1 A recente confirmação, pelo próprio, de que Paulo Rangel é homossexual tornou-se notícia quando, em boa verdade, as preferências íntimas de cada um apenas dizem respeito a quem estiver envolvido nelas. Infelizmente, os homossexuais ainda se escondem atrás de palavras como gay, alegre em bom Inglês, e até um festival de cinema tem de ser Lisbon Queer porque em Inglês parecerá menos ofensivo. Há quem insista na triste sigla LGBT, agora também I, metendo no mesmo saco homossexuais e outros desvios do eixo central da linha normal que descreve as apetências sexuais da espécie humana. Enfim, por razões que podem ser assacadas à população maioritariamente heterossexual, a que resulta de um imperativo biológico de propagação de genoma, e também aos homossexuais que ainda precisam do carnaval de paradas para se afirmarem, há discriminação negativa, tão criminosa como o racismo, para com aqueles que estão, também biologicamente, determinados para o prazer sexual com pessoas do mesmo sexo. Note-se que ainda recentemente, a propósito do herói nacional Ronaldo Aveiro, foi escrito que o jogador tinha sido alvo de insultos quando o chamaram de homossexual num estádio húngaro. Ser chamado de homossexual era o “insulto”. Tudo na linha editorial da “Rossiyskaya Gazeta”, jornal russo, País onde gostar de pessoas do mesmo sexo ainda é, na tradição soviética, opção intolerável. A China, esse bastião do marxismo de conveniência, segue a via dura.
Paulo Rangel foi sério. Sentiu que precisava disso, num mundo em que poderiam vir achincalhá-lo com a “revelação” de que prefere satisfação sexual com homens, tal como já o visaram, por descuido seu, com a triste figura de bêbedo nas ruas de Bruxelas. E como todos sabemos, a esquerda lusa é muito mais implacável com os “erros” dos outros do que com as “falhas “ dos seus.
Mas todo este folclore, apenas importante num País que ainda precisa de se apaziguar com as diferenças que compõem a humanidade, é irrelevante quando comparado com a questão que Helena Matos nos coloca. Qual a orientação política do Dr. Paulo Rangel? Eu vou mais longe no meu pedido de seriedade. Portugal precisa de saber o que é a direita nacional. O que querem? Qual o seu projeto político? Como veem o estado solidário, as prioridades de investimento público, a segurança, a defesa nacional, as relações internacionais, a pertença a blocos económicos e militares, a necessidade de emigrantes, a imigração, os impostos e as finanças públicas, a educação pública, o ensino obrigatório, a proteção da saúde individual e pública? É que, seguramente por incapacidade minha e desconfio que da maioria dos Portugueses, ainda não percebi onde está a direita em Portugal. Patrióticos, nacionalistas, xenófobos, anticomunistas, liberais, libertários, defensores do setor privado e contra os impostos e o investimento público? Não chega para dizerem que têm um projeto político de governação. Sejam sérios.
2 E foi seriedade o que faltou ao nosso primeiro-ministro quando se lançou a propor o nome da senhora ministra da saúde para lhe suceder em 2023. Manobra de distração, a arte que o Dr. António Costa adora cultivar, para que se afastem os olhares da sua antipatia política para com o ministro Pedro Nuno Santos. Não se trata apenas da Dra. Marta Temido ainda não estar preparada par as exigências de liderar um governo, trata-se do desrespeito que António Costa mostrou para com Marta Temido, pessoa a quem deve muito do equilíbrio funâmbulo a que se tem dedicado. Note-se que a ministra da Saúde tem estado bem, calada, e no tirocínio de política já vai percebendo que são os calados, aqueles de quem se desconfia serem génios, os que chegam mais alto. A António Costa, não serve de nada pedir seriedade.
