Há 100 anos assistimos a uma das maiores revoluções ocorridas na área da saúde, a descoberta da insulina. Considerada uma das mais importantes inovações da ciência no século XX, ditou uma das mudanças mais impactantes e que veio revolucionar positivamente a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Esta descoberta foi justamente premiada com o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina em 1923, atribuído a Frederick Grant Banting e John James Rickard Macleod.

As várias insulinas disponíveis possibilitam que as pessoas com diabetes tenham uma melhor qualidade de vida, em muito casos uma vida tão “saudável” como alguém que não tem diabetes. Antes da insulina estar disponível, receber o diagnóstico de diabetes tipo 1 (doentes incapazes de produzir insulina suficiente para suprir as necessidades do seu organismo) era equivalente a receber uma sentença de morte. Devido às suas múltiplas implicações, a diabetes continua a ser uma doença que não pode ser descurada.

Hoje, existem mais de 463 milhões de adultos em todo o mundo que vivem com diabetes, e mais de um milhão só em Portugal.  Até à emergência da pandemia da Covid-19, aquela foi uma das áreas prioritárias do Governo, implementando uma estratégica com vista a melhorar as respostas existentes no nosso sistema de saúde. Esta importância resulta do facto de se saber que uma grande percentagem dos doentes não tem a sua diabetes diagnosticada e, simultaneamente, apenas cerca de metade das pessoas no mundo que vivem com diabetes consegue controlar convenientemente a sua doença. Existe, assim, um potencial de ganhos em saúde e de poupança de recursos, não só através de estratégias que se foquem na prevenção da diabetes tipo 2 (situações em que a produção de insulina existe, mas é insuficiente ou existe resistência do nosso organismo à utilização da mesma), mas também na melhoria da gestão e controle da doença, evitando os custos com urgências, hospitalizações e terapêuticas daí resultantes.

De acordo com o último Relatório do Programa Nacional para a Diabetes 2019, a despesa direta identificada em Portugal com pessoas com diabetes está avaliada em 740,7 milhões de euros. A maior fatia desta despesa, cerca de 346 milhões de euros, diz respeito aos custos dos internamentos que têm a diabetes como diagnóstico associado. Sendo expectável que devido à atual pandemia, e apesar do esforço incansável dos médicos e outros profissionais de saúde em acompanharem o mais possível os seus doentes, estes números possam agravar-se nos próximos anos e exista uma ainda maior despesa relacionada com as complicações da doença. É, por isso, necessário continuar a investir, possibilitando melhorias através da implementação de novas políticas públicas e, ao mesmo tempo, trazer mais e melhores soluções terapêuticas para ajudar as pessoas que vivem com diabetes.

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Ao longo dos anos surgiram várias soluções inovadoras para o tratamento da diabetes, adaptadas às necessidades e particularidades dos doentes. Atualmente, vários tipos de insulina e outras terapêuticas injetáveis contribuem para a melhoria de diversas comorbilidades dos doentes, como são os casos das doenças cardiovasculares, renais e oftalmológicas. As descobertas na área da diabetes multiplicam-se e hoje estudam-se novos medicamentos que ajudarão os doentes a gerir melhor os episódios de hipoglicemia (complicação grave e potencialmente fatal), soluções mais fáceis de administrar e que, por isso, possibilitarão que os doentes e suas famílias/amigos tenham vidas mais descansadas. Também, no que respeita à insulina, evoluiu muito a sua administração, que é hoje realizada em dispositivos como canetas e sistemas de perfusão contínua, cada vez mais pequenos, eficazes e autónomos, permitindo uma maior facilidade na sua aplicação e assim contribuindo para que aos doentes tenham uma melhor qualidade de vida.

Estas conquistas, conseguidas no decorrer de várias décadas, e, particularmente, os esforços que têm sido feitos em Portugal com o trabalho e investimento conjunto de diversas entidades na área da saúde, dão-nos esperança num futuro ainda melhor para os doentes com diabetes.

Os progressos na descoberta e reinvenção da insulina tornam-se especialmente importantes de relembrar, numa altura em que não só se assinala o centenário da sua descoberta, como também assistimos a um novo desafio de saúde, que nos obriga a refletir sobre a importância de continuarmos a inovar para dar resposta aos doentes Covid-19 mas também, a não descurarmos todos os cuidados de diagnóstico e tratamento dos Doentes não Covid-19.

Com a descoberta da insulina começámos a melhorar respostas para a diabetes. Podemos retirar daqui aprendizagens para a pandemia da Covid-19?

A aposta na inovação determina o desenvolvimento da Ciência e é fulcral para promover o conhecimento, que permite a evolução das sociedades. Este caminho, centrado na procura de impacto positivo na vida das pessoas, mostrou-nos que em alturas de grandes desafios, sempre fomos capazes de encontrar novas respostas. Nunca as inovações na saúde aconteceram com tanta rapidez e foram tão colaborativas como hoje. Esta resposta, em tempo recorde, só está a ser possível graças à estreita colaboração e sentido de responsabilidade com que todas as entidades e pessoas singulares encaram o vírus SARS-CoV-2. Há que realçar o facto de, também a indústria farmacêutica ter contribuído e assumido as suas responsabilidades desde o início, assegurando que os medicamentos continuassem a chegar aos doentes que deles necessitavam e, em paralelo, a investigar mais, desenvolver mais e produzir soluções que ajudem a debelar a atual pandemia Covid-19.

Só existe verdadeira inovação quando esta chega às pessoas. Nunca esta frase teve tanto sentido como nos nossos dias. Mesmo admitindo que, quer as vacinas, quer os tratamentos inovadores na prevenção e tratamento da Covid-19, vão chegar faseadamente ao nosso país, vai ser importante quebrar tabus ideológicos e desenvolver planos robustos e inovadores para a sua distribuição e administração a milhões de pessoas (ex. da vacina). Temos que envolver os diversos parceiros e comunicar bem a estratégia que venha a ser adotada, estes pontos vão ser fundamentais para que a população melhor os entenda e colabore.

Quer há 100 anos, no caso da diabetes, quer nos dias de hoje, com a nova pandemia, os desafios resolvem-se mais facilmente quando se constroem pontes entre as várias entidades envolvidas. Não querendo ser exaustivo: os doentes, o Estado, os profissionais de saúde, as farmácias, os hospitais, a indústria farmacêutica e a sociedade civil. Todos irão ter a sua quota parte de responsabilidade.

Confrontamo-nos hoje com uma ideia fundamental pela qual sempre nos regemos, mas sem lhe darmos a devida atenção: sem Saúde não há Economia! No entanto, uma vez que o inverso também tende a ser verdade… a solução assentará no difícil, mas necessário equilíbrio entre estes dois pilares. A economia e a saúde andam de mãos dadas!