A vitória de Lula da Silva nas eleições brasileiras deixa um amargo de boca difícil de digerir para quem se considera democrata. Sempre ouvimos dizer durante a longa experiência de vida democrática, em vários países por esse mundo fora, que em democracia há sempre alternativa. Mas as alternativas que a ainda jovem democracia brasileira produziu para estas eleições são aterradoras.
De um lado Jair Bolsonaro, o ainda Presidente, com um discurso fanático, irresponsável e ameaçador. Do outro lado Lula da Silva, surgindo como o salvador da pátria depois de ter traído milhões de brasileiros quando ocupou o Palácio do Planalto entre 2003 e 2011. Durante esses anos, o agora reeleito Presidente desenvolveu juntamente com o aparelho do Partido dos Trabalhadores uma rede de corrupção que lesou o Brasil em centenas de milhões de euros. O processo Lava Jato ficou para a história do país como uma mancha negra na sua história e reputação internacional.
Dez anos passados, aqui estamos a ouvir o discurso de vítima de Lula da Silva, eleito por sessenta milhões dos mais de cento e cinquenta milhões de brasileiros aptos para votar. Um resultado que pouco se distancia do número de votantes em Bolsonaro, cinquenta e oito milhões, que simplesmente se recusam a admitir que Lula da Silva tenha voltado a ocupar a cadeira do poder.
Horas depois da segunda volta das eleições, espera-se que o processo fique completo sem violência. Mas para quem agora respira de alívio com este resultado, vale a pena pensar que não há mal que esteja a ocorrer por esse mundo fora que não acabe por chegar cá. Particularmente se continuarmos a achar que somos um país de brandos costumes e que estas coisas só acontecem aos outros.
Confesso que quando ouvi Lula da Silva no seu discurso de vitória dizer que renasceu das cinzas e que o tentaram enterrar vivo, sem sequer uma ponta de arrependimento pelo que fez ao Brasil no passado, veio-me à memória o discurso batido do nosso antigo Primeiro-ministro José Sócrates. De resto, amigo e apoiante de Lula da Silva.
Espero não vir um dia a escrever sobre o triste caso português. Mas a verdade é que as eleições brasileiras me deixam preocupada com a hipótese de um dia em Portugal nos vermos confrontados com a escolha impossível entre André Ventura e José Sócrates.
Aos políticos que estão no ativo deixo o apelo para que não permitam que a nossa democracia se degrade tanto ao ponto de um dia termos de fazer uma escolha em Portugal semelhante à que os brasileiros tiveram de fazer por estes dias. Por favor, não nos deixem sem alternativa!