Só uma questão: as cuecas azuis que a tradição aconselha vestirem-se na passagem de ano para dar sorte, devem ser despidas exactamente quando? Há jurisprudência sobre isto? Será que devem ser trocadas logo no final de dia 1? Ou devem ficar vestidas três, quatro dias? Talvez uma semana? Pergunto para um amigo, que está com esta dúvida. E que alguns familiares próximos consideram meio porcalhão. Enquanto lamentam a proximidade. Lamentos profundamente exagerados, se me perguntarem a mim.
Numa primeira análise, admito que possa parecer um tema disparatado para abertura de rubrica. Já numa segunda análise, é provável que o assunto se apresente apenas como inusitado. E se forem analisando por aí afora, verão que numa trigésima sétima, trigésima oitava análise, trazer a cueca à colação faz todo o sentido numa crónica eminentemente política.
Basta lembrar quantos grandes estadistas se despediram deste mundo ostentado nada mais que uma modesta cueca. Assim de repente, lembro-me de Saddam Hussein, por exemplo, agarrado por dois militares norte-americanos, envergando tão somente uma cueca branca ornada com duas bandeiras dos Estados Unidos da América. Que um ditador sanguinário pode ir desta para melhor, mas vai repleto de style.
A referência à cueca é tão mais pertinente quanto me fornece a ligação perfeita para mencionar o senhor que deixou o país de tanga. Refiro-me, claro, ao porta voz do Hamas, António Guterres. Depois daquela ocasião em que, para pousar para a Time com água até ao joelho, Guterres arregaçou as calças, desde 7 de Outubro último o Secretário-Geral da ONU arregaçou as mangas e meteu mãos ao trabalho de contribuir decisivamente para o recrudescimento do anti-semitismo por esse mundo fora.
Contributo que não passou despercebido à redacção da Rádio e Televisão de Portugal, que tratou logo de considerar o engenheiro Figura Internacional de 2023. De início confesso que achei uma escolha absolutamente deplorável. Mas quando descobri que em segundo lugar ficou uma viperina cobra cascavel, e que a terceira posição foi conquistada por um calhau de xisto, a coisa até me fez algum sentido. Muito bem, a RTP, portanto.
Principalmente, porque pode ser que António Guterres ande bastante tempo a pavonear este título de Figura Internacional de 2023 enquanto faz figuras tristes nas suas solícitas deslocações ao Qatar, ou à China, e não leia as últimas notícias segundo as quais os cientistas descobriram que a respiração humana é uma fonte importante de emissão de gases de estufa. Assim que o Greto Thunberg descobrir isto vamos passar a funcionar como o trânsito em Nova Deli: um dia respiram os que têm cartão do cidadão com número par, no outro os que têm número ímpar.
Se bem que, agora que penso nisso, o mais provável é esta notícia de que a respiração humana é uma fonte importante de emissão de gases de estufa criar um curto-circuito ao Homem do Pântano. Afinal, da perspectiva do apocalíptico e em ebulição, Guterres, o facto de a própria respiração humana ser uma fonte importante de emissão de gases de estufa faz do suposto genocídio perpetrado por Israel em Gaza um contributo mau, ou bom, para o futuro da Humanidade? Fica a questão que, estou certo, terá resposta pronta, como a dos 6% do PIB.
E a propósito de percentagens, que dizer da sondagem da Aximage de Dezembro que dá uma subida do PS e uma queda do PSD, de que resultam nove (9) pontos de vantagem para os socialistas? Eu digo-vos apenas que o mero facto de ter enunciado estes resultados me vai obrigar a ir, de imediato, mudar a cueca azul.
Siga-me no Facebook (@tiagodoresoproprio) e Instagram (@tiagodoresoproprio)