O que se passa na Grécia permite retirar lições importantes para Portugal, sobretudo em ano de eleições. Em primeiro lugar, o desastre grego matou a possibilidade do PS, no caso de ganhar as eleições, fazer coligações à esquerda. Como é óbvio, os “Syrizas portugueses” (PCP, Bloco de Esquerda e Livre) não podem ir para o governo. Se alguém tinha dúvidas sobre isso, os acontecimentos na Grécia encarregaram-se de acabar com as ilusões de alguns socialistas. A coligação PSD-CDS deve aliás obrigar o PS a dizer que afasta o cenário de alianças políticas à esquerda. Ou a assumir perante os portugueses que estará disposto a fazer um governo de maioria absoluta com os “Syrizas” de Portugal.

O PS fica assim com um enorme problema para resolver. Será quase impossível alcançar uma maioria absoluta e afastou a possibilidade de uma coligação à direita. Resta-lhe apenas fazer um governo minoritário. Provocaria instabilidade política e terminaria com a recuperação económica.

A impossibilidade de coligação com os “Syrizas portugueses” estende-se às eleições presidenciais. O apoio do PS a Sampaio da Nóvoa constitui uma aliança entre os socialistas e um “candidato Syriza”. Sampaio da Nóvoa olha para o Euro e a União Europeia do mesmo modo que Tsipras, o Bloco de Esquerda e o Livre. Foi de resto muito claro quando deu a entender que gostaria de ver uma grande coligação de esquerda a governar o país. Seria uma enorme irresponsabilidade eleger em Portugal um “Presidente Syriza”. E há uma grande diferença entre a candidatura de Mário Soares em 1985 e a candidatura de Sampaio da Nóvoa em 2015. Há trinta anos, o PS impôs o seu candidato ao PCP. Trinta anos mais tarde, a extrema-esquerda está a impor o seu candidato ao PS.

A segunda lição refere-se aos perigos das mentiras que resultam da radicalização ideológica. Uma das interpretações dominantes na política portuguesa é a seguinte: António Costa tem que fazer um discurso para a sua esquerda e tem que fazer certas promessas para ganhar as eleições, mas depois, instalado em São Bento, irá mudar. Puro engano. E é indiferente se Costa sabe, cinicamente, que uma coisa é a campanha e outra bem diferente é o governo, ou se será forçado a mudar. Quando a economia cresce e a maioria das pessoas anda relativamente satisfeita, o incumprimento das promessas eleitorais acaba por ser perdoado. Em tempos de crise económica e de maior radicalismo ideológico não será assim. O escrutínio de quem sofre e de quem se radicalizou é muito maior do que a atenção dos moderados e dos satisfeitos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quantas vezes, durante as últimas semanas de negociações com a União Europeia e o FMI, terá Tsipras desejado não ter feito as promessas que fez e não ter dito as mentiras que disse para conquistar os votos dos grupos mais radicais? A incapacidade de se afastar dos compromissos que resultaram de promessas falsas poderá colocar a Grécia fora do Euro. Costa está a ir pelo mesmo caminho. Espalha promessas falsas por cada cidade e vila que visita, procurando pelo caminho mobilizar as energias dos sectores radicalizados do PS e atrair os radicais de outras famílias políticas. Está a colocar em causa a sua capacidade de tomar as decisões necessárias, para Portugal continuar no Euro, se um dia for PM.

A última lição grega refere-se à “austeridade”. A Grécia está a demonstrar que a política do governo português constitui a melhor maneira de acabar com a “austeridade”. A tentativa de fazer o oposto apenas provoca mais “austeridade”, como os gregos já estão a perceber. Em Portugal, o voto contra a “austeridade” é o voto no atual governo. Para muitos, o que digo pode parecer uma contradição.

Mas não é. O problema está no uso da palavra “austeridade”. Só mesmo quem acredita na possibilidade de viver do dinheiro dos outros é que poderia chamar “austeridade” ao esforço de ajustamento entre as despesas e as receitas. Em Portugal não houve “austeridade”. O que aconteceu foi o fim da ilusão e o encontro com a realidade. O governo grego e o PS continuam a rejeitar a realidade. Se os portugueses aprenderam durante os últimos quatro anos que a ilusão é muito mais cara do que a realidade, este governo será reeleito.

N.R. Este artigo foi erradamente publicado com o nome de José Manuel Fernandes, sendo na realidade de João Marques de Almeida. As nossas desculpas ao autor, mas também aos leitores.