Isto já não é uma pandemia. Isto é uma montanha-russa de emoções. E de infecções, também. Não me admira nada se, por estes dias, a maioria dos portugueses andar a sentir fortes náuseas. Os solavancos bruscos de passar, num ápice, de melhor do mundo a pior do mundo e de novo a melhor do mundo dão a volta ao estômago a qualquer um. Em Abril do ano transacto, o Presidente da República afiançava sermos os melhores do mundo no combate à COVID. Este Janeiro, a realidade afiançou sermos os piores do mundo no combate à COVID. Chegados a Fevereiro, vem o virologista Pedro Simas afiançar que a redução abrupta de novos contágios poderá fazer de Portugal “um dos melhores do mundo a controlar a terceira vaga da pandemia”. É muita volta, reviravolta e reviraviravolta. Ou será reviravoltavolta? Adiante. Além de faltarem vacinas para a COVID, também já há de certeza ruptura de stock de Vomidrine nas farmácias.

Pela amostra acima, dá ideia que somos óptimos a combater vagas de pandemia ímpares e péssimos a combater vagas depandemia pares. Daí termos sido os melhores do mundo na primeira vaga e estarmos, de acordo com o supracitado especialista, a caminho de idêntico registo na terceira vaga. Enquanto na segunda vaga caímos que nem tordos. Ora, tendo em conta a evolução dos contágios, e de acordo com as minhas estimativas, na 15ª vaga da pandemia derrotaremos, em definitivo, a COVID. Admitindo que sobra alguém depois de 14ª vaga, claro.

A sobrar alguém, espero que sobre o virologista Pedro Simas. Pelo que me foi dado ver, não terá havido outro renomado especialista com a desfaçatez e/ou idiotice suficientes para vir celebrar o eventual estupendo desempenho de Portugal na terceira vaga da COVID, para mais quando o efectivo desastroso desempenho de Portugal na segunda vaga da COVID ainda está mais fresco que uma vacina da Pfizer. Para termos noção do nível de descaramento e/ou parvoíce necessários para alcançar este desiderato, bastará dizer que nem o próprio Marcelo Rebelo de Sousa se atreveu a fazer tal prognóstico, depois da coisa lhe ter corrido tão bem na primeira vaga.

A fazer fé neste comportamento bipolar nas várias vagas da pandemia, Portugal seria uma espécie de Dr. Jekyll e Mr. Hyde da COVID. Com algumas diferenças face às personagens da obra de Stevenson, ainda assim. O nosso Dr. Jekyll seria um médico do Santa Maria, que não vai à cama há três semanas, porque ainda há uma fila de 27 ambulâncias à porta do hospital. E o nosso Mr. Hyde seria um idoso de 83 anos, que ficou de cabeça perdida depois de ter sido ultrapassado na fila para a vacina da COVID pela presidente na Câmara de Portimão, Isilda Gomes, a – nas palavras da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que repudio veementemente! – “gorda fura filas”.

Felizmente, estão por cá os militares alemães a ajudar os médicos e enfermeiros portugueses. Se bem que essa é a parte menos significativa da ajuda germânica, pois os militares teutónicos são responsáveis por apenas oito camas de cuidados intensivos. De quem os militares alemães parecem ter vindo em auxílio é, isso sim, do comatoso Governo português. De acordo com o Expresso, “O coordenador da equipa alemã, Jens-Peter Evers, […] reservou palavras elogiosas para Portugal […] E disse que está certo de que Portugal não fez «nada de errado» para chegar a este ponto de saturação – a questão é mesmo tratar-se de «um vírus novo» – e que esta não é altura de olhar para os números”. Dir-se-ia que é óbvio ter sido o Governo português a encomendar a vinda dos alemães, tendo recebido, de brinde com a encomenda, este pack de elogios destrambelhados. Por outro lado, este senhor, Jens-Peter Evers, é alemão e não gosta cá de perder tempo a olhar para números. Vai-se a ver e, afinal, talvez tenha é sido corrido da Alemanha pelos seus próprios compatriotas.

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