Hoje quero falar-vos de um jovem chamado Hélder. Hélder tem 24 anos, é solteiro e acabou a licenciatura em “Design de produto”, com boas notas.

Fez um estágio para perceber melhor o mercado de trabalho português na sua área. Um estágio de um ano, não remunerado pois sabia que tinha muito a aprender com o seu empregador de momento e não seria produtivo para ele.

Hélder encontra-se ainda a viver com os pais mas sente-se ansioso por ser independente. Com a experiência do estágio está com imensas ideias e vontade para entrar no mercado de trabalho.

Passa muitas das noites a pesquisar na NET, a ver o que se faz noutros países da Europa para ter um conhecimento mais profundo das tendências inovadoras da sua formação. Tenta perceber como se pode chegar aos clientes finais, com os seus produtos e serviços. Tem curiosidade pelos países com historial socioeconómico recente e em especial na sua área profissional. Sabe que as suas ideias sobre Design de produto têm tido êxito nesses países e acha que pode transpor esse desenvolvimento para Portugal.

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Hélder decide então abalançar-se para a frente e constituir uma pequena empresa que quer que seja bem estruturada e profissional. Os seus Pais deram-lhe valores de seriedade e legalidade, portanto Hélder quer-se pautar pela legalidade fiscal e laboral vigente no seu próprio país, quando decide ir para a frente com o seu projecto.

Procura um espaço próprio e arranja um escritório no Porto, a 300 € por mês, já a pensar um pouco no futuro. Sabe que Lisboa seria o ideal, aonde tudo se passa e lembra-se do ditado; Portugal é Lisboa, o resto é paisagem. Mas não quer acreditar nisso.

Decide então registar a sua empresa na “Loja do Cidadão” já com a ajuda de um contabilista certificado. Este, aconselha-o a constituir uma sociedade unipessoal e nomear-se como sócio-gerente. No fundo, com este título ele é já considerado um patrão face à lei portuguesa. Vai ter que ter contabilidade organizada e isso vai custar-lhe 150 €/mês .

Atribui a si próprio um ordenado, de 850 €/mês. Nada demais pensa ele. Sobre este valor ele vai pagar individualmente 93,50 € / mês de segurança social. A empresa, que no fundo é ele, pagará 201,88 €. Ou seja, Helder levará para casa dos 850,00€, apenas 671,50 €. E tem que injectar dinheiro na empresa com produtos do seu trabalho.

A empresa com o seu ordenado terá um custo anual de: 1050,00€ x 12 meses = 12.600 € / ano. Serão somente 12 meses pois não quer sobrecarregar a sua empresa com o 13º e 14º mês.

Mas Hélder precisa de investir nas visitas a clientes, tentando promover os seus préstimos e as suas ideias de produto. Por isso precisa de ter o escritório aberto com mais alguém. Também acredita no trabalho em equipa. Consequentemente ele precisa de um colaborador. Consegue entrar em acordo com um colega de curso pagando-lhe 800,00 € / mês. Que afinal vão ser 800,00€ x 14 meses ou seja 11.200,00 €.

Para o seu colaborador, o Hélder vai pagar a segurança social dele em cerca de 23,75%, ou seja, 272,00 € /mês. Multiplicado por 14 será 2.688,00 €. Acresce que o colaborador também não levará para casa 800,00 €, mas sim 650,00 € dada a taxa de IRS que vai auferir.

Hélder como sócio –gerente e patrão, expõe o seu quadro de encargos fixos face ao Estado.:

  1. Ordenado do patrão Hélder – 12 meses (sem 13º e 14º mês) – 10.200,00 €
  2. Segurança Social de Hélder – 10.200,00 € x 23,75% – 2.422,50 €
  3. Ordenado do colaborador (14 meses) – 11.200,00 €
  4. Segurança social do colega ( 23,75 %) – 2.660,00 €
  5. Renda do aluguer escritório 300,00 € / mês – 3.600,00 €
  6. Energia – EDP (inclui 23% de IVA) – 60,00€/ mês – 720,00 €
  7. Contabilidade organizada ( 150,00€/mês) -1.800,00 €

Total /ano – 29.002,50 € Ou seja praticamente 30.000 euros por ano!

Hélder não fez ainda contas ao que precisa de hardware e software para o exercício do seu trabalho. Começa a ficar desconfiado do seu projecto pois quer começar e não tem ainda clientes que justifiquem estes grossos encargos fixos.

Mas até pensa que o primeiro ano pode ser penoso, e que no segundo ano talvez consiga atingir um lucro de 10.000 € na empresa. Pensa ainda atenuar o magro vencimento líquido de 650,00 € / mês. Com esse pequeno lucro. Mas está enganado como veremos.

Dos 10.000 € de um potencial lucro, terá de pagar de IRC, 17%, ou seja, 1.700,00 €. Ficará somente com 8.300,00 €. E Hélder fica até a pensar em tirar esse remanescente da empresa para colmatar o tal magro ordenado. Para o fazer ser-lhe-á retirado 28 % desse valor; portanto ficará com 5.700,00 €. Portanto quase metade do lucro dos 10.000 € ficará para o Estado.

Hélder sente as suas ideias inovadoras a esfumarem-se. Não vê como consolidar um pequeno negócio de serviços, face a esta realidade do Nação fiscal. Ele sente confiança no seu mérito e na sua força de vontade em progredir e até não quer pedir nada ao Estado. Mas o Estado quer tudo dele, logo à partida.

Para grande tristeza dos Pais de Hélder, ele muda de ideias; decide trabalhar numa fábrica perto de casa, pois não quer ser dependente da família. Veste o uniforme respectivo e passa entrar às 8h e sair às 17 h. Durante todos os dias úteis Hélder sente-se cada vez mais um robot humano apesar das regalias que a fábrica oferece; depois muda de horário e decide pelo regime de turnos pois fica a ganhar mais qualquer coisa. Passa a entrar às 22 h e a sair às 6 h da manhã. Por vezes mudam-lhe o turno para as 6 h. e sai às 14 h.

Hélder sente-se com o Jetlag dos aviões e à noite, sem sono, continua a pesquisar na NET as matérias preferidas do curso que tirou. Sente-se ainda a sonhar e quer ser dono do seu destino.

Hélder sente-se cansado… muito cansado da vida que leva.

O

recomeço: numa manhã pelas 7 horas, a sua mãe chama-o para o pequeno almoço. Hélder não responde. A mãe chama-o novamente. Vai ao quarto e este está vazio. As roupas do roupeiro já lá não estavam.

Hélder tinha partido.

No dia seguinte os pais recebiam o seguinte mail :

“Queridos Pais,

Por favor não estranhem com a minha saída repentina. Se não fosse assim tudo seria mais difícil para todos. Agradeço-vos muito a educação que me deram ao longo destes anos, o quanto apostaram em mim para tirar o curso que sempre sonhei ter.

Mas concluí que Portugal não dá valor àqueles que sonham em projectos individuais porque os que nos governam ao longo de tantos anos, não querem entender que o sonho individual faz parte da vida humana para se ser feliz . Neste País tudo assenta na chamada “ eficiência fiscal “ e na receita do turismo.

O País parece uma espécie de colectivização estranha sempre em greves corporativas sem controlo. Uma forma camuflada de socialismo que nos leva à pobreza. Não quero fazer parte disto. Vi exemplos suficientes na História universal.

Vejo tanta gente agarrada a empregos do Estado, ou a trabalhar para outros, que não me revejo neles. Uns serão privilegiados sempre suplicantes por mais direitos de classe profissional e corporativa, outros serão habituados e resignados a um repetitivo emprego, porque não pertencem a nenhuma corporação ou sindicato activo .

E quando as “formiguinhas”, que são o povo trabalhador, querem fazer algo por si próprias, vem logo a bem oleada máquina fiscal para os esmagar com impostos.

Por tudo isto estou sem esperança em Portugal e por isso candidatei-me a trabalhar em vários países da Europa. A República Checa, Polónia ou os países do mar Báltico; todos eles com economias emergentes governadas por regimes liberais em que o peso do Estado é contido e não reprime os sonhos das pessoas. Têm princípios inovadores e descomplexados quanto ao Liberalismo e conheceram de perto a pobreza a que conduziram os sistemas socialistas durante todo o séc. XX. São países receptivos à inovação e à iniciativa privada, princípios que eu defendo para progredir na vida.

Vou agora trabalhar um ano para a Estónia e logo se verá. O governo deles assenta na contenção de impostos e estão com grandes progressos na era digital. Garantem a todos os que queiram trabalhar lá, um ambiente fiscal estável. Em Portugal nunca se sabe o dia de amanhã. Em cada orçamento de Estado há novidades surpreendentes.

Darei notícias…

Um abraço forte do filho Helder”