3 O sucesso de um programa de vacinação não está apenas no número de vacinados. Está, acima de tudo, no efeito da vacina em termos de redução de morbilidade e mortalidade. As autoridades de saúde têm perdido mais tempo a enaltecer os números de injetados do que os efeitos protetores da vacina. Fazem mal. Percebe-se que haja uma fixação permanente nos supostos feitos do fiel de armazém que querem passar de marinheiro a estrela do firmamento e que o próprio tenha tido necessidade de se vir afirmar como não político, a camuflagem habitual dos mais ambiciosos camuflados. Mas essa fixação mórbida num pedante heroísmo que esbate o verdadeiro, único e insubstituível, papel dos profissionais do SNS e das autarquias no processo de vacinação populacional em curso, não nos pode desviar do mais importante. Com a vacinação há menos morbilidade e letalidade.
É certo que os insultos que foram dirigidos ao Senhor Vice-Almirante Gouveia e Melo são tão infames como pirosas foram as palmas que dias depois lhe dirigiram. Mas não nos devem surpreender, já que seremos dos poucos povos do mundo que ainda insistem aplaudir a aterragem de um avião comercial, mesmo quando efetuada por meios automáticos. Insultamos e aplaudimos com a mesma irracionalidade com que aceitamos as verdades que nos quiserem impingir. Sejam sérios.
4 Neste capítulo, tendo já anteriormente reconhecido a minha confiança na comissão técnica para a vacinação, peço urgência na divulgação do parecer técnico que recomenda a vacinação para a COVID-19 a partir dos 12 anos. A evidência que conheço não me pareceu excessivamente convincente e gostaria de estar mais bem informado. Pedido de um crente, cientificamente escurado, no valor profilático da vacinação de populações. Reitero que sou sensível a argumentos de natureza populacional vs individual e não me incomoda aceitar que podemos estar a vacinar adolescentes para conseguir uma proteção população maior do que a redução de risco infecioso individual de cada jovem. Se for verdade, isto tem de ser dito. E também interessa realçar que apenas por via da proteção individual dos jovens, desde que os próprios e os progenitores sejam conhecedores plenos dos efeitos secundários, se pode atingir o efeito populacional desejado. Logo, afirmar, como já li, que vacinar os jovens será inútil para eles e só útil para os mais velhos só pode ser uma falácia que a DGS deveria ter desmontado através de bons esclarecimentos e relatórios públicos e competentes.
Acrescento a necessidade de me explicarem, por palavras simples, porque entendem haver necessidade de terceira dose da vacina para proteger melhor imunocomprometidos. Façam o favor de acreditar que eu sou especialista de imunossupressão e, acompanhando a literatura científica com grande regularidade, ainda não encontrei evidência suficiente que justifique a recomendação feita. A “norma” da DGS (a DGS insiste em confundir normas com recomendações e linhas de orientação) tem uma bibliografia pobre e mal usada. A definição do universo de potenciais beneficiários de terceira dose é uma confusão que mete dó. Esquecem transplantados com células hematopoéticas e misturam regimes terapêuticos indutores de imunossupressão com as doenças imunossupressoras. Quanto a transplantados de órgãos sólidos citam um, apenas um, “estudo” do New England Journal of Medicine que é uma carta ao editor e nada mais do que isso. O artigo citado para justificar terceira dose em imunocomprometidos refere-se ao efeito de uma segunda dose da vacina da Pfizer-BioNTech e só dessa. Sejam sérios e, já agora, mais competentes. Normativos sem suporte bibliográfico adequado só servem para municiar negacionistas, seja lá o que isso quiser dizer. A falta de publicação das reflexões que suportam as conclusões plasmadas em “normas” é uma pecha velha que os organismos públicos insistem em não resolver. Para já, na falta de melhor evidência, a única coisa certa é a necessidade de vacinação completa. A página do CDC está bem mais construída, é mais esclarecedora e explícita quanto a que se poderá recomendar uma terceira dose de vacina mRNA, Moderna ou Pfizer-BioNTech, a quem já cumpriu o esquema de duas doses com uma destas vacinas e não recomenda boost com vacina de mRNA para pessoas que tenham sido vacinadas com antigénio transportado em cápside viral. Recomendar “a dose adicional de vacina de mRNA, independentemente do esquema inicial realizado, em pessoas com condições de imunossupressão”, não está justificado pela bibliografia apresentada na Norma da DGS nem pelo relatório técnico do ECDC que a DGS cita. Este último apenas diz ser possível o uso off label (sublinha-se à atenção do INFARMED, que a Norma da DGS faça a apologia de uso off label) de uma vacina de mRNA depois de uma primeira dose da vacina da AstraZeneca, sem alguma vez se referir à vacina da J&J.
Para piorar, falta saber como se fará a prescrição da terceira dose, se será feita pelo médico de família ou pelo especialista hospitalar e se a prescrição eletrónica já prevê essa possibilidade.
5 É preocupante que ande tudo mais interessado em inocular os mesmos antigénios quando as variantes de SARS-CoV-2 mais preocupantes sejam a lambda e a mu, de que a vacinação não parece proteger grande coisa. Aceito estar enganado, mas parece intuitivo que o caminho a seguir, havendo necessidade de reforçar a imunidade, será o de modificar o antigénio apresentado a cada hospedeiro, eventualmente com a mistura de antigénios diferentes, para conseguir manter um estado de imunidade populacional competente para controlar a endemia de SARS-CoV-2 nas suas múltiplas variantes, um vírus que nunca será erradicado. Mais vacinação se a vacina for diferente da anterior como acontece com a gripe. É preciso que haja seriedade antes de promover o escoamento de stocks remanescentes das vacinas existentes, ainda mais escandaloso se nos lembrarmos que a maioria da população ainda está por vacinar na América do Sul, África e partes da Ásia e Oceânia e a intenção de dar terceira dose apenas se refere essencialmente às populações já vacinadas na América do Norte e Europa. Sejam sérios. Como séria foi a Professora Carla Nunes que recentemente afirmou a evidência de que não será apenas na vacina que podemos confiar para controlar a COVID-19, sendo essencial manter as medidas de higiene individual que passam pelo uso de máscara em ambientes fechados, lavar e desinfetar as mãos com frequência e manter bom senso nos ajuntamentos sociais, beijos e abraços incluídos. Ao mesmo tempo, ainda sem estar convencido dos méritos da ivermectina, conviria que não se abandonasse a procura de quimioprofiláticos e de tratamentos efetivos para a COVID-19, depois dos flops que foram a cloroquina e o remdesivir.
6 E falta de seriedade também é culpar o Estado por não ser capaz de angariar fundos para efetuar ensaios clínicos de uma vacina portuguesa. Sejam sérios. Se a plataforma tecnológica em causa for tão boa como pretendem, ainda útil agora que há muitas soluções e se tiver vantagem competitiva, certamente surgirá uma empresa farmacêutica disposta a financiar a experiência. E a experiência, mantendo a seriedade, não se ficará apenas por 20 milhões de Euros. Esses, os 20, seriam apenas para “aquecimento”.
7 E no sério julgamento que a história um dia fará de tanto disparate e desperdício que nos custou o combate à pandemia, interessará inscrever o que se passou com a recuperação de dinheiro mal gasto em equipamento inútil ou que nunca chegou a ser entregue a quem dele precisava. Sejam sérios.
8 E neste mundo de especialistas, neófitos virais, lá ficámos a saber que uma das figuras que as TVs quiseram promover a mediática, O Doutor Pedro Simas, andava a aproveitar-se da fama para colaborar com publicidade enganosa. Coisa sem importância que apenas ficaria mal a este autoafirmado perito, não tivesse sido ele o 1º autor das 11 páginas de banalidades (a 12ª página é o CV, excelente conjunto de referências que sublinham a inexcedível competência do Simas nos assuntos aflorados, e uma fotografia do feliz autor), a que a campanha do Engenheiro Carlos Moedas chamou “Lisboa + Preparada” para a prevenção de pandemias e outras catástrofes em Lisboa e, ainda pior, não estivesse este cidadão a conspurcar a lista do PSD/CDS et al. para a campanha autárquica de Lisboa. Medina, entretido a construir ciclovias enquanto os pavimentos para veículos motorizados se vão esburacando, agradeceu mais esta incompetência na escolha de candidatos. Pedir a Medina que seja sério, seria o desejo de uma impossibilidade. Não vale a pena.