Longe. Para alguns 100km, para outros 10.000km. Para alguns, bastante tempo no carro, para outros 3 voos e algumas horas de estrada. Não existe uma medida certa para se definir a distância, mas acho que, para fins de amor, “longe” pode ser definido como o lugar onde está tudo aquilo que não se pode abraçar.
E o problema não é apenas não poder abraçar. É não sentir o cheiro, não segurar a mão, não passar os dedos entre os cabelos. É não poder olhar bem nos olhos da pessoa para saber se tudo está realmente bem, ou se é só conversa para não nos preocupar. É, de um modo geral, não poder sentir verdadeiramente quem se ama, nas diversas formas que a gente gostaria de sentir.
Mas nós vamos dando um jeito: as mensagens frequentes, os áudios com duração de mais minutos do que era de se esperar, as ligações que tentam sobreviver a uma conexão ruim de internet, as chamadas de vídeo que travam o tempo todo, mas que dão os melhores indícios de presença. Nada disso preenche o vazio, mas vamos tapando o sol com a peneira para poder seguir caminhando.
Outras vezes são objetos. Uma peça de roupa que a gente não lava para não perder o cheiro de quem se ama. O vidro com o resto do perfume do outro. O porta retrato na prateleira de casa, tentando suprir a ausência. O pano de prato dado pela avó, o relógio que era do pai, um brinquedo antigo do filho, o livro dado pela mãe, o colar que se roubou da irmã. Pequenos tesouros cujo valor só a gente entende.
Às vezes a distância é fruto de um movimento nosso. Às vezes é fruto de um movimento do outro. Outras vezes, de nenhum dos dois. Foi a vida que resolveu assim. Seja como for, é inevitável ter uma certa mágoa de quem partiu. Sobretudo se quem partiu fomos nós. Aí já nem é mágoa, é raiva mesmo: o que eu estou fazendo aqui? Por que eu tomei essa decisão? Quanto sofrimento eu impus aos que me amam? Com que direito?
São perguntas que não nos levam a grandes respostas. Estamos aqui porque estamos. Trabalho, estudo, outros amores. As pessoas partem porque partiram. Oportunidades, sonhos, necessidades. A distância existe porque é esta a geografia. O amor tem que ser grande. O amor tem que ser forte. O amor tem que ser generoso. Até porque, se não for grande, forte e generoso, é capaz de nem ser amor. Posse, paixão, carência, outra coisa. Mas amor, não.
Não sei dizer se a gente se acostuma. Acho que não. A gente só aprende a aceitar sem tanta relutância. Uma mistura de cansaço, conformismo e serenidade. Já que não há grande possibilidade de escolha, nosso peito vai deixando que a ausência se acomode lá dentro até que ela se encaixe de um jeitinho que pare de machucar. Já não machuca, mas a ausência está lá, incómoda, todos os dias.
O jeito é não perder a essência. Não esquecer que o que nos une é muitíssimo maior do que os quilómetros que nos separam. O jeito é focar no amor e não na ausência. Aproveitar cada palavra, olhar com calma para cada foto, saborear cada segundo da voz. Lembrar-se do cheiro e do toque com gratidão por tudo o que temos. Nos orgulharmos da nossa coragem de encarar as farpas da ausência para perseverar o bom do amor. E, acima de tudo, lembrar-se diariamente que para estar junto não é preciso estar perto.