Há muitos contra, muitos a favor e muitos que não entendem. Apesar disso, uma coisa é certa: ninguém consegue mudar o facto de que a inteligência artificial (IA) veio para ficar.

Mesmo com todos os benefícios e facilidades que esta inovação traz para as nossas vidas, há uma questão relevante que a IA traz para a mesa –  como distinguimos seres humanos de bots na esfera digital?

Por mais que o robô humanoide Sophia tenha sido desenhado para replicar o aspecto e comportamento humanos, sempre foi possível distinguir a olho nu, e sem qualquer dificuldade, quem é humano. Isto porque, até agora, todos os progressos e tecnologias conquistados pela humanidade eram materializados, palpáveis e visíveis. Quando nasceu a internet, ninguém imaginou que se ia abrir a porta para uma realidade paralela, um novo sentido de comunidade e partilha e interconectividade entre pessoas de vários contextos, geografias e ideologias.

Ainda que o progresso tecnológico seja inevitável e uma ferramenta poderosíssima para a humanidade, temos de considerar que no caso das tecnologias emergentes há, sem exceção, um reverso da moeda do qual nos devemos acautelar. No caso da IA, são os bots. Mas, antes de começar a pensar nos problemas que os bots causam no dia-a-dia, e até na esfera política, não nos podemos esquecer que da mesma maneira que não são reais, não lhes podemos atribuir personalidade e características humanas, nem considerá-los “maus” ou “bons”. Contrariamente ao que os filmes de Hollywood nos levam a crer, as inovações tecnológicas não estão aqui para dominar o mundo e exterminar a raça humana.

Em 1950, dizia a teoria de Turing que se uma pessoa conversar com uma máquina por cinco minutos sem perceber que não é humana, a máquina passa no teste, fazendo-se passar por uma pessoa real. Ora, estamos em 2024 e já é quase impossível saber se o que estamos a ler é escrito pela mão humana, visto que o conteúdo gerado pela inteligência artificial já ultrapassa o humano em várias áreas de nicho. A mestria que a IA tem vindo a adquirir sobre a linguagem faz com que meras mensagens não sejam suficientes para comprovar a humanidade. Agora, temos modelos que programam a IA para imitar, na perfeição, o comportamento humano e interações sociais.

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Em termos práticos, porque é que isto se torna um problema? Na verdade, já há algum tempo que os bots são usados nas redes sociais em campanhas de manipulação de conteúdos e disseminação de fake news – através da promoção de histórias ou informações de forma estruturada, para impulsionar um ponto de vista ou agenda. Atualmente, os bots que não passam no teste Turing estão muito perto de o fazer. Por outro lado, a propagação de deep fakes que tem assolado a web é a confirmação que nem uma foto ou vídeo do que parece ser uma pessoa real, que estamos a ver com os nossos próprios olhos, é confiável. Esta mudança de paradigma leva o ser humano a ter de justificar o que nunca justificou antes – a sua humanidade.

A prova de humanidade pode parecer algo secundário à partida, pelo que é importante lembrarmo-nos que agora existimos em duas realidades –  a física e a digital – com tendência a ficarem cada vez mais interligadas. Neste sentido, ferramentas que provem a humanidade no mundo digital são essenciais e, até, inevitáveis para proteger as pessoas neste novo capítulo da história da tecnologia. A defesa conhecida como Proof of Personhood (PoP) tem vindo a ser implementada para este efeito. No entanto, para não cair no erro, é necessária uma estrutura que promova a privacidade, a inclusão e a descentralização e que beneficie e proteja os indivíduos.

A era da inteligência artificial já começou e não há como voltar atrás – só nos resta estarmos preparados para esta nova fase. A justiça online e a distinção da autoria de conteúdos online entre seres humanos e bots são necessárias para proteger a sociedade e a credibilidade das instituições. Carregar na caixa que diz “Não sou um robô”, descodificar letras ou identificar qual das imagens é uma bicicleta são, agora, meras formalidades. Hoje em dia, a humanidade tem de acompanhar o progresso para se defender das máquinas – e a pergunta que devemos fazer é: “És real?”