Quem quer que se sente na cadeira do poder num país desenvolvido e envelhecido sabe – ou devia saber – que se está a sentar em cima de duas bombas-relógio: o financiamento dos sistemas de saúde e segurança social. Qualquer destas áreas coloca problemas que só vão aumentar, e que aumentarão mais e mais depressa se esse país crescer pouco e estiver muito endividado. É o nosso caso.
Deixemos de lado a segurança social e entendamos uma realidade simples: basta o desenvolvimento da Medicina, a sua crescente sofisticação, para que tudo em saúde se torne mais dispendioso a cada ano que passa. Como a essa realidade se acrescenta uma população cada vez mais envelhecida, o dilema — terrível dilema — que muitos países começam a enfrentar é até onde se justifica levar os tratamentos mais dispendiosos quando estes já não garantem qualidade de vida.
Serve esta breve introdução apenas para sublinhar que boa parte da acalorada discussão ideológica a que temos vindo a assistir nos últimos meses entre o PS e o Bloco de Esquerda por causa das PPP, assim como os esforços de António Costa para demonstrar que vai finalmente fazer uma lei para salvar o SNS da direita tem muito de cortina de fumo. Ou é mesmo só poeira para olhos incautos. O que o Governo sabe, ou devia saber, é que enquanto se mantiver a actual arquitectura do sistema vai continuar a existir um problema de financiamento do SNS e inúmeros problemas de fixação dos seus profissionais mais competentes, tal como também sabe que não há dinheiro para “nacionalizar” – ou mesmo “sovietizar” – todo o sector, como por vezes se parece sugerir.
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