Esta semana o Governador do Banco de Portugal relançou o debate sobre a productividade na meia-idade, ao sugerir numa intervenção pública que uma solução para o problema de desemprego estrutural na economia Portuguesa seria arranjar formas de “pré-pensionamento” para trabalhadores na casa dos 60 anos com reduzidas qualificações que se encontrem em zonas de “produtividade marginal decrescente”.

Excluindo a inovação linguística, o argumento não é especialmente novo. Na maioria dos países Europeus, os últimos cinquenta anos foram caracterizados pela existência de duas janelas de oportunidade para se reformar, uma idade mínima mais ou menos próxima dos sessenta anos ou um período mínimo de serviço que rondava os 35-40 anos. Isso permitia absorver o emprego jovem em economias onde as taxas de desemprego eram relativamente altas, sobretudo se compararmos com o principal concorrente do outro lado do oceano.

Só que esta estratégia que parece uma solução óbvia no curto prazo para aumentar o emprego jovem tem outras facetas que podem representar um problema no longo prazo. O Economista à Paisana olhou para todos as implicações desta pergunta: “Será bom para a economia incentivar a pré-reforma de uma parte da população acima dos 60 anos com reduzidas qualificações académicas?”

A primeira e mais óbvia contestação a este argumenta consiste no facto amplamente reconhecido pelos economistas que não há almoços grátis. A solução do Governador passa por uma simples transferência do custo desses trabalhadores do sector privado para o sector público, o que iria apenas acrescentar mais peso a um sistema de pensões em grande tensão. O custo dessas reformas antecipadas poderia ser melhor utilizado, mantendo os trabalhadores mais velhos e incentivando as empresas a contratarem os trabalhadores mais jovens e qualificados através de, por exemplo, estágios profissionais… mas não é isso que está a ser feito?

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Segundo, o Governador argumenta que as pessoas com poucas qualificações na casa dos sessenta anos estão numa zona de produtividade marginal descrescente, o que implica que a substituição destas pessoas por trabalhadores mais jovens e mais qualificados conduziria a um aumento de produtividade da economia em geral. Será isto verdade?

À primeira vista, a teoria económica suporta esta teoria dos rendimentos marginais decrescentes, isto é, se todos os outros factores de produção se mantiverem constantes, o aumento de um factor de produção conduz a aumentos do produto cada vez menores. Por exemplo, no caso de uma fábrica, se o tamanho da fábrica e o número de máquinas não aumentarem, o aumento nas horas de trabalho conduz a um aumento sucessivamente menor do produto.

Só que a prática não suporta necessariamente a teoria clássica neste caso específico dos trabalhadores mais velhos. Vários estudos têm demonstrado que a experiência dos trabalhadores mais velhos os torna mais produtivos do que os trabalhadores mais jovens. Para citar apenas um estudo realizado pela Universidade de Manheim, relativo a uma fábrica da Mercedes Benz, os investigadores concluíram que a produtividade dos trabalhadores mais velhos era superior à dos mais novos e argumentavam que poderia ser por os mais novos se aborrecerem mais facilmente no trabalho.

Substituir pessoas mais velhas e pouco qualificadas, cansadas e possivelmente desmotivadas ao fim de vários anos de trabalho, por jovens mais qualificados, inexperientes e possivelmente igualmente desmotivados por estarem a fazer um trabalho abaixo das suas qualificações não parece ser uma receita de sucesso para aumentar a produtividade.

Terceiro, o envelhecimento da população em Portugal e a redução dramática da população activa nos anos da crise sugere que mandar pessoas para casa poderá não ser uma maneira muito eficiente de aumentar o produto para criar emprego. Será razoável imaginar que requalificar as pessoas mais velhas, interessá-las por outros trabalhos dentro das suas empresas, onde podem estar mais motivadas e aproveitar a sua experiência para apoiar os trabalhadores mais jovens poderá dar um contributo maior para aumentar o produto e a produtivdade do país do que simplesmente desistir delas.

Em conclusão, ao contrário do Governador, o Economista à Paisana recomenda que se acarinhe os trabalhadores mais velhos para criar emprego jovem.

O Economista à Paisana é um coluna quinzenal de Inês Domingos onde a autora explora temas do quotidiano vistos da perspectiva de uma economista