Com o início da 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), o tema volta a assumir destaque mediático. Mas o essencial, de resto já referido pelas Nações Unidas numa comunicação sobre esta COP28, que é colocar a natureza, as pessoas e as vidas no centro da ação climática, parece ainda distante. E é isso que nos deveria preocupar.

E se é certo que os temas da neutralidade climática, a aposta nas energias renováveis ou a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis vão regressar ao palco das notícias, ser tema de debate, motivar intervenções de especialistas e discussão de politicas, quando se trata das alterações climáticas, a questão da ação continua a ser deixada para segundo plano. Mais do que falar, o que é preciso é agir.

No início deste ano, a Organização Mundial de Saúde alertou para o facto de doenças como a dengue ou chikungunya, até então um problema de apenas alguns, se estarem a espalhar muito para além das fronteiras geográficas que antes confinavam a sua transmissão, fruto de um aquecimento global que parece não ter fim à vista. Agora, metade da população mundial está em risco de as contrair, ou seja, uma em cada duas pessoas. Da mesma forma, o mosquito que transmite o parasita da malária está, também ele, a chegar a zonas que nunca tiveram de combater esta doença, o que aumenta o desafio do seu controlo.

Um estudo publicado no ano passado na revista Nature Climate Change, que teve por base a revisão de várias outras publicações que se debruçaram sobre o estudo de 375 doenças infecciosas, revelava que 218 destas, mais de metade, tinham sido agravadas pelas alterações climáticas. E se alguma coisa a pandemia de Covid-19 nos foi capaz de mostrar foi a clara vulnerabilidade humana às doenças patogénicas, pelo que estes dados deveriam ser motivo de uma profunda reflexão.

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Mas não são apenas as doenças tropicais e as doenças patogénicas que colocam em risco milhares de milhões de pessoas. Também as doenças ditas crónicas, se agravam/descompensam em consequência das alterações climáticas, resultando em aumento de internamentos e consumo de outros cuidados de saúde com piores resultados de saúde e aumento de mortalidade, como o que surge periodicamente associado às cada vez mais frequentes temperaturas extremas, materializadas em  ondas de calor e frentes frias, bem como todos os efeitos nefastos associados à poluição atmosférica, factor de risco para o desenvolvimento de doenças respiratórias, cardiocerebrovasculares, dermatológicas, oculares e vários tipos de cancro. Uma lista seguramente não exaustiva.

É, por isso, urgente adotar ações que visem mitigar as emissões de gases com efeito de estufa. Gases cuja emissão é da responsabilidade de todos, pelo que deve ser também de todos a responsabilidade de a reduzir. É, por isso, preciso continuar a desdobrar as ações de sustentabilidade, não apenas no palco global, onde os acordos são atingidos e as políticas transnacionais decididas, mas também a nível local, onde a implementação de políticas ambientais eficazes tem um impacto direto nas populações e motiva o desenvolvimento de ações das comunidades, das empresas, e de cada um de nós, individualmente.

Todos os esforços contam para atingirmos os resultados desejáveis. Isto pode passar, como tem sido feito por muitas empresas, pela opção por fontes de energia renovável, pela transição para a mobilidade elétrica, por uma gestão sustentável dos recursos naturais ou pela adoção de práticas de economia circular. É esse também o nosso compromisso e nesse sentido a nossa ação, porque em causa está não só a nossa saúde, mas também a das gerações mais jovens. É urgente agir para salvar o futuro.