Abram alas. Estão escolhidos os três reis magos portugueses para ir ao Qatar. Em vez de ouro, incenso e mirra, estes representar-se-ão por sorrisos a um consenso de desrespeito dos direitos humanos, numa mistura desnecessária entre futebol e política.

Apresentada a comitiva presidencial de Portugal para representar o nosso país no Qatar, seguir-se-á o desfile de vedetas à passadeira da relativização dos estatutos democráticos. Na forma de três reis magos, assim se irão dirigir o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva e o primeiro-ministro António Costa ao país que põe em causa a junção das palavras “direitos” e “ser humano”.

Fica-lhes fácil a excursão em nome do Estado português, a representar o bem parecer de Portugal no Médio Oriente. Engane-me eu ou desenganem-se eles, mas os nossos representantes em jogo são a Seleção das Quinas escolhida por Fernando Santos e o objectivo estará nos seus pés e naqueles relvados. A única forma de minimizar a sentença da FIFA, por trocar ao desbarato os valores democráticos pela conta recheada, é jogar-se à bola. A nossa comitiva presidencial, ainda na dúvida, parece querer confirmar a bola em jogo, levando a política para dentro de campo.

O palco da Seleção das Quinas deixa-se cair em plano paralelo quando as três figuras mais importantes de Portugal se dirigem, como que em representação comemorativa e representativa do Estado português ao Qatar. Os nossos governantes, desfalcados de apoio global democrático, irão sentar-se em três dos muitos lugares vazios nos estádios do Qatar.

Ao futebol o que é do futebol, aos governantes o que merece a sua presença em nome do regime político português. Ali, naqueles três representantes de Estado, também estaremos cada um de nós, com o respectivo significado no pré, durante e pós Mundial de futebol. Serve, então, a importante reflexão dos valores e princípios que seguimos e queremos ver representados pelo poder político, tanto em Portugal como além-fronteiras. Nas próximas semanas, teremos as mais altas figuras do Estado português a dar a cara por cada um de nós, naqueles estádios e ruas do Qatar, quer concordemos com a decisão quer não.

A procissão está presidida, deixem passar os santos.

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