O caos nas urgências, nas urgências obstétricas e nas urgências pediátricas tem-se intensificado nos últimos dois anos. E não obstante a cobertura mediática dos últimos meses, o caos no Serviço Nacional de Saúde há muito que é vociferado e sentido, na (ausência) de respostas robustas e no suprimento dos recursos humanos, sobretudo de Enfermeiros.

Mantendo-se estas condições caóticas, aquilo que deveria ser um desvio, está a transformar-se num padrão, cuja aceitação tem consequências graves. Quais são os custos desta aceitação?

Na região de Lisboa e Vale do Tejo há mais de uma centena de camas encerradas por falta de Enfermeiros. E a considerar-se aquilo que se verifica nas visitas de acompanhamento do exercício profissional, realizadas pela Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, deveriam estar encerradas muitas mais. O cenário é avassalador em termos de dotações seguras e de sobrecarga de trabalho, com horários sustentados em horas extraordinárias, muitas reiteradas e paradoxalmente previstas.

O encerramento de camas será sempre uma decisão difícil. E pese embora as consequências deste encerramento não serão muito maiores as consequências e os custos do não encerramento?

Não nos iludamos, o risco de termos equipas de enfermagem com um número, tantas vezes 50% abaixo do recomendado, tem efeitos gravíssimos para os doentes, como são exemplo o aumento da taxa de mortalidade, das taxas de infeção, da taxa de quedas e dos erros terapêuticos. Danos graves também para os Enfermeiros, que são já considerados um dos grupos profissionais com níveis mais elevados de exaustão.

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Dados do Ministério da Saúde revelam à data, que 79% das cirurgias oncológicas previstas já foram concretizadas, não oncológicas quase 30%. Estas cirurgias complementares foram realizadas a que custo? Custos financeiros associados à atividade cirúrgica adicional, certo, mas também custos funcionais acrescidos, sentidos de forma mais premente nas equipas de enfermagem dos serviços de internamento, que sem incentivos financeiros, majorações ou percentagens adicionais ao vencimento, e já no limite, vêm o tempo destinado a cada doente ainda mais reduzido, e paralelamente o saldo final de horas, ainda mais, aumentado.

Enaltece-se a medida de recuperação das listas de espera para a cirurgia dos doentes oncológicos, mas urge reconhecer que a complexidade dos problemas de saúde não se coaduna com medidas avulsas, setoriais e “locais”, sob pena de, pela iniquidade e sobrecarga, o êxodo dos Enfermeiros para o setor privado aumente, bem como a emigração e o abandono da profissão.

Mais do que recrutar, é fundamental valorizar e reter. Até porque não podemos aumentar a exigência sobre a produção, ignorando a escassez e fragilidades inerentes a todos os intervenientes do processo.

A valorização passa por criar condições condignas e novos modelos assistenciais, mas também medidas justas do ponto de vista remuneratório e progressão, com a certeza de que qualquer transformação só será conseguida se reconhecermos todos aqueles que são pilares edificadores e (ainda) traves-mestras do Serviço Nacional de Saúde.