Mais umas eleições disputadas e os resultados voltaram a desmentir as sondagens. Começa a tornar-se um assunto sério e perigoso, não tanto pelo erro técnico ditado pelas urnas, mas porque um instrumento que devia obedecer a um método científico, afinal não acerta uma. Nas eleições no Brasil deste fim de semana voltou a repetir-se o fiasco.

Não sou especialista na matéria, mas sou eleitora e, como toda a gente, sou influenciada por sondagens. O que mais este fracasso estrondoso das sondagens demonstra é que estas pesquisas não só deixaram de ter qualquer credibilidade, como podem a partir de agora ser lidas ao contrário. O que parece é que estes estudos servem cada vez mais para exprimir a vontade da opinião publicada e não a intenção de voto do eleitorado.

Não foi por acaso que, nos últimos dias antes das eleições, as sondagens começaram a coincidir com a mensagem dos comentadores: é preciso resolver tudo à primeira volta. Ato contínuo, as sondagens começaram a indicar que Lula tinha altas probabilidades de ganhar à primeira volta.

Começa a ser um hábito, acordar no dia seguinte a atos eleitorais determinantes com uma enorme surpresa e um resultado completamente diferente do esperado. Em Portugal, há um ano, acordámos com uma maioria absoluta depois de semanas em cenário de empate técnico. Antes disso, já tínhamos acordado com a enorme surpresa da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e os britânicos a decidirem-se pela saída da União Europeia.

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Cada vez mais povos estão a decidir caminhos extremistas e de rutura depois de décadas de decisões moderadas. E esta decisão popular é impercetível a quem tem por missão analisar a atualidade e a quem deve medir essas mudanças de tendência. Será que isto é alheio à posição pessoal de analistas e técnicos de sondagens?

O que a primeira volta das eleições brasileiras nos prova mais uma vez é que esta forma de analistas e empresas de sondagens acompanharem eleições está a tornar-se uma arma poderosa para os novos protagonistas da política. Na campanha que hoje recomeça no Brasil, não tenho dúvidas de que Bolsonaro vai acusar toda a opinião publicada de estar a tomar partido nas eleições. Não podemos dizer que é mentira e este argumento terá o seu peso junto do eleitorado brasileiro.

A comunicação social e o jornalismo fazem muita falta à democracia, mas para que isso seja verdade é muito importante que não abdiquem de cumprir o seu papel. Jornalismo não é propaganda, mas nos últimos tempos, em cada vez mais lugares no mundo, é o que parece, e está à vista que os eleitores não gostam do que vêm e ouvem.