma abrupta, quando o COVID-19 entrou nas nossas empresas e provocou alterações que vieram para ficar).

Hoje, muitos de nós trabalhamos a partir de casa, ligados apenas por e-mails, plataformas de mensagens, videochamadas em que por vezes a câmara fica off, e só sobra o áudio para nos garantir que alguém está presente.

As vantagens do trabalho remoto já foram discutidas em milhares de artigos, conversas e palestras. Mas, ainda assim, sinto sempre que não se fala do mais importante. A conversa acaba sempre por resvalar para a produtividade (com alguns a garantirem que em casa há mais foco, e outros convictos de que só no escritório é que as equipas atingem o máximo de potencial) ou para a conveniência (quem nunca ouviu o clássico “eu até aproveito para fazer máquinas da roupa e adiantar algumas tarefas domésticas!”?).

Mas, como disse, sinto que nunca se fala do mais importante: a forma como o trabalho remoto faz com que a proximidade diminua, e que os momentos cara a cara comecem a ser substituídos por dois ecrãs e dezenas, centenas, ou até milhares de quilómetros.

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Para alguém que trabalha em Recursos Humanos, como eu, este é um dos problemas que gritam mais alto no dia a dia: o silêncio de quem está do outro lado.

No trabalho remoto, não temos as “conversas de café”, em que se percebe, de forma descontraída, como se sente a pessoa que está à nossa frente. Não vemos as expressões de cada um quando se discute determinado assunto, não ouvimos tantas vezes as flexões na voz, não conseguimos reparar no sorriso involuntário ou no olhar preocupado quando recebem uma novidade.

Dos colaboradores mais tímidos, tudo o que ouvimos é silêncio, que tanto pode ser sinal de um estado de harmonia, como de um descontentamento conformado, de uma sensação de solidão, de um sentimento de não pertença.

Mais do que nunca, um profissional de RH numa era de trabalho remoto tem de saber ouvir e ler nas entrelinhas. Não apenas ouvir as vozes que se impõem, que sugerem, criticam ou exigem, mas principalmente ouvir a falta das restantes vozes.

Em empresas em que cada colaborador pode decidir onde trabalha e em que grande parte da equipa passa mais de 90% do seu tempo fora do escritório, como na Nutrium, é fácil não reparar nos silêncios, e não perceber se algo mudou em algum dos colaboradores, que por vezes continuam a entregar sem dar indicação de que alguma peça deixou de encaixar.

Este desafio pode ser colmatado com a criação de uma cultura que, na Nutrium, apelidamos de CPA: Comunicação, Proximidade e Apoio.

No pilar da Comunicação, é essencial a criação de espaços seguros para a expressão, como conversas individuais em que o feedback é encorajado, assim como a promoção de uma cultura de comunicação transparente.

Para a Proximidade, a solução passa pela criação de momentos de convívio presenciais, para possibilitar pontes entre as pessoas, e por iniciativas dinâmicas online, como workshops de nutrição ou aulas de yoga, para estimular a confiança e estreitar relações.

No que diz respeito ao Apoio, o investimento em benefícios relacionados com o bem-estar físico e mental, como a nutrição, psicologia ou até mesmo a flexibilidade de horário, ajudam a criar uma rede de segurança, e permite a cada colaborador focar-se em si mesmo e trabalhar diversos aspetos da sua vida pessoal e profissional.

Com iniciativas internas como a CPA, na Nutrium temos conseguido garantir a satisfação dos colaboradores e ter uma taxa de retenção superior à média do mercado.

E, mais do que isso, temos lutado todos os dias para que todos os colaboradores tenham uma voz ativa, um espaço seguro e a confiança para partilharem a sua insatisfação, as suas necessidades ou dificuldades.

E é esta a missão que eu, e tantos outros RHs, estamos a abraçar: a de saber ouvir por entre os silêncios, e transformá-los em vozes bem altas.