No passado dia 10 de junho, a luta dos professores não teve o seu dia mais feliz, que terá consequências contraproducentes para a luta por melhores condições na carreira. Encurralar o Primeiro-Ministro enquanto eram exibidos cartazes que o caricaturavam como um porco preto mutilado ao mesmo tempo que lhe dirigiam insultos racistas não foram boas ideias. Foi uma indecência.

O Primeiro-Ministro escolheu não ignorar a ofensa, a violência, a agressão, o racismo e reagiu com indignação. Fez bem! Às vezes é preciso dizer basta.

A gravidade da agressão acabou por remeter para segundo plano o diálogo entre António Costa e uma professora, a quem o Primeiro-Ministro explicava porque entendia ser injusta a luta dos professores, na medida em foi o seu governo que descongelou as carreiras dos professores, há muito congeladas.

Mas estarão os Professores mesmo a ser injustos com o governo que lhes descongelou as carreiras, em 2018?

O problema da educação não é de hoje, nem de ontem, sendo urgente e necessário encontrar um consenso entre todas as partes para desenvolver uma escola pública do século XXI.

A luta por uma escola deste século não pode recorrer a personagens e a figuras que são tudo menos sinónimo de luz e esperança, mas sim de ressentimento e pouca vontade de solução.

Compreende-se a angústia dos professores que viram as carreiras estagnadas e, por isso, os rendimentos parados; que não conseguem vincular-se a uma escola e andam de terra em terra, longe da família e sem ganhar o suficiente para suportar as rendas que todos os anos aumentam; que ano após ano vão sendo mantidos em situações de trabalho precário que lhes arrastam a incerteza sobre o futuro. No entanto, a insistência em continuarem a ser uma classe fechada, com uma postura ultra-ofendida, que marcha ao ritmo de tambores proletários, dificilmente contribuirá para o apaziguamento da tensão em que vivemos e para tornar mais flexível o rígido Ministro João Costa.

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Não é com o radicalismo messiânico do líder do STOP ou a insistência já gasta da “Raposa Velha” da FENPROF, que não tem memória de um Ministro da Educação competente nem, arrisco dizer, de uma sala de aula que se conseguirá construir uma solução.

Greves selvagens às aulas, aos exames e às avaliações são desproporcionais. Os efeitos que causam nos estudantes e nas suas famílias são infinitamente mais devastadores do que o benefício que delas pode resultar para os professores e para as escolas. É à luz dessa desproporção se compreende que o Primeiro-Ministro que descongelou as carreiras docentes considere a luta dos professores injusta.

A luta dos professores tem sido radical no modo e nas consequências, tendo atingido o pico de violência no dia de Portugal. Nesse dia, os professores agravaram a sua reputação na sociedade portuguesa e, ao contrário do que muitos pensam, esse dano reputacional não foi orquestrado nem desenhado por governo algum, mas ficou a dever-se exclusivamente ao arrastra da luta sindical para o lamaçal da bolha mediática e pelo infeliz comportamento tribal de uma minoria, que infelizmente mancha o bom nome de muitos grandes homens e mulheres que têm um sincero amor à arte de ensinar, e que só desejam ter direito à estabilidade e à carreira que merecem

O fim da angústia e tristeza de muitos professores que acreditam na escola e querem melhorá-la implica o fim do caminho da hostilização. Os professores têm de compreender isso, mas o governo também. O Ministro da Educação pode agora escolher um caminho de sinceridade e de gratidão, um caminho sem medo de assumir erros, designadamente a complicação em que se tornaram os concursos de acesso à profissão, mas também a extensão dos programas. Um caminho que reconheça o papel e a importância que estes homens e mulheres têm no futuro do nosso país – são eles os “arquitetos” do futuro da nossa economia, do nosso poder político e da nossa sociedade.

Senhor Ministro, ouça o país, ouça os professores. Senhores Professores, compreendam a necessidade de optar por novos protagonistas. Protagonistas deste século, com uma vontade verdadeira de melhorar as condições da educação portuguesa.

É tempo de fazer um pacto com o futuro.