De acordo com um novo estudo da Associação Americana de Psicologia – cujo boletim semanal subscrevo para leitura atenta –, na adolescência, chimpanzés e humanos exibem comportamentos semelhantes. Claro que depois, na idade adulta, os caminhos de símios e humanos se separam de modo irreversível. Daí termos actividades como, por exemplo, a política. Mas atenção. Não quer isto dizer que os humanos também não se desenrasquem bem na idade adulta. Alguns até se revelam capazes de completar tarefas com alguma complexidade. Como filmarem-se para o TikTok a comer colheres de canela em pó em menos de 60 segundos sem beber nada. Para gáudio de outros humanos que fizeram uma pausa entre comer colheres de canela em menos de 60 segundos sem beber nada.
A propósito de humanos que se saem bem, André Ventura saiu da convenção do Chega reconduzido na liderança do partido com uns Saddam Husseinescos 98,3% dos votos. Aliás, confesso ter sido necessária esta vitória de Ventura por margem Kim Jong-uniana para eu, enfim, perceber o porquê do nome “Chega”. Vai-se a ver e a designação do partido não é uma expressão informal de “repreensão”, “censura”, ou “descompostura”. Afinal, é CHEGA: Colectividade Histriónica Estabelecida para Ganhar o André.
Nos antípodas do unanimismo onde reina altivo André Ventura está Carlos Moedas. Pois pudera. Eu se fosse o Marcelo, o Costa, ou especialmente o Medina, também estava pior que estragado. Quer dizer, os três a afiarem o dente, desde 2019, a uma Jornada Mundial da Juventude que redundasse em mais uma jornada nacional de aparecer amiúde à conta da visita do Papa, e eis que Carlos Moedas tem a desfaçatez, primeiro, de ser eleito presidente da Câmara de Lisboa, e, agora, de pedir revisão dos preços e dos projetos da JMJ. Não é assim que vais fazer amigos e influenciar pessoas, Carlos.
Agora, se é para fazer uma revisão à Jornada Mundial da Juventude, parece-me óbvio que é de começar pelas pastilhas de travão. Que a julgar pelo chinfrim que o evento tem causado, os calços já devem estar mesmo a esfregar nos discos. E era giro pôr travão à derrapagem de custos desta brincadeira. Ainda que nem tudo seja más notícias. É ver o caso da correia de distribuição da Jornada Mundial da Juventude. Tendo em conta a suavidade com que os 4,2 milhões do altar-palco foram distribuídos para a Mota Engil, está perfeito, este mecanismo que sincroniza os movimentos de todos estes componentes.
Apesar de tudo, compreende-se a expectativa em torno da Jornada Mundial da Juventude. Não é que se esteja propriamente à espera da segunda vinda de Cristo à Terra só para pontificar no evento, mas a verdade é que ao nível do insólito até já se ultrapassou essa fasquia. Escutem isto. Com a visita do Papa, há apartamentos em Moscavide onde pedem cinco mil euros por uma semana. Moscavide. Cinco mil euros. Uma semana. Para ver o Papa. Eu não estou muito a par dos preços de mercado, confesso, mas tenho ideia de que está mais barato quinze dias na casa do Senhor no Reino dos Céus, que uma semana na casa de uma senhora na Freguesia de Moscavide.
E dizia o Marx que a religião é o ópio do povo. Não percebia mesmo nada de religião, este artista. Nem de povo. Menos ainda do mercado imobiliário. Não, Marx, a religião não é o ópio do povo. O povo deve é ponderar o negócio do ópio, caso queira acompanhar este evento religioso a partir de uma marquise na Portela de Sacavém.
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