A propósito da nomeação do Kastelo como um dos finalistas candidatos ao prémio “O Norte somos nós”, que resultará na atribuição de fundos comunitários europeus direcionados para projetos inovadores da região Norte do país, e geridos pela CCDR-N ( Comissão de Coordenação do Desenvolvimento Regional do Norte), neste caso na categoria “Inclusão”, cuja votação está a decorrer online até ao dia 24 de novembro, penso ser pertinente , para quem desconhece descrever sucintamente o que é a Unidade “Kastelo”, abrindo também horizontes para uma reflexão alargada num espírito de cidadania sobre a necessidade vital de espaços como este, que já não é um simples castelo no ar.

Aberto em 24-06-2016, o Kastelo é uma verdadeira fonte de humanismo e expressão concreta de solidariedade.

Foi idealizado por Teresa Fraga, Presidente da Associação “No meio do Nada” – IPSS, que recolheu apoios junto de diversas entidades e conseguiu erguer um castelo onde as crianças portadoras de doenças crónicas graves e as suas famílias podem voltar a sorrir e a sentirem-se pessoas.

Um castelo de sonhos.

Sendo a primeira Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos Pediátricos de Portugal e da Península Ibérica e a quarta a Europa, é um local acolhedor onde se ameniza o pesado sofrimento das famílias e das crianças muito doentes, com necessidade permanente de cuidados de saúde, e para as quais a palavra esperança se desvaneceu subitamente como um castelo de areia engolido por uma maré de azar, no dia em que o diagnóstico de uma patologia incurável dilacerou o coração dos seus pais e retirou parte do brilho do olhar infantil por deixarem de ter a liberdade de serem crianças saudáveis a crescerem despreocupadas.

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Esta Unidade pinta-se de arco-íris , quando as lágrimas da tristeza dos pais cansados de lutar contra a injustiça da doença parasitária que traiu a vivacidade dos seus filhos e os arrastou na sentença da doença sem cura, são atravessadas pelos raios de sol que são os olhos que voltam a brilhar e os risos cristalinos que se espalham no ar, fruto das brincadeiras e da criatividade de seres humanos especiais, que neste espaço mágico ajudam a reforçar o ânimo no seio de famílias exaustas e a serenar a dor das crianças, permitindo-lhes voltar a saborear a palavra alegria.

Os cuidados paliativos pediátricos não podem cair no esquecimento.

Mesmo quando os conhecimentos da Medicina atual esgotam as possibilidades de curar , e os Pediatras se sentem impotentes contra a voracidade de algumas patologias, que aleatoriamente atingem as suas crianças doentes ( poderiam ser os nossos filhos, sobrinhos ou netos…), e lhes cortarão um dia as raízes da vida na Terra, transformando-as em estrelinhas do Céu, ainda há muito por fazer para que essa passagem pela fronteira seja suavizada, minimizando a dor e reconfortando a alma dos meninos doentes e das suas famílias, permitindo que se reacenda a centelha da vida em quem se resignou à mera sobrevivência…

Em vez de castelos no ar, valeria a pena impedir que os castelos na areia que todos nós há muito tempo atrás construímos em longas tardes de verão na nossa infância se desmoronassem pelas marés sem dó de uma qualquer doença ruim implacável, ajudando com gestos solidários a melhorar locais como o Kastelo, verdadeiro castelo de sonhos para estas crianças.

Fundamental seria edificar mais castelos de afetos pelo país inteiro, pois o Kastelo, sediado no Norte do país, apesar de possuir um coração enorme feito de pessoas boas, não é suficiente para acolher todas as crianças portadoras de doenças crónicas muito graves e penosas, espalhadas pelos internamentos dos Serviços de Pediatria dos nossos hospitais, e que não são o local ideal para que germine qualidade de vida nestes meninos e meninas, que também têm direito e merecem serem felizes.

Pediatra