Para os que acompanham as notícias e tendências tecnológicas, o termo deepfake não é de hoje e remonta ao ano de 2017. No entanto, e após os últimos lançamentos em publicidade e streaming, podemos agora olhar para o lado menos assustador que esta tecnologia comporta.

O deepfake é uma técnica de manipulação de vídeos que usa a inteligência artificial. Esta técnica permite criar vídeos que parecem autênticos, substituindo o rosto de uma pessoa pelo de outra. Tudo isto é possível alimentando uma base de dados com imagens e vídeos da pessoa que queremos substituir e, quantos mais dados, mais real a substituição.

Todos os avanços tecnológicos trouxeram consigo uma certa onda de incerteza, medo e resistência. Se recuarmos até ao surgimento do ‘streaming’, seja de música e/ou vídeo, conseguimos ainda sentir o anseio das empresas discográficas, produtoras e artísticas perante a nova tecnologia. Contudo, e apesar da IA já se ter instalado no dia-a-dia de muitos portugueses, o deepfake comporta preocupações acrescidas e muito válidas.

Alterar o rosto de alguém, manipular uma música, discursos, depoimentos, etc., está à distância de muito poucos cliques e, é por isso que esta tecnologia se torna ainda mais ameaçadora. Na era da desinformação, a sua capacidade de disseminar informações falsas, que parecem vir de fontes reais e confiáveis, gerarão com certeza mais desinformação e maiores ondas de manipulação e insegurança.

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É, por isso, imperativo investir em tecnologias de deteção de deepfakes, criação de legislação adequada e ajustada à nova realidade e, claro, apostar na educação do público sobre a tecnologia, para que se fomente o espírito crítico e com isso, se combata também as desinformações resultantes.

Mas, como todas as moedas têm uma segunda face, também esta tecnologia poderá ser vista como uma oportunidade. Ainda que não consensual entre as agências de publicidade e produtoras de vídeo, a deepfake poderá ajudar a criar conteúdos que em outra hora seriam mais difíceis e também dispendiosos, como, por exemplo: simular o envelhecimento de uma pessoa, para uma campanha de sensibilização ou utilizar uma personalidade já falecida num anúncio.

Vejamos o mais recente anúncio da Volkswagen, que reuniu Elis Regina (falecida em 1982) e Maria Rita, sua filha, na mesma publicidade que marca os 70 anos da marca. Para unir as duas cantoras foi usada a tecnologia deepfake e deepdub – criação de rostos e de vozes por IA respetivamente. A esta combinação brilhante entre rosto e voz feita pelas duas tecnologias da IA dá-se pelo nome de GANS – GENERATE ADVERSARIAL NETWORK. Enquanto uma tecnologia é responsável por gerar conteúdo, a outra tem a tarefa de decidir se o conteúdo é real ou falso.

Em suma, temos um anúncio memorável, impactante e cheio de emoção que já se tornou viral e que permanecerá na memória dos consumidores por algum tempo. E se, por um lado, estamos sob ameaça de perder a nossa identidade, por outro, estamos na iminência de quiçá poder voltar ao passado e recuperar memórias. Como, por exemplo, aconteceu no concerto virtual do António variações realizado pela Samsung.

É por isso que vivemos, atualmente, numa dualidade de sentimentos que nos fazem olhar para o futuro com receio, mas também expetativa e certeza de que ainda agora a revolução começou.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.