Vou já avisando que o eventual surgimento de frases como “scnsdkvb ofçdlj c”, “~jdnv j,cxbmz”, ou até “lsaB CKHMCXELQW” será da inteira responsabilidade do sismo de segunda-feira, que não me deixa pregar olho há duas noites. Não por causa do susto com o abalo, mas por ter ficado abalado na sequência do dito. Passo a explicar.
Na segunda-feira à hora do sismo estava a dormir. E o sismo não me acordou. Pelo contrário. O tremelicar, dentro de parâmetros Richter civilizados, até embala. Resultado: sou, desde o início da semana, excluído de qualquer empolgada tertúlia sobre a vasta panóplia de fascinantes experiências vividas durante o sismo: o ver coisas a tremer; o ver algumas coisas a balançar; o ver outras coisas até mesmo a chocalhar. Meu Deus, ver coisas a chocalhar!
Ora, recuso ser de novo ostracizado na partilha de experiências sísmicas. Pelo que agora passo a noite acordado (não como a senhora do clássico de Quim Barreiros, Insónia, que também passa a noite acordada, mas por outros motivos, que ainda assim também implicam movimentos ritmados) à espera de novo sismo que me permita reconstruir – sobre alicerces mais sólidos, como as circunstâncias exigem – a minha vida social.
Sendo que estou a preparar a ocasião estudando os fenómenos sísmicos. Por exemplo, fiquei a saber (enfim, tenho a vaga ideia de ter ouvido que isto seria uma hipotética teoria) que é óptimo existirem estes, digamos, sisminhos, de vez em quando. Porque a cada sisminho a Terra vai libertando, aos poucos, a pressão que tem para lá nos seus interiores. Que não sendo eu, ainda, conhecedor profundo do funcionamento das miudezas planetárias, imagino que se calha a pressão soltar-se num ápice, voltamos todos para 1755. Antes de Cristo.
Ao meditar acerca deste ser, talvez, o único tipo de abanão de que Portugal não precisa, sou abalado pelas palavras de Marques Mendes sobre a campanha eleitoral nos Estados Unidos da América: “Trump despreza a Europa, os democratas têm uma relação construtiva com a Europa”, afiança Mendes. Trump despreza a Europa? A sério? Mas e como é que se materializa esse desprezo? Será, por exemplo, no facto de, no seu mandato, Trump ter mantido mansinho Putin, que com Bush invadiu a Georgia, com Obama invadiu a Crimeia e com Biden/Harris invadiu a Ucrânia?
Antecipando, quiçá precipitadamente, a não resposta do Dr. Marques Mendes, entra em cena o psicólogo, Dr. Dores (nota mental: arranjar um nome artístico para a minha personagem de eminente clínico, que este pode desencorajar futuros clientes). O paciente Marques Mendes está, como é comum dizer-se em psicologia, a projectar. A projecção é um mecanismo de defesa psicológico em que uma pessoa projecta os seus sentimentos indesejáveis noutra pessoa. Resulta então óbvio que o ódio que Marques Mendes diz que Trump tem pela Europa mais não é que ódio do próprio Marques Mendes por Trump. E porquê este ódio? Talvez por Trump exigir aos países europeus que deixem de viver às custas dos EUA em termos de defesa e isso implicar que os governos da Europa disponham de menos dinheirinho para aquilo que os políticos socialistas mais apreciam fazer, comprar votos. Para mais esclarecimentos, há que marcar nova consulta.
Entretanto, atendo a ministra Margarida Balseiro Lopes e o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, que os casos deles são gravíssimos. A ministra respaldou a Direcção-Geral da Saúde e o líder parlamentar respaldou a ministra na defesa do uso pela DGS de “linguagem neutra do ponto de vista do género”, como na frase “pessoas que menstruam”. Ou seja, num segundo, ambos os estadistas foram acometidos por um tipo de amnésia que, em vez de começar com esquecimentos menores, do género “Espera. Mas eu tranquei a porta, ou não?”, arranca logo com um “Espera. Mas eu sou menino, ou menina?”
Sim, a ministra com a pasta da Igualdade decidiu promover a mesma anulando, na prática, a existência das mulheres. Esta casa de banho é para mulheres? Não, é para pessoas que menstruam. Mas esta prisão é para mulheres, certo? Não, não, é para pessoas que menstruam. Tenham paciência, mas as folgas por causa daqueles dias mais difíceis do mês, essas, são mesmo só para mulheres. Negativo, são para pessoas que menstruam. Por falar nisso, acho que já não venho da parte da tarde.
